Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Conceito de riqueza desconhece qualidade de vida

O ‘economês’ que se lê na grande mídia costuma comentar a capacidade dos países se inserirem com sucesso em regras de um reconhecido ‘mercado’ mundial e globalizado. Os seres humanos, no entanto, não passam de meros detalhes.

O que significa uma nação rica? Para muitos, uma nação que tem cidadãos educados e um número respeitável de doutores nas áreas de ciências humanas, ciência e tecnologia. Cidadãos educados significa uma sociedade composta por seres de formação humana e acadêmica compatíveis com o desejo de qualidade de vida que todos almejamos, não é mesmo?

É isso que a cobertura econômica e internacional da mídia brasileira nos diz? Lê-se muito sobre o sucesso comercial da China, mas muito pouco sobre o sucesso educacional, sobre o número de doutores em várias áreas por número de habitantes. Por que esse tipo de pauta não faz parte do economês tão voltado para o mercado? Qual a importância do capital trabalho no mundo de hoje?

Como viverá o trabalhador de hoje no sistema previdenciário do futuro?

Competitividade e diversidade

Nossos grandes especialistas em jornalismo econômico divulgam incessantemente que o Chile é um país com uma economia sólida, conquistada por meio de grandes mudanças políticas e econômicas, como a do Estado mínimo defendida pelos liberais e neoliberais.

No entanto, nos reportam muito pouco sobre como está a vida dos seres humanos que vivem na terra de Salvador Allende e de tantos outros que morreram na luta pela união latino-americana para a construção de uma sociedade mais justa, com igualdade de oportunidades para todos.

Quem prestar atenção nas conversas de privilegiados leitores/assinantes de vários jornais e revistas semanais do nosso país, nos bons restaurantes que freqüentam, com certeza observará como se entusiasmam com o sucesso do nosso querido vizinho, às vezes até repetindo frases e chavões memorizados de artigos de renomados jornalistas especialistas em economia.

Nem Joseph Stiglitz, ex-chefe do Banco Mundial (Bird) e vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2001, ousaria tanto. Defensor de mudanças no Fundo Monetário Internacional (FMI), que para ele se tornou um compadrio dos países ricos, Stiglitz elogiou a iniciativa da Venezuela, de criar o Banco do Sul. Para ele, em vez de ameaça, o Banco do Sul representa a competitividade e diversidade de que o FMI necessita.

E os direitos e deveres?

Nossa mídia, tampouco nossa elite, não parece interessada no pluralismo de idéias. Agem como se os ideais de Salvador Allende e de tantos outros conterrâneos dessas bandas do hemisfério sul, que lutaram por Estados mais justos e igualitários junto com a perspectiva de unidade latino-americana, estivessem enterrados junto com os restos mortais do ‘muro’ de Berlim e do mundo bipolarizado pela guerra fria.

O receituário prescrito por especialistas internacionais do FMI para os países da América Latina, e seguido à risca pelo Chile e México, não é unanimidade entre muitos e renomados economistas.

Já passou da hora da mídia especializada em economia fazer pautas mais completas, em que a riqueza de uma nação seja a soma da inserção dela nesse tal ‘mercado’ globalizado junto com a melhoria de qualidade de vida de seus cidadãos. Para isso, existe o ‘Estado forte’, que está salvando os bancos de quebrarem nos EUA? E os cidadãos? E os direitos e deveres constitucionais de todas as nações? E os Direitos Humanos Universais? Não são assuntos que se inserem no sucesso econômico dos países deste planeta?

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Servidora pública federal, pós-graduada em Ciência Política e especialista em políticas públicas no Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB)