‘14/06/07
Em virtude da participação do ombudsman no seminário MediaOn, hoje não haverá crítica diária.
13/06/07
O melhor da edição de hoje da Folha é a reportagem sobre a inconsistência da versão do senador Renan Calheiros sobre os ganhos com a venda de gado (‘Gado de Renan é um dos mais valorizados do país’, pág. A10). A partir das informações parciais fornecidas pelo presidente do Senado, o jornal fez uma investigação independente cotejando os números divulgados com o mercado real do gado de corte.
Já sugeri e repito: não valeria a pena apurar, em Alagoas, os negócios agropecuários do senador? Não somente freqüentando cartórios e tribunais, o que também faz parte do trabalho. Talvez uma só fotografia de bois de Renan, se comparada com gado supostamente de menor preço, informasse muito sobre a defesa do senador, que diz ter pago contas pessoais com recursos seus, e não de empreiteira.
Lula e a Polícia Federal
Há pelo menos duas maneiras de interpretar as declarações feitas ontem pelo presidente Lula.
A primeira é entender a manifestação afetiva de um irmão que diz confiar no outro.
A segunda é temer por um possível constrangimento à Polícia Federal no inquérito da Operação Xeque-Mate. Lula é o chefe do Executivo. O ministro da Justiça se subordina a ele. A PF e seu diretor, ao ministro. Como a polícia já declarou Genival Inácio da Silva suspeito de cometer dois crimes, a partir de agora suas conclusões terão outra dimensão política: elas podem contradizer convicção manifestada pelo Presidente da República.
A Folha deveria repercutir, não apenas com declarações oficiