DIREITO EM DEBATE
OAB reconhece mal-entendido com TV Brasil, 23/6
‘Após acusar a TV Brasil de censura ao programa ‘Direito em debate’, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Rio de Janeiro, Wadih Damous, voltou atrás e reconheceu que houve um grande ‘mal-entendido’.
De acordo com carta enviada à presidente da emissora, Tereza Cruvinel, Damous afirma que ‘informações oriundas do próprio meio sobre a motivação’ do cancelamento do programa geraram uma ‘justa aflição, desmedidamente aumentada’.
O presidente da OAB/RJ informa ainda que, após contatos com Tereza, os mal-entendidos foram solucionados. Segundo o comunicado, a OAB/RJ deseja manter a parceria com a emissora e ‘participar dos projetos da TV Brasil relativos à programação destinada à área jurídica’.’
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TV Brasil terá novo programa sobre temas jurídicos, 23/6
‘Depois de retirar o ‘Direito em debate’ do ar, a TV Brasil planeja criar um novo programa para tratar de assuntos relacionados à área jurídica. De acordo com a presidente da emissora, Tereza Cruvinel, a idéia já está em estudo.
A responsabilidade editorial será da TV Brasil, diferente do que acontecia no ‘Direito em debate’, onde a Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Rio de Janeiro, era a responsável. Entretanto, as parcerias devem continuar. Segundo Tereza, entidades de classe, como a OAB, serão convidadas a participar como consultoras. O Ministério Público também deverá participar do projeto.
O programa era produzido pela OAB/RJ em horário alugado na TV Brasil. O presidente da OAB seccional Rio de Janeiro, Wadih Damous, acusou a emissora de censurar o ‘Direito em Debate’ por ‘razões políticas’.’
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OAB/RJ acusa TV Brasil de censura, 20/6
‘O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Rio de Janeiro, Wadih Damous, acusou a TV Brasil de censura ao ‘Direito em debate’. Por meio de nota, Damous afirma que o programa ‘foi retirado do ar no dia 5 deste mês por razões políticas’.
No ar há dez anos, o ‘Direito em debate’ era produzido pela OAB/RJ e exibido em horário alugado na TV Brasil.
O problema no relacionamento entre a OAB/RJ e a TV Brasil começou num debate sobre os processos de fiéis da Igreja Universal contra veículos de comunicação. Na ocasião, senador Marcelo Crivella foi convidado, mas não compareceu, nem mandou representante. De acordo com o apresentador do programa, José Fernandes Jr., o fato foi informado aos telespectadores, mas a emissora exigiu que um direito de resposta fosse concedido ao senador: ‘Foi dito que o Crivella era um aliado político, um amigo do Governo’.
Apenas três semanas após esse episódio, o programa saiu do ar. Fernandes fala em censura e afirma que os fatos indicam que houve interferência política. ‘Nós não sabemos o que aconteceu, mas o programa foi tirado do ar, por coincidência, após o incidente com o senador Crivella’, diz Fernandes.
Na noite desta sexta-feira, a presidente da emissora, Tereza Cruvinel, afirmou que a TV Brasil e a OAB/RJ já estavam discutindo um novo modelo para o ‘Direito em Debate’ antes da retirada do programa do ar. Disse ainda que já se reuniu com Wadih Damous para esclarecer o fato.
De acordo com a presidente, o modelo de programa é incompatível com a legislação que rege o funcionamento da TV estatal:
‘Este programa não pode legalmente existir em uma televisão com conselho curador. Na lei, a responsabilidade editorial é da diretoria’, diz Cruvinel.
Sobre as acusações de interferência no caso do Crivella, ela afirmou que pediu o direito de resposta porque o senador havia informado à produção do programa que não representava a Igreja Universal e que, por isso, não iria ao programa.’
ATAQUE
Sérgio Matsuura
Tiros atingem sede do Diário do Amazonas, 23/6
‘Por volta das 4h30min do último sábado (21/06), a sede do Diário do Amazonas, em Manaus, foi alvo de 11 disparos feitos por dois homens em uma moto. Ninguém ficou ferido na ação. Seis tiros acertaram a portaria do edifício e cinco, o primeiro andar, onde funcionam a parte administrativa e a presidência do jornal.
Segundo o diretor de redação do veículo, Sérgio Bártholo, ainda não é possível assegurar a motivação do crime. ‘A gente não descarta nenhuma hipótese, mas qualquer afirmação seria leviandade. Vamos aguardar o trabalho da polícia’. Ele informa ainda que as investigações policiais indicam para a participação de um ex-funcionário.
Os dois criminosos estavam de capacete, o que dificulta a identificação. Dois seguranças presenciaram a ação, que também foi captada por uma câmera de vigilância.
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgou nota de solidariedade ao jornal, afirmando que o atentado parece ‘indicar uma tentativa de intimidação’. O comunicado também pede às autoridades ‘rápido esclarecimento sobre a motivação do crime e a identificação dos seus autores, para que a Justiça tome as providências cabíveis’.
A organização Repórteres Sem Fronteiras também divulgou comunicado no qual levanta suspeitas sobre a motivação do crime. ‘O ataque aconteceu vinte e quatro horas depois da detenção de personalidades próximas do prefeito de Coari e acusadas pelo jornal de crimes graves. Cremos que é imperativo não descurar esta pista’, diz o comunicado.’
LEI DE IMPRENSA
Carla Soares Martin
AGU sugere ao STF que não suspenda a Lei de Imprensa, 23/6
‘A Advogacia Geral da União (AGU) enviou em 13/06 ao Supremo Tribunal Federal (STF) um parecer (em PDF), no qual sugere que não se revoguem todos os artigos da Lei de Imprensa, como pede o Partido Democrático Trabalhista (PDT).
Segundo o advogado da União Sérgio Tapety, a lei apresenta alguns dispositivos inconstitucionais, como os artigos 51 e 52, que dizem que há limite para a indenização por danos morais para a imprensa. Porém, ressalva que muitos os artigos vão na direção da Carta Magna.
Um deles, considerados constitucionais, segundo Tapety, é o que propõe uma pena maior para os crimes de calúnia e difamação quando cometidos por parte dos meios de comunicação. ‘Como exemplo, pode-se citar a hipótese de crime de calúnia praticado por meio de um jornal de circulação nacional. Neste caso a potencialização do dano à honra da vítima é muito maior, sendo necessária uma resposta sancionatória do Estado proporcional (negrito do parecer) ao ato lesivo, com vistas a prevenir e a reprimir a prática de tal crime.’
O parecer justifica que a liberdade de imprensa está assegurada mas que, em alguns casos: ‘O exercício de um direito degenera em abuso’, cita.
Para a AGU, o PDT deveria ter argumentado pelo fim da Lei de Imprensa em cada um dos artigos, especificamente, e não de forma abrangente e genérica.
Em 27/02, o plenário do STF revogou alguns artigos da Lei de Imprensa, de 1967.
Neste momento, o parecer encontra-se no Ministério Público Federal, sob as vistas do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. Depois, irá passar pela votação do ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, para, em seguida, ser levado a plenário.’
SELEÇÃO
Milton Coelho da Graça
Está tudo voltando?, 20/6
‘Em 25 de junho de 1990, o Brasil chorava pela derrota, na véspera, para a Argentina (2 a 1, com golaços de Maradona e Caniggia), com exceção de um grupo de 14 presos, que, alegremente, aproveitou o abatimento nacional e fugiu da cadeia de Araçatuba. O jornal carioca Última Hora publicou este anúncio fúnebre no alto da primeira página e uma manchete nada otimista sobre o que ainda ia acontecer (veja no pé desta nota).
Colapso da primeira ‘Era Dunga’ e aumento da carne. Nunca imaginamos que iríamos viver novamente essas emoções simultâneas, hein?
Vale-tudo Globo x Abril, briga de cachorro grande
A Abril quer mais dinheiro pela exibição de seu canal MTV na Sky (onde as Organizações Globo têm uma fatia de 26% e o grupo americano Liberty Media, 74%), um aumentinho ligeiramente superior a 20 por cento. A Sky o considera ‘abusivo’, mas o outro lado acha muito justo, porque também cederia dois outros canais – FIZ, para jovens, e IDEAL, sobre negócios e carreiras – e ainda daria um crédito equivalente ao aumento para utilização em publicidade nas suas revistas.
O assunto tornou-se mais pesado depois que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em nota oficial, desmentiu publicamente as Organizações Globo sobre o andamento de uma representação feita pela Abril.
Depois disso, todos calaram. A experiência indica que, quando cachorros grandes param de se engalfinhar, passam a morder os circunstantes – os consumidores. Aguardemos.
(*) Milton Coelho da Graça, 77, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se’
JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu
O Freud citado por Lula é outro!!!, 19/6
‘Porque calais em mim
tamanho pranto, deixo que
morra aqui vosso destino.
(Álvaro Alves de Faria in Inês)
O Freud citado por Lula é outro!!!
Sua Excelência disse, a propósito das acusações de dona Denise Abreu, que somente Freud poderia explicar os motivos da ex-diretora da Anac. Então, os mais aplicados analistas políticos da nação empenharam-se em analisar as causas que levaram o presidente a citar Sigmund Freud, quando todos conhecem a formidável ignorância do citador. Aí Janistraquis, que não confunde subterfúgio com subterrâneo e cujo arquivo é deverasmente implacável, meteu o dedo:
‘Considerado, estão pensando que esse Freud é o inventor da psicanálise, quando, na verdade, o presidente apenas botou mais um amigo na história, pois é o único Freud que conhece, aquele tal de Freud Godoy, assessor especial dele, envolvido com a compra do dossiê tucano e responsável pela segurança do ex-tesoureiro Delúbio Soares.’
Meu assistente tem razão, e se o considerado leitor deseja recordar a figura desse Freud tupiniquim, visite o Blogstraquis e leia matéria originalmente publicada pela revista Veja, também conhecida como ‘A Indispensável’.
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O homem errado
Um célebre editor-chefe do Jornal da Tarde costumava impor curiosos trocas-trocas à nossa sempre perplexa Redação; de repente, o editor de esportes virava editor de Economia e este assumia a Variedades; a editoria de Internacional transformava-se em gramado no qual pastava outra criatura que não dera certo em lugar algum e assim por diante. Em meio ao caos absoluto, tentávamos fazer o raio do jornal.
Tal lembrança de pessoas erradas em funções erradas nos assalta há tempos, mais precisamente desde quando Lula assumiu a presidência, lembrança reforçada depois da assunção de Dunga ao comando da Seleção. Nunca antes neste país se viu time mais pessimamente convocado e escalado, a jogar um futebol de terceira categoria. Foi por isso que um torcedor argentino estampou o cartaz, logo depois do horroroso empate de ontem no Mineirão: Fica, Dunga! O técnico só dá alegria aos nossos adversários.
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Quase-índio?!?!?!?!
O considerado Jair Barbosa Martins, empresário da comunicação em São Paulo, garante que o compadre de Lula, aquele metido em tudo quanto é aranzel financeiro, agora acusado de ter feito pressões na venda da VarigLog, não deve ser incriminado por se tratar de um quase-indio:
O tal Roberto Teixeira espalha por aí que é advogado, porém não passa de mais um semi-analfabeto dos muitos que andam espalhados pelos vários e asquerosos cenário desta republiqueta chamada Brasil; vi a figura na televisão e ele, quando consegue juntar duas palavras, se diz adevogado; tem, sem nenhuma dúvida, o mesmo nível intelectual do compadre.
Janistraquis acha que você tem razão em sua ira, ó Martins, porém quase-índio não é índio e Roberto Teixeira deve responder na Justiça por seus atos. Se for inocente, a nação há de beijar-lhe os pés.
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Serviço sujo
O considerado João Geraldo Lopes, economista e jornalista no Rio de Janeiro, mostra-se aborrecidíssimo com a imprensa:
‘O considerado perdoe o mau humor, porém não dá pra agüentar esses colegas de vocês chamando os três mortos do Morro da Providência de ‘jovens’, ‘rapazes’, etc. e tal, ao mesmo tempo em que se referem a uma ‘quadrilha rival’ que os recebeu de presente de um grupo de militares do Exército. Ora, por que ‘quadrilha rival’? Porque são todos bandidos, é mais do que óbvio! Ou estou sendo injusto?
Janistraquis acha que você até pode ter razão, ó João Geraldo; todos parecem bandidos, porém o Exército não deveria se meter nessa história:
‘Ao agir dessa forma os militares metem a instituição num desastroso melê; dá a impressão de que está de volta aquele comportamento dos tempos da ditadura (guardadas as devidas proporções), só que agora os carrascos, amigos de traficantes, arranjaram quem faça para eles o velho serviço sujo.’
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Álvaro Alves de Faria
Leia no Blogstraquis a íntegra do soneto cujo fragmento encima a coluna. O inspirado poeta, que trocou o Brasil por Portugal, anda em soberba forma.
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Alguns velhinhos…
Jovem amiga de Janistraquis enviou piadinha que percorre a internet, com o firme propósito e único objetivo de humilhar a gente. Leia:
Dois velhinhos conversam num asilo:
– Macedo, eu tenho 83 anos e estou cheio de dores e problemas. Você deve ter mais ou menos a minha idade. Como é que você se sente?
– Como um recém-nascido.
– Como um recém-nascido?!
– É. Sem cabelo, sem dentes e acho que acabei de mijar nas calças.
Então meu assistente, que também recebe tais brincadeiras e as arquiva só de sacanagem, respondeu à impiedosa amiga com outra historinha:
Duas velhinhas, mas bem velhinhas, jogam a canastra semanal quando uma olha para a outra e diz:
– Nós somos amigas há tanto tempo e agora eu não consigo me lembrar do seu nome, veja só a minha cabeça! Qualé o seu nome, querida?
A outra olha fixamente para a amiga durante alguns minutos, coça a testa e finalmente responde:
– Você precisa dessa informação para quando?
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Corrente elétrica
O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão debruçado sobre a torpeza geral vê-se José Dirceu e o ex-prefeito de Juiz de Fora a contabilizar os lucros, pois Roldão, que hoje, quinta-feira, completa 75 anos de selecionada existência, anteontem amanheceu a escutar o rádio:
Ouvi hoje, dia 17, às 11h50 no noticiário de Brasília da CBN o rádio-repórter E.D. (Estêvão Damásio) comentar a momentânea paralisia dos trens do metrô da capital federal, por falha na corrente elétrica.
Parece que deu paralisia mental no locutor…
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A mãe no meio
Correu mundo a notícia segundo a qual o jogador Ivo, do América de Natal, foi preso em flagrante sob a acusação de ‘injúria qualificada’, por chamar de macaco um policial do Grupo Tático Operacional. Ivo saiu do estádio devidamente algemado, porém vai responder ao processo em liberdade.
Janistraquis, nascido e criado na caatinga a imaginar que ‘macaco’ eram os soldados perseguidores de Lampião, dá um conselho a Ivo e demais jogadores e cidadãos:
‘Quando você quiser xingar alguém, basta chamá-lo de filho da puta e/ou veado, porque prostituição é ‘uma profissão digna como outra qualquer’, conforme nos ensinou o doutor Waldir Troncoso Peres, ilustre e saudoso jurisconsulto paulistano; e veado, que hoje é elogio, com mais algumas paradas gays ganhará status de excelência, sem a menor dúvida.’
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Acento no U
O considerado Gilson Ferreira, jornalista carioca que é assessor da Petros, envia esta chamadinha de capa do site Globo.com:
Rússa: Putin deseja boa sorte ao novo presidente
O remetente não apensou comentário, mas tudo indica que deseja saber a opinião de Janistraquis a respeito de tão esdrúxulo e impróprio tropeço, e meu assistente responde, com aquele estilo sempre inteligível que o caracteriza:
‘Creio, leitor, que, ao escrever a palavra Rússia, o redator cometeu um simples erro de digitação; todavia, como vivemos numa vaxaminosa época, é impossível eliminarmos a hipótese segundo a qual o elemento em questão sofre daquele mal que faz muita gente meter o acento agudo em qualquer u que lhe apareça, principalmente quando se encontra (o elemento) nalgum banheiro público. Haja vista a abundância de ú na palavra c…’.
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Cerveja, não!
Sob o título O desespero do lobby da cerveja, artigo na seção Tendências/Debates da Folha de S. Paulo dizia:
‘(…) Cerca de 70% da população brasileira, conforme pesquisa da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas), também aprova a proibição da propaganda de cerveja e outras bebidas nos meios de comunicação.’
Janistraquis não foi ouvido por nenhum instituto de pesquisa, mas também é contrário à propaganda de cerveja na TV, embora por outros motivos:
‘Considerado, sou contra por causa da sesquipedal burrice que os comerciais disseminam por aí; todos se dirigem a débeis mentais e foi exatamente por tal razão que parei de beber cerveja; agora, só tomo cachaça.’
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Raposa Serra do Sol
Em artigo concebido especialmente para o Blogstraquis, escreveu o considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal em Belo Horizonte, a propósito da polêmica que envolve a Raposa Serra do Sol, sério arranca-rabo eivado de flechas, tacapes e facões:
(…) Quem retumbou o primeiro tiro certeiro foi o ilustre comandante Militar da Amazônia, general Augusto Heleno. Além da ira dos governantes, despertou a precaução dos brasileiros empenhados em que este país seja de todos, menos, claro, dos afoitos e interessados piratas internacionais modernos.
Os pré-pagos da imprensa saíram em ataque ao general patriota com o propósito de calá-lo. Onde já se viu no governo mais democrático existido um oficial manifestar posições de alerta sobre os riscos de uma demarcação de fronteira que se pode antever como incorreta e para escamotear enormes interesses existentes em uma área com riquíssimos e estratégicos minerais?
Leia aqui a íntegra da camiliana diatribe.
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Nota dez
Sob o título A Presença Árabe no Português, o considerado mestre Deonísio da Silva escreveu no Observatório da Imprensa:
Obras de excelência não são comentadas e nem sequer têm registro de seu lançamento nos habituais lugares em que apareciam, como os cadernos literários da imprensa. Os jornais e as revistas parecem esquecidos de que os livros são figuras solares de qualquer progresso social.
Como, então, salvar-se na ‘selva escura’ em que o Brasil se encontra nos tempos que correm? (…) Os internautas pouco se incomodam se a imprensa despreza desse modo os livros. Para esse veneno, o antídoto pode ser encontrado na internet. Vamos a um pequeno exemplo.
Vá ao sistema de buscas – pode ser o Google, o oráculo do nosso tempo – e digite o seguinte nome: João Baptista M. Vargens. (M. é ‘de Medeiros’).
Leia aqui a íntegra desta excelente dica de dicionário.
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Errei, sim!
‘CRíTICO MUSICAL — De um crítico deverasmente culto do Jornal do Brasil em alentado texto sobre um show de Luís Melodia:
‘MALEMOLENÇA. Inútil procurar no Aurélio, a palavra não está lá para facilitar a vida do leitor Mas calma, não há motivo para pânico(…)’
Janistraquis virou fera: ‘Considerado, é claro que não tem no Aurélio; afinal, malemolença não existe, a palavra certa é malemolência. A outra é simples corruptela usada por quem não conhece o endioma…’. Achei meu secretário meio radical, mas o perdôo; não se deve mesmo dar colher de chá a crítico musical! (março de 1993)’
Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.
(*) Paraibano, 65 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’
MERCADO
Eduardo Ribeiro
Chegam ao mercado Living Alone e Jet Magazine, 18/6
‘O mercado editorial de revista vê nascer nos próximos dias duas publicações, ambas de nicho: Living Alone, destinada a pessoas que moram sozinhas, e Jet Magazine, para pessoas que viajam de avião.
Living Alone chega pela Custom Editora, empresa fundada recentemente por Fernando Paiva e André Cheron, que, neste projeto, ocuparão a função de publishers, sendo que Paiva acumulará também a Direção de Redação. Já a Jet Magazine é nova aposta da RMC, editora fundada há mais de 20 anos por Roberto Muylaert, executivo que já presidiu a Fundação Padre Anchieta e que também atuou em início de carreira diretamente no jornalismo, na revista Veja, por exemplo.
São dois títulos que não terão as bancas como único pólo de distribuição, visto destinaram-se a públicos dirigidos.
Living Alone será lançada na sexta-feira (20/06) e vai se apresentar para os seus leitores como ‘a revista da sua vida’. Terá periodicidade bimestral e tiragem de 20 mil exemplares, sendo que 15 mil serão encaminhados por mala direta para moradores de apartamentos do tipo loft, studio ou duplex de oito bairros paulistanos: Jardins, Pinheiros, Morumbi, Moema, Vila Nova Conceição, Vila Olímpia, Ibirapuera e Itaim Bibi. Na redação, Marina Lima é a editora-executiva, Daniel Japiassu, o editor convidado e Maira Giosa, a repórter-estagiária. O projeto gráfico é de Manuela de Alcântara Machado e Sérgio Cury, que também responde pela Direção de Arte. A capa da edição de estréia traz Sabrina Parlatore clicada por Márcio Scavone, com texto de Emílio Fraia, autor do recém-lançado ‘O verão do Chibo’ (Alfaguara). Outro destaque é a presença de Miro e Jussara Romão, que, fotos e texto, assinam a primeira produção de moda da revista. A eles se somam Manuela Carta, que ‘por alguns momentos deixou o ocupado posto de publisher da Carta Capital para assumir o comando da coluna Pets, em que conta as aventuras ao lado do recém-adquirido terrier Juca’; Chris Campos, quituteira de mão cheia e criadora do site www.casadachris.com.br, que assina a seção Casa da Chris; Piny Montoro e Danilo Faro, titulares da coluna City Lights, com o melhor da vida social paulistana; e Enio Squeff.
Jet Magazine chega alavancada pela experiência de anos da RMC com publicações destinadas a passageiros: Ícaro e agora Revista da Varig, para a Varig, e Na Poltrona que edita desde o lançamento para a companhia de ônibus Itapemirim. Nascerá em edição sofisticada e bilíngüe português-inglês, com auditoria do IVC, que comprovará os 50 mil exemplares de tiragem destinados a dois canais básicos de distribuição: bancas, que ficarão com 30 mil (distribuição Dinap) e distribuição dirigida para um mailing especial de 20 mil nomes, que receberá a revista por mala direta. A primeira edição terá 100 páginas. Paulo D’Amaro, que já passou por redações como Quatro Rodas, Época, Próxima Viagem e Superinteressante, será o diretor de Redação. Além da nova revista, a RMC anuncia parceria com o Jet Site, portal na internet voltado ao universo da aviação, com cerca de 1,3 milhões de visitantes únicos por mês.
Livros
Autores do consagrado ‘Almanaque dos anos 80’ (Ediouro), que já vendeu mais de 150 mil exemplares e está na 13ª edição, Luiz André Alzer, atual editor-chefe do Diário de S.Paulo, e Mariana Claudino, repórter do Extra, lançam nesta e na próxima semana ‘Os 10 mais’ (Editora Agir), livro com 250 rankings dos mais variados temas, resultado de quase um ano de pesquisa dos autores. Na quarta-feira (18/06), o lançamento será na Livraria Daconde (rua Conde de Bernadotte, 26, loja 125, Leblon), no Rio de Janeiro; e na próxima terça (24/06), na Livraria da Vila (rua Fradique Coutinho, 915, Pinheiros), em São Paulo – ambos às 19h30.
Com preço de capa de R$ 29,90, reúne curiosidades como os 10 discos mais vendidos, as 10 cidades com maior percentual de mulheres, os 10 deputados federais mais votados da história, as 10 maiores palavras da língua portuguesa, os 10 times que mais foram vice-campeões no Brasil, os 10 picolés mais antigos da Kibon…
Em meio a essas listas, Alzer e Mariana entrevistaram 33 personalidades que fizeram seus rankings pessoais de algum tema de livre escolha, caso de Nélson Piquet, Washington Olivetto, Ney Latorraca, Gerald Thomas, Zeca Camargo, Luiza Brunet e Zagallo.
‘Nossa idéia era misturar rankings que podem ser úteis, como os 10 jogadores com mais vitórias pela seleção brasileira, com outros bem pitorescos, como as 10 cidades onde mais caem raios no Brasil ou as 10 paquitas que ficaram mais tempo nos programas da Xuxa’, diz Alzer. ‘Não teria graça simplesmente reproduzir listas publicadas em jornais e revistas. O desafio foi conseguir alguns rankings que nunca foram feitos, seja pela dificuldade de levantar dados ou porque as informações existentes são totalmente desencontradas’, completa Mariana.
Uma das novidades do projeto é a estratégia de oferecer aos leitores a possibilidade de comprar exemplares personalizados, com nome na capa e rankings por eles próprios escolhidos. A encomenda deverá ser feita pelo www.os10maisnaweb.com.br . No mesmo hotsite estarão disponíveis outras dezenas de listas que não entraram no livro e que serão atualizadas permanentemente pelos autores.
É a primeira vez que se faz no Brasil uma ação interativa desse tipo no segmento de livros comerciais. Basta aos interessados indicar até três listas de 10 mais (as 10 viagens mais inesquecíveis, os 10 melhores amigos, as 10 músicas da sua vida etc.) para receber um ou mais exemplares com todos os 250 rankings pesquisados pelos autores, além dos personalizados no site, que entram no livro como mini-capítulos. A aposta principal é na compra de exemplares para presente.
Algumas curiosidades das listas do livro: dos 10 filmes de maior bilheteria no cinema nacional, somente um foi produzido após a retomada – 2 filhos de Francisco, de 2005, que ocupa a 5ª posição, com 5.319.677 espectadores; Ivani Ribeiro é a autora que mais escreveu novelas e minisséries na TV brasileira (foram 45 no total), o segundo colocado é Walter Negrão, com 36, e o terceiro, Lauro César Muniz, com 25, e Janete Clair é a 6ª colocada, com um total de 23 novelas e minisséries; o Big Mac é o 6º sanduíche mais calórico do McDonald´s. (tem 504kcal) – os três primeiros são Big Tasty (843kcal), McNífico Bacon (620kcal) e Chicken Gourmet (589kcal); é o México, e não os Estados Unidos, o país onde mais se bebe Coca-Cola – os americanos ocupam a 2ª posição; as três cidades brasileiras com maior percentual de mulheres são Águas de São Pedro (SP), com 53,956%, Santos (SP), com 53,773%, e Recife (PE), com 53,497%. Já o município com maior percentual de homens é Novo Progresso (PA), com 60,3%.
1808
O livro ‘1808’ (Planeta), de Laurentino Gomes, venceu no último dia 12/06 o Prêmio Academia Brasileira de Letras, categoria Ensaio, Crítica e História Literária. A obra, que lidera há mais de nove meses a lista dos livros mais vendidos no Brasil, categoria não-ficção, narra em tom jornalístico a fuga da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, 200 anos atrás. Laurentino recebeu R$ 50 mil pelo prêmio, um dos oito que a ABL concede todos os anos. A obra, que já teve dez edições consecutivas e vendeu mais de 350 mil exemplares no Brasil e outros 40 mil em Portugal, acaba de ganhar três novas versões de caráter educacional: um site na internet (www.laurentinogomes.com.br), para ajudar estudantes, professores e pesquisadores a se aprofundarem mais no assunto; uma versão juvenil ilustrada, dirigida a estudantes do final do primeiro grau, na faixa etária entre 11 e 15 anos; e em formato de áudio-livro, com duração de 9h42m, lido por um locutor profissional e editado com músicas da época, destinado principalmente a deficientes visuais e pessoas que enfrentam horas de congestionamento nas grandes cidades brasileiras.
200 anos de imprensa
Para comemorar os 200 anos da imprensa brasileira, a Editora Contexto convidou as historiadoras Tania Regina de Luca e Ana Luiza Martins para organizar ‘História da Imprensa no Brasil’, livro que mostra como a imprensa começou e como vem atuando desde então, tanto como observadora quanto como protagonista da nossa história, além de revelar sua relação com os poderosos, bastidores da imprensa alternativa e o impacto da tecnologia na comunicação atual, entre outros aspectos.
A obra, que tem 304 páginas e custa R$ 49, reúne as visões de especialistas de diversas áreas: Ana Maria de Abreu Laurenza (jornalista, mestre e doutora em Ciências da Comunicação, área Jornalismo, pela ECA-USP), Antonio Arnoni Prado (professor de Teoria Literária da Unicamp), Cláudio Camargo (jornalista e sociólogo, editor de Brasil da revista IstoÉ), Ilka Stern Cohen (doutora em História Social pela FFLCH/USP), Flávio Aguiar (editor-chefe da agência Carta Maior e seu correspondente em Berlim), Luiza Villaméa (editora em IstoÉ e mestranda em História na USP), Marco Morel (jornalista e professor do Departamento de História da Uerj), Maria de Lourdes Eleutério (doutora em Sociologia pela FFLCH/USP e professora do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi-Morumbi) e Thomaz Souto Corrêa (vice-presidente do Conselho Editorial do Grupo Abril).
A força da fé
Já está nas livrarias ‘A Força da Fé’ (Panda Books – R$ 24,90), em que Iva Oliveira reuniu 30 celebridades e personalidades de diversas crenças (entre elas Ana Maria Braga, Frei Betto, Maurício Mattar, rabino Henry Sobel, Reginaldo Faria, Maria Adelaide Amaral e Ivete Sangalo) para contar suas histórias de superação baseadas na força da fé. Iva teve passagens por Folha de S.Paulo, Gazeta Mercantil, Diário de S.Paulo e, mais recentemente, ficou seis anos em Contigo, onde o contato com o mundo das celebridades foi a ponte para a produção do livro.
