Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Continua o denuncismo da imprensa

A finalidade desta mensagem é colaborar com o debate sobre o denuncismo da imprensa, assunto que está em pauta por conta da edição da revista IstoÉ desta semana. O que vou relatar é um episódio ocorrido na semana passada e amplamente divulgado nas colunas policiais dos principais veículos de comunicação de São Paulo.

** ‘Gerente da Ceagesp é preso’ [O Estado de S.Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004]

** ‘Gerente da Ceagesp preso por PM’ [Agora São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004]

** ‘Funcionário do Ceasa acusado de roubo [Diário de São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004]

Pois bem, é um fato que aparentemente merece destaque nos veículos de comunicação. O detalhe, contudo, é que o cidadão que foi preso não é funcionário da Ceagesp. Isso mesmo! O suposto gerente que foi preso não é funcionário da empresa que aparece no título de todas as manchetes! Quem foi o grande prejudicado com a publicação? A Ceagesp, claro!

Mas o que nos resta é lamentar que o nome da empresa tenha sido envolvido em tal episódio por falha na apuração da informação. Tão logo tivemos notícia das publicações, já que não fomos procurados durante a apuração para saber se o gerente preso era mesmo funcionário da Ceagesp, elaboramos uma nota de esclarecimento para os veículos informando que o cidadão preso não tinha e nunca teve vínculo com empresa. Mesmo sabendo que o estrago já estava feito, a expectativa de uma errata nos confortava parcialmente.

Ocorre que todos os veículos envolvidos ignoraram a solicitação de esclarecimento. Para a história, e o jornal é um documento histórico, ficará para sempre o registro de um gerente da Ceagesp que foi preso! Sem contar, claro, com o desgaste imediato da imagem de uma empresa que é responsável pelo abastecimento da população e é um símbolo da cidade de São Paulo.

Tivemos também o cuidado de verificar o Boletim de Ocorrência registrado no Distrito Policial; neste documento nada consta que o cidadão preso seja gerente da Ceagesp!

Do episódio, e de tantos outros semelhantes, ficam algumas perguntas que merecem reflexões e respostas.

** A apuração do fato policial é conduzida sem a devida investigação pelos jornalistas?

** Se o cidadão preso se apresentasse como gerente da Ceagesp não caberia ao jornalista apurar a informação?

** Se o cidadão preso se apresentasse como gerente, mas da Construtora Ferreira, essa informação iria pautar todas as manchetes?

** Se o cidadão preso se apresentasse como diretor de uma grande multinacional o jornalista não iria apurar a informação?

** Admitindo a hipótese de publicação da errata, ela teria o efeito de recuperar o desgaste da imagem da empresa?

** A nota de esclarecimento não foi publicada por conta do descrédito que as assessorias de comunicação têm nas redações?

** Quem errou?

** Quem vai pagar pelo erro?

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Coordenador da assessoria de comunicação da Ceagesp