Nenhuma mensagem institucional pelos 24 anos e a edição 500 do Jornal Pessoal. Absolutamente nenhuma. O poder não tem apreço pela publicação. Parte dele detesta o jornal. Não poucos escaninhos gostariam de celebrar o seu fim. Inúmeras pessoas físicas desejariam de só se preocupar com ele para confirmar que deixou de existir.
A corrente não é nada saudável, mas não surpreende nem abate. Em certa medida, entristece: nossos governantes estão muito distantes dos anseios da população, ou mesmo num caminho oposto ao daqueles que estão convictos de que só se acerta o rumo refletindo sobre ele, discutindo, polemizando, questionando.
Quando ocupei espaços importantes na imprensa local, especialmente em O Liberal, acumulava dezenas de telegramas no dia do meu aniversário. Guardei tudo em pastas não pelo valor intrínseco das mensagens. Era para checar, no futuro, quem manteria a cordialidade para com o destinatário. Poucos a mantiveram. Não lamento: é uma história que se repete desde que o mundo passou a ser ocupado por sociedades humanas. Infeliz de quem leva a sério essas manifestações: não suportará descer uma ou várias escadas da pirâmide social.
Quem ler meu último livro verificará que a imprensa pode muito mais não quando achaca, chantageia ou pressiona de forma ilegítima (ou indigna), mas quando usa a arma que deve ser sua especialidade: a informação. O que eu escrevi durante meses seguidos sobre a grande hidrelétrica teve eco intenso porque eu publicava meus artigos diários num jornal de grande circulação.
Mas O Liberal só assegurou sua presença decisiva nesse período, tornando-se fonte indispensável sobre a usina construída no rio Tocantins, porque publicava essas informações, convivia com a divergência, oferecia alternativas de leitura. Hoje é quase a voz (o sussurro ou o pensamento) do dono, do início ao fim.
Bem coletivo
Tudo que desagrada os patrões ou não serve aos seus interesses, é expurgado, não faz parte do mundo impresso (e bem impresso, que é o que resta). Alguém já leu no jornal ou viu e ouviu nas demais mídias do grupo a menor crítica possível a algum dos Maioranas?
Se dependesse dos ocupantes dos cargos de poder, o JPteria acabado há muito tempo. Eis aí, portanto, uma realidade que não depende dos seus humores. Depende, isto sim, dos leitores. E isto é que é bom. Seria melhor se o cidadão prestasse atenção ao fato: aqui, ele tem um espaço inatingível àqueles que sempre estão esmagando o homem comum, colocando-se num patamar acessível apenas aos que manejam o discriminatório “sabem com quem está falando?”.
Aqui, quem fala tem que apresentar suas razões e fundamentar suas teses. Aqui, busca-se a verdade, para que esteja ao alcance do cidadão e ele a possa transformar numa ferramenta de trabalho, a serviço do bem coletivo e da melhoria individual. Não é o que serve ao poder. Ignorar-nos ou nos hostilizar é o maior elogio que o poderoso pode nos fazer.
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[Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal, Belém (PA)]