(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’
ELEIÇÃO 2008
Carlos Chaparro
Folha e Veja, os alvos errados da promotora, 16/6
‘O XIS DA QUESTÃO – À luz da Constituição, pode-se dizer que, no mínimo, a promotora Maria Amélia Nardy Pereira errou de alvo. Talvez fosse mais viável enfiar a carapuça do desrespeito à lei eleitoral nas cabeças de Marta Suplicy e Gilberto Kassab – que esta semana, com a entrevista que dá capa à Vejinha-SP, aumenta as dores de cabeça da promotora. Mas a questão vai além dessa rusga furada entre a promotoria da Justiça Eleitoral e os dois gigantes da mídia jornalística.
1. A letra viva e clara da Constituição
Em primeiro lugar, declaro sem meias palavras que considero um absurdo as representações contra a Folha de S. Paulo e a Veja, apresentadas pela Promotoria da Justiça Eleitoral, por terem aqueles veículos realizado e publicado entrevistas com Marta Suplicy – ações jornalísticas que a promotora Maria Amélia Nardy Pereira considerou ‘propaganda eleitoral’ fora do prazo legal.
Navegando em equívocos, a promotora meteu-se numa difícil briga institucional com a imprensa, e da briga a Folha vem tirando bom proveito. Mas aos jornalistas e aos públicos leitores interessa que o debate da questão vá além das emoções do embate. De modo particular, entendo que devemos aproveitar a ocasião para propor uma reflexão mais aprofundada sobre o fantasma chamado ‘propaganda’, que nutre tanto a argumentação da promotora quanto o arrazoado apresentado pela Folha, no editorial de defesa publicado sexta-feira passada.
No que se refere propriamente à representação encaminhada pela promotora, até pela inconsistência da argumentação que a sustenta, arrisco a predição de que terá vida curta, sem outros efeitos além daqueles já produzidos, na discussão pública gerada. E diga-se que no já discutido pela mídia, o filme da promotora sai bastante borrado. Por boas razões, diga-se, já que ela simplesmente desconsidera a clareza e a importância ética do preceito constitucional segundo o qual ‘a manifestação do pensamento, a criação, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição’.
Essa é a redação clara e vigorosa do Artigo 220 da Carta Magna. Artigo complementado por dois parágrafos igualmente de clareza e vigor inquestionáveis.
Diz o parágrafo 1º: ‘Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no Artigo 5º, IV, V, X, XIII e XV’ – restrições que dizem respeito à proteção devida aos direitos fundamentais do cidadão.
Para que não subsistam quaisquer dúvidas, o parágrafo 2º do mesmo Artigo 220 é ainda mais peremptório: ‘É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica ou artística’.
À luz da Constituição, portanto, me parece que, no mínimo, a promotora Maria Amélia Nardy Pereira errou de alvo. Talvez fosse mais viável enfiar a carapuça do desrespeito à lei eleitoral nas cabeças de Marta Suplicy e Gilberto Kassab – que esta semana, com a entrevista que dá capa à Vejinha-SP, faz o jogo de confronto eleitoral com Marta Suplicy e aumenta as dores de cabeça da promotora.
Mas a questão conceitual da propaganda versus jornalismo precisa ser discutida.
2. Interações entre Jornalismo e Propaganda
Leio aqui no Comunique-se que a promotora Maria Amélia, provocada pela repórter Carla Soares Martin, toca no ponto que a ela parece essencial: o problema não é a entrevista, e sim a apresentação de plataformas políticas dos candidatos, veiculadas pelos meios de comunicação. E coloca, de forma mais explícita, o seu polêmico ponto de vista: ‘A entrevista é considerada uma propaganda na medida em que o candidato expõe sua plataforma política. Não há nada contra a liberdade de imprensa’.
Faltou-lhe dizer o que entende por liberdade de imprensa e por direito à liberdade de informação jornalística. Mas isso é o de menos, já que se trata de questão resolvida pela Constituição.
Verdadeiramente lamentável é que a promotora não nos tenha dito qual é, onde está e como pode ser usado o critério para definir fronteiras discursivas entre jornalismo e propaganda – se é que essas fronteiras existem, em especial quando se trata de entrevistar protagonistas e discutir temas de interesse público, em conflitos eleitorais.
À promotora, estudiosa das leis, talvez não interessem as subjetividades da linguagem jornalística e dos usos que dela a sociedade faz. Mas o pessoal da Folha, que é do ramo jornalístico, ao argumentar contra a promotora, cai na mesma esparrela de pressupor que jornalismo e propaganda são coisas separadas e separáveis por fronteiras objetivas. No editorial em que faz o seu arrazoado público de defesas, escreve a Folha:
‘O primeiro e mais fundamental equívoco da promotora é não distinguir entre os termos ‘propaganda’, a mensagem em geral paga que tem o intuito de convencer, persuadir, e ‘material jornalístico’, que objetiva informar o leitor’.
Pois eu gostaria muito que os editorialistas da Folha nos dissessem como é possível eliminar do discurso particular de qualquer entrevistado a intenção de persuadir e convencer.
3. O direito de dizer
Ora, ao jornalismo interessam os conflitos relevantes da atualidade. Em períodos eleitorais e pré-eleitorais, os conflitos e os protagonistas prioritários são os que envolvem interesses antagônicos, em disputa de espaços de poder. Cabe ao jornalismo expor, fazer aflorar os conflitos, as divergências, os antagonismos – com honestidade, para que os públicos não sejam enganados por falsas intenções.
O jornalismo não pode, portanto, assumir o propósito de fazer propaganda. Mas também não pode evitá-la. Nem deve temê-la. Porque a propaganda é efeito inevitável de qualquer bom discurso particular socializado pelo jornalismo, quer a ação discursiva venha em forma de entrevista ou de acontecimento noticiável.
