Mais do que um encontro e uma discussão acadêmica, a Cátedra Latino-Americana de Comunicação, Democracia e Cidadania, realizada de 1º a 3 de março na Universidade Federal da Integração Latino-Americana, a Unila, em Foz do Iguaçu (PR), foi um importante marco para pensar a transformação da América Latina. A atividade foi ministrada pelo pesquisador e teórico espanhol Jesús Martín-Barbero, autor do livro Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia, entre outras obras. Barbero conversou durantes os três dias com cerca de 80 pessoas, entre elas professores, pesquisadores, estudantes, jornalistas e curiosos da comunicação.
Com uma memória impecável e sequência narrativa, o professor apresentou diversas pistas e provocações. Para ele, um dos caminhos para a América Latina é produzir conteúdos, narrar histórias, buscar a memória de seu povo, contar experiências e valorizar suas próprias raízes. Os latinos precisam produzir mais e reproduzir menos, revela Barbeiro, referindo-se a reprodução recorrente de conteúdos no continente. Informações consideradas lixos culturais, alinhados muitas vezes ao mercado. A saída, para ele, está na construção de uma comunicação pública.
‘Público é diferente de estatal, não precisamos de meios para falar do governo’, critica Barbero. O que América Latina necessita é de uma comunicação para os povos, os campesinos, espaço para as experiências coletivas, o saber popular, as culturas locais, os anseios das cidades e das comunidades. Questionado sobre a relevância da fronteira de Foz do Iguaçu (PR), com Ciudad Del Este (Paraguai) e Puerto Iguazu (Argentina), nesta discussão, Martín-Barbero esclarece: ‘A fronteira é o lugar estratégico para se repensar o mundo. A fronteira não é só uma linha, mas sim, um espaço no qual um país penetra o outro. Não existem muros, eles estão apenas na imaginação das pessoas.’ O teórico destacou também a importância das tecnologias no processo de aprendizado, conhecimento e na organização das pessoas. Entre as tecnologias, cita a internet como ‘lugar onde todos podem não apenas ler, mas também produzir conteúdo’, produção que, segundo ele, promove o debate e faz as pessoas pensarem e se sentirem parte do processo e da transformação.
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Jornalista, Foz do Iguaçu, PR