Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Crime nos EUA provoca debate sobre papel da mídia

Em seu bilhete suicida, Robert Hawkins, jovem de 19 anos responsável pelo tiroteio em um shopping na cidade americana de Omaha, no começo do mês, afirma que ficará famoso. O jovem matou oito pessoas e cometeu suicídio. O fato leva à reflexão sobre o papel da mídia em situações deste tipo: deveria o nome de Hawkins ser omitido para que ele não conseguisse a fama que almejava?

‘Por que dar a tais assassinos, mesmo na morte, precisamente o que eles queriam? Talvez a longo prazo, se eles não tiverem a identidade revelada, o próximo que queira ficar famoso desta forma não tenha coragem de puxar o gatilho’, opina Jocelyn Noveck [AP, 17/12/07], dando continuidade à série de colunas e artigos publicados recentemente em jornais e sítios americanos sobre a questão. O colunista Eric Zorn, do Chicago Tribune, pediu um ‘blecaute midiático – um acordo entre publicações e emissoras responsáveis para usar o nome e a imagem de tais assassinos da forma mais sensata possível’. O radialista Gil Gross diz ter passado a evitar divulgar o nome de Hawkins no ar.

No entanto, Jocelyn expõe três argumentos fortes contra a idéia de não identificar os assassinos neste tipo de crime. O primeiro refere-se à natureza do jornalismo e seu papel de informar o público de maneira completa sobre eventos e fatos que possam afetá-lo. Outro argumento é que, segundo diversos criminologistas e psicanalistas, os potenciais assassinos não estão interessados na pessoa que cometeu o crime, mas no crime em si. Por último, mesmo se a mídia fizer um acordo para não divulgar o nome do criminoso, não teria como impedir uma grande especulação na internet, que pode ser ainda pior por ser imprecisa. ‘Por um lado, quero saber quem cometeu este tipo de atrocidade. Por outro, a noção de impedir esta fama temporária é muito justa: tudo bem, seu crápula psicopata, ninguém vai saber onde seu túmulo está!’, desabafa Shawn Johnston, psicanalista de Sacramento, na Califórnia. ‘Porém, seria absurdo afirmar que isto reduziria seriamente este tipo de crime’.

Eric, Dylan, Seung-Hui…

O professor de criminologia James Alan Fox, autor de cinco livros sobre assassinatos em massa, acredita que manter as identidades dos assassinos em segredo seria quase irrelevante, porque as pessoas raramente lembram os nomes deles. ‘Quantos conseguem lembrar dos nomes dos assassinos do massacre da [escola] Columbine, Eric Harris e Dylan Klebold, ou ainda de Seung-Hui Cho, do massacre da [universidade] Virginia Tech?’, indaga Fox. ‘As pessoas lembram do lugar e, é claro, dos crimes em si. O que pode inspirar outros é o ato e não a celebridade do autor do crime’.

Fox diz ainda que não se deve humanizar os criminosos, divulgando detalhes de suas vidas, como nomes de animais de estimação e preferências musicais. Além do mais, não se deve estabelecer recordes, como ‘o pior assassinato em massa em escola nos EUA’, para evitar que outros vejam aí uma espécie de competição bizarra e queiram ‘quebrar o recorde’. Ele questiona também a divulgação de imagens de fitas de segurança, pois elas revelam simplesmente que o assassino está no poder e não acrescentam em nada na cobertura noticiosa.