Dever de uma imprensa vigilante ou fetichismo? Fato é que, durante dez dias
— seis na Base Naval de Aratu, em Salvador (BA), e quatro no Forte dos
Andradas, em Guarujá (SP) —, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou
incomunicável. Ao menos, aos repórteres destacados para a cobertura de suas
férias anuais.
À exceção de momentos criativos, como entrevistas com pescadores
guarujaenses privados de buscar seu sustento enquanto Lula frequentava as
águas onde costumam trabalhar, nada de novo debaixo do sol: raras fotos a
distância do presidente e, como em todas as outras vezes, nenhuma declaração
presidencial.
Tal cobertura é sempre frustrada e frustrante. Fui destacado para essa
missão uma vez, no Carnaval de 2007, quando Lula passou aquele feriado
prolongado no Forte dos Andradas; no dia em que foi embora, não deu para
saber em qual dos carros oficiais da comitiva presidencial deixou a unidade.
Nem entrevista, nem adeus.
Desta vez, a chegada do presidente e da primeira-dama, Marisa Letícia, a
Guarujá serviu aos atentos repórteres como demonstração do quanto se passa
sob seus narizes sem que percebam. Foi preciso confirmar com o Palácio do
Planalto a que horas apareceram no forte, na quarta-feira (6/1). Mesmo ali,
antecipadamente a postos, nenhum dos jornalistas viu por onde veio o casal.
E, se restavam dúvidas quanto às razões que levam Lula a se isolar em
fortificações militares, deu-se a prova na quinta-feira (7/1). Os
repórteres-fotográficos Marcelo Justo (Folha de S. Paulo, competente
profissional quem trabalhei nos jornais Diário do Litoral e A Tribuna,
ambos de Santos, SP) e Paulo Pinto (O Estado de S. Paulo) foram detidos
por oficiais da Marinha. Ordens do Gabinete de Segurança Institucional da
Presidência, disseram-lhes.
Basta ver as manchetes
Tais motivos levam a crer que a cobertura jornalística das férias
presidenciais mais se assemelha à tentativa de saciar curiosidade (de quem?)
do que de produzir material político. Um inútil emprego de esforços que tira
repórteres da escala do cotidiano — e que fazem muita falta às enxutas redações dos veículos de comunicação de hoje.
Este é o último dos oito anos de Lula enquanto presidente da República. Não
sei se seria um gancho sustentável para justificar o acompanhamento de suas
férias. Também ignoro onde teriam passado o Ano Novo dois badalados
presidenciáveis: a ministra da Casa Civil Dilma Rousseff (PT) e o
governador de São Paulo, José Serra (PSDB).
Aliás, a quem interessa saber onde e como Lula, Dilma e Serra (e incontáveis
outros) passaram os poucos dias em que podem viver como gente sem mandato?
Exceto por catástrofes que justificassem sua presença, eles não foram
notícia na passagem do ano. Basta ver as manchetes dos jornais nacionais dos
últimos dias.
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Repórter do jornal A Tribuna, de Santos (SP)