É bom lembrar aos colegas editorialistas da Folha que na política, como na ciência, na cultura ou no mundo dos negócios, o discurso particular é sempre e inevitavelmente propagandístico, e isso não pode ser rejeitado.
Em resumo: não há jornalismo sem discursos particulares conflitantes; e não há discurso particular sem propaganda.
Claro que aí está o cerne das contradições e dificuldades éticas do jornalismo. Faz bom jornalismo quem sabe lidar com as contradições do ofício sem fraudar o dever intelectual de informar e elucidar com honestidade.
E sem garrotear o direito democrático de dizer.
(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’
TELEVISÃO
Antonio Brasil
Para que serve uma TV digital na internet?, 17/6
‘‘Ah, eu estou vivido, repassado. Eu me lembro
das coisas, antes delas acontecerem’.
Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas.
Apesar de muito vivido e repassado, as tais ‘coisas’ não param de acontecerem e de me surpreenderem.
Depois de muitas tentativas, algumas broncas e ainda mais cobranças, recebi o seguinte bilhete enquanto mediava o V Seminário ESSO-IETV de Telejornalismo que ‘aconteceu’ aqui no Rio na semana passada (link para a coluna da semana passada):
‘Pode ligar para o seu amigo de NY! Estamos AO VIVO para o mundo!!!’
Mais uma vez, uma pequena e ‘brancaleonica’ equipe de uma pequena TV universitária na Internet de instituição pública estadual, a TV UERJ online, fazia um pouquinho da História da TV e do Telejornalismo brasileiros.
Pela primeira vez, transmitimos ao vivo pela Internet um evento da importância do Seminário ESSO-IETV de Telejornalismo de uma instituição renomada como o Instituto de Estudos de Televisão (ver aqui). Produzimos boa televisão e fizemos história. Ultrapassamos os limites físicos de um auditório, aumentamos o potencial de audiência limitada de um evento e avançamos pelas fronteiras da audiência virtual. Estamos utilizando a TV na internet para aumentar o público de eventos alternativos similares. Um dia, quem sabe, teremos audiência infinita e ilimitada na web. Também oferecemos a possibilidade de novas parcerias e melhores negócios para os patrocinadores.
TV de verdade
Mas transmitir eventos fora de nossa ‘base’, além dos limites da nossa universidade, parece coisa simples e fácil. Mas quem conhece, sabe que não é. Pelo menos, para pequenas televisões com pouquíssimos recursos como as TVs universitárias brasileiras na internet como a própria TV UERJ ou o TJ UFRJ (ver aqui).
Explico. Durante o mesmo final de semana, outra TV universitária na internet, o TJ UFRJ, o telejornal online da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ, também transmitia ao vivo e a cores a íntegra do Fórum de Mídia Livre (ver aqui) .
Além de transmitirem ao vivo, essas TVs online também reinventam o meio e sua relação com o público. Quem não pôde assistir a esses eventos ao vivo, na íntegra, teve a possibilidade de acessar uma seleção de conteúdos ‘on demand’ nos sites dessas novas TVs. Além disso, o acesso à transmissão desses eventos foi livre e gratuito.
O V Seminário de Telejornalismo foi patrocinado pela ESSO e pelo IETV e o Fórum de Mídia Livre pela Petrobras.
Essa é uma maneira totalmente nova de se fazer e de assistir televisão. Podemos estar reinventando o meio. Ou seja, assim como o transistor e a mobilidade salvaram o rádio, as WebTVs estão reinventando e salvando a Televisão tradicional.
As pequenas TVs digitais de verdade, as TVs na internet indicam os novos caminhos.
História de novo
Já em 2001, nos afastamos dos custos abusivos, dos controles e das limitações das TVs a cabo e apostamos no potencial criativo e inovador da internet. Já em 2001 a TV UERJ, ainda como o nome de TJ UERJ, fazia história e transmitia sua programação pela rede.
Esses são excelentes motivos para justificar a existência e acreditar no futuro das WebTVs.
Hoje, TV na Internet arrecada milhões para times de futebol como a TV Fla (ver aqui), divulga telejornais alternativos na allTV (ver aqui) ou incentiva produções em vídeo como o YouTube (ver aqui) ou as novíssimas propostas da FizTV (ver aqui) ou da Joost TV (ver aqui). Todos os dias surgem novas TVs na internet. Hoje, elas não querem simplesmente sobreviver. Querem competir e conquistar a audiência das TVs tradicionais. Querem criar uma nova forma de fazer e assistir televisão. Afinal, TV digital de verdade já existe e está na rede. Qualquer outra proposta é propaganda enganosa. A mesma programação de sempre, com imagem e som melhores, porém, ainda mais cara.
É para isso que serve uma TV digital de verdade, uma WebTV ou TV digital na Internet.
Sempre disse e repito que TV de verdade é TV ao vivo. VT é TV ao contrário. Além disso, acredito que a Universidade não deveria ser mera formadora de mão-de-obra para o mercado ou repetidora de modelos estabelecidos. Universidade é lugar de experimentação, inovação e difusão de conhecimento.
O futuro da nossa TV pode estar na internet e no conceito de Guerrilha Tecnológica (ver aqui) que desenvolvemos e divulgamos há muitos anos. Trata-se de um conceito muito útil para as nossas TVs e universidades. A idéia é fazer com o que temos. É não deixar de fazer porque não temos o que gostaríamos de ter. Guerrilha tecnológica na TV faz e inova com recursos mínimos. Aposta mais na criatividade das pessoas e nas oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias. A Guerrilha Tecnológica se afasta dos custos e limites de velhos equipamentos e se aproxima de novas idéias para utilizar a televisão de forma mais livre e democrática.
O futuro hoje
Ao contrário do que acreditam os ‘apocalípticos’, a Televisão, assim como qualquer outro meio de comunicação, pode nos ameaçar e nos dominar. Pode nos ‘emburrecer’ e nos viciar. Mas a TV também pode esclarecer, iluminar e ensinar.
Analógico ou digital, o meio televisivo não se resume a programação cada vez mais absurda de nossas TVs abertas onde somente proliferam Favorita e Mutantes.
