Muitas vezes se lamenta, nesta era de SMSs e Twitter, que as pessoas -especialmente os mais jovens- perderam a arte de soletrar e escrever mais do que 140 caracteres.
Mas isso não significa que elas perderam a capacidade de transmitir suas mensagens.
Simplesmente, estão fazendo isso de maneiras cada vez mais diferentes.
Veja os “emojis”, aquelas carinhas sorridentes, aqueles gestos e aquelas pequenas criaturas que se tornaram uma forma de expressão tão popular.
Usamos o Y[coração]NY desde que o popular logotipo turístico de Nova York foi lançado em 1977, mas hoje em dia também podemos mandar um polegar levantado, uma piscadela, um sorriso ou mesmo uma lágrima com apenas um toque do dedo.
Esses símbolos são tão usados que há pedidos para que se criem mais opções, como se fosse uma expansão do vocabulário.
No jornal “The New York Times”, Damon Darlin escreveu que, como os emojis são uma invenção japonesa, eles retratam sensibilidades daquela cultura que não se traduzem necessariamente para o modo de vida americano. “Existe muita coisa que não consigo expressar porque não existem símbolos”, escreveu.
Um caso clássico é o “unchi-kun”, o “emoji do cocô sorridente”, que parece um tanto estranho aos olhos ocidentais. Mas o personagem “aparece há décadas em comerciais japoneses, como brinquedos de pelúcia em quartos de crianças e até como doces”, escreveu Darlin.
Seriam mais úteis nos EUA, ele sugeriu, coisas parecidas com o sinal de boa sorte com os dedos cruzados, um dedo médio levantado menos amistoso para expressar o contrário e talvez uma camionete para acrescentar aos símbolos de transporte público.
Também houve pedidos de símbolos mais diversificados culturalmente, e a Apple respondeu acrescentando cerca de 300 novos emojis, incluindo uma variedade de tons de pele, a seu novo sistema operacional.
Percepção humana
Como se tudo isso não bastasse, até os símbolos tradicionais do teclado adquiriram novo significado. Pode ser difícil transmitir um tom de voz em uma mensagem de texto silenciosa, por isso reforçamos o clima com pontos de exclamação. (Funciona!!!)
“Hoje em dia, é como se nossa pontuação usasse esteroides”, escreveu Jessica Bennett no “NYT”.
Se amigos respondem a uma mensagem de texto com uma pergunta, mas sem ponto de interrogação, parece frio, escreveu ela.
E o mesmo se poderia dizer dos pontos de exclamação: “Quando minhas amigas não usam um!, eu penso ‘Há algo de errado? Você está bem?'”, disse Jordana Narin, estudante de 19 anos de Nova York.
Tais práticas tornaram-se uma maneira de as pessoas transmitirem suas vozes individuais: algumas preferem reticências, outras gostam de travessões ou parênteses.
Também poderia ser uma maneira de se manter um passo à frente da concorrência: o computador como escriba.
“Porque hoje em dia uma quantidade chocante do que lemos não é criada por humanos, mas por algoritmos de computador”, escreveu Shelley Podolny.
Relatórios financeiros, artigos sobre esportes e merchandising tornaram-se o reino do texto gerado por computador. O “Los Angeles Times”, por exemplo, usa algoritmos em suas reportagens sobre homicídios.
O que se perde, é claro, é a percepção humana. Isto poderia ter sido escrito por uma máquina?
Você não notaria a diferença?? Espero que sim!!!
***
Tess Felder, do New York Times