Fragmentos de mentes entediadas vão para o Twitter, o correio eletrônico dispara preces e correntes em favor de quem está na pior, o Orkut faz circular a falta do que falar, fotos comuns que parecem vir de concursos estudantis ganham a primeira capa de jornais da capital, pautas de jornais diários baseiam-se em notícias sobre sol e mar, apesar de estarem com repórteres baseados na região mais pobre do Rio Grande do Sul, o Litoral Norte.
Alguma explicação? Apenas a simples descoberta de que vemos o vazio da decadente intelectualidade gaúcha que se digladia diariamente numa disputa de egos. ‘O que é memória contra o talento puro? Eu sou o talentoso’, afirma o presunçoso que já saturou meio mundo.
Isso não é desabafo de um recalcado. Garanto que centenas de gaúchos querem escrever a mesma coisa. Quando a comunicação, a notícia, nos satura é sinal de que ela não é tratativa nem se mostra importante.
Nesta primeira década do século 21, vimos o jornalismo ficando como um servidor do marketing. As tentativas de criar algo novo no jornal, rádio e televisão foram apenas maneiras de dar uns retoques no cenário, mas no fim das contas foram apenas voltas no eterno círculo das mesmas coisas que se quer como relevantes: a venda de carros, eletrodomésticos e produtos eletrônicos para as classes média e alta e o surgimento do poder de consumo da classe C – um nicho importante para importantes setores do comércio e indústria.
Leitor não é mico amestrado
No resto do Brasil a situação não é tão diferente. Aqui nas paragens gaúchas há uma sensação de déjà vu na imprensa em geral. Do ponto de vista sociológico, aponto o conservadorismo das classes dirigentes – a política e a empresarial. Claro que a situação econômica das grandes empresas de comunicação, com suas fortes ações de contenção de despesa, dificulta a melhora do jornalismo. Esta estratégia de elevação do lucro às custas de despesas com pessoal, diárias, horas-extras e equipamentos é ardilosamente escondida do público, sob pena de revelar um lado perverso das corporações. É preciso dar um colorido social ao balanço forçosamente azul da empresa, nem que seja apertando o garrote sobre os funcionários.
Voltando às primeiras linhas deste artigo, a mesmice do uso da internet também se revela na imprensa tradicional ao usar a rede mundial de computadores. São as mesmas estratégias, apenas sob roupagens diferentes e uma entediante leitura. Este início de século 21 está mesmo a exigir uma reforma geral – no jornalismo, na publicidade, nas relações com o público em geral. Ainda há gente que pensa que o leitor, o ouvinte ou o telespectador é um mico amestrado.
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Jornalista e funcionário público, Osório, RS