Televisão digital de verdade ou Web TV pode ser uma excelente opção à própria decadência do próprio meio.
TV na Internet pode ser e fazer muitas coisas. Todos os dias alguém desenvolve, inventa e divulga novos usos e formatos para essas TVs. Seu potencial ainda está na Idade da Pedra do meio. TV na Internet pode ser veículo democrático para divulgar vídeos engraçadinhos ou atém mesmo pornografia. Mas também pode ser uma ferramenta de ensino poderosa, veículo eficaz para promoção de eventos alternativos ou laboratório para o desenvolvimento de novas de linguagens audiovisuais. Mera questão de objetivo, enfoque e investimento.
O importante é que hoje é possível ter e fazer uma televisão de verdade, de baixo custo na Internet. O meio não é o mais importante. O que realmente importa e faz a diferença é o conteúdo. Ou seja, o que você tem a dizer.
Falar demais e perigos na reportagem
E o V seminário ESSO-IETV de Telejornalismo? Quem perdeu ou não assistiu pela TV UERJ online, não sabe o que perdeu.
Raras críticas e muitos elogios. Alguns exagerados, mas significativos. Uma aluna de universidade carioca disse que aprendeu mais durante os dois dias de seminário do que um semestre inteiro de estudos. Confesso que fiquei ao mesmo tempo lisonjeado e bastante preocupado. Ou o seminário foi realmente muito bom e útil ou os nossos cursos de Comunicação e Jornalismo precisam de reformulação com a maior urgência.
Como já era esperado, o grande momento do V Seminário ESSO-IETV foi a participação da jornalista-celebridade Ana Paula Padrão. O grande auditório do SESC no Flamengo se tornou pequeno para tantos jornalistas, alunos e professores de Comunicação e Jornalismo. Foi preciso abrir um espaço adicional com projeção em telão para acomodar o excesso de público interessado em ouvir e participar do debate como a jornalista famosa.
Ana Paula comentou o seu documentário sobre migrantes nordestinos para a Amazônia, Trem da Escravidão apresentado no programa Realidade do SBT e falou sobre a nova fase na sua produtora, a Tuareg Conteúdos. Sua simpatia e espontaneidade surpreenderam a muitos participantes do seminário. Pelo jeito, o afastamento da Globo e dos telejornais fez muito bem à jornalista famosa. A destacar a sua própria autocrítica sobre o documentário apresentado: ‘Há mais de um ano que não vejo este documentário. Faria muitas modificações. Tem muitos erros. Pra começar, apareceria e falaria muito menos’. Quanta sabedoria! O afastamento da mídia e o tempo para reflexão têm sido muito bons para Ana Paula.
Outros grandes momentos do V Seminário ESSO-IETV de Telejornalismo foram as participações de excelentes profissionais que não são muito conhecidos pelo público. Principalmente porque costumam trabalhar em telejornais locais ou em emissoras e redes com pouca audiência. A destacar as reportagens ecológicas da dupla de jornalistas da Rede Minas, Aline Resende e Shirley Souza, a cobertura internacional de Marcelo Torres pelo SBT e as premiadíssimas e perigosíssimas reportagens com denúncias contra políticos gaúchos de Giovani Grizotti e Giancarlo Barzi da RBS. É sempre bom saber que, apesar das ameaças e perigos, eles ainda acreditam no potencial do jornalismo investigativo na TV. Eles vivem e sobrevivem de bom jornalismo.
Hoje, TV na internet já serve para muitas coisas. Mas a maioria dessas tais ‘coisas’ ainda está por ser explorada ou descoberta. As WebTVs reinventam a produção de TV e a audiência do meio. Não é só uma questão de conteúdo diferenciado. É questão sim, de acesso ao meio. Melhor do que assistir TV é fazer ou aparecer na TV.
TV na Internet: você ainda vai ter uma.
E por falar em TV na Internet, gostaria de divulgar esta ‘boa notícia’ do Laboratório de Jornalismo (Labjor) da Unicamp:
Veja no endereço http://www.rodaviva.fapesp.br o projeto ‘Memória Roda Viva’, uma iniciativa conjunta do Labjor/Unicamp, Fapesp, Fundação Padre Anchieta e Nepp/Unicamp que disponibilizará, na íntegra, todas as entrevistas feitas pelo programa ‘Roda Viva’ da TV Cultura. O programa, no ar desde 1986, apresenta semanalmente entrevistas com personalidades, brasileiras e estrangeiras, de diferentes áreas e tendências político/ideológica, com total liberdade de opinião e de escolha dos entrevistados e entrevistadores, só possível numa emissora pública como a TV Cultura, o que transformou o ‘Roda Viva’ num importante painel do pensamento contemporâneo. O projeto prevê, além de finalizar a inclusão de todas as entrevistas feitas nesses 21 anos, a atualização constante do site com as novas entrevistas, e tem como objetivo disponibilizar o conteúdo – textos integrais acrescidos de verbetes, referências, fotos e pequeno vídeo – possibilitando acesso livre para pesquisadores, estudantes e interessados em geral, num sistema de fácil navegação. Objetiva-se, também, criar um registro importante da história recente, assegurando sua preservação definitiva.
(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Atualmente, faz nova pesquisa de pós-doutorado em Antropologia no PPGAS do Museu Nacional da UFRJ sobre a ‘Construção da Imagem do Brasil no Exterior pelas agências e correspondentes internacionais’. Trabalhou na Rede Globo no Rio de Janeiro e no escritório da TV Globo em Londres. Foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. É responsável pela implantação da TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira com programação regular e ao vivo na Internet. Este projeto recebeu a Prêmio Luiz Beltrão da INTERCOM em 2002 e menção honrosa no Prêmio Top Com Awards de 2007. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’, ‘O Poder das Imagens’ da Editora Livraria Ciência Moderna e o recém-lançado ‘Antimanual de Jornalismo e Comunicação’ pela Editora SENAC, São Paulo. É torcedor do Flamengo e ainda adora televisão.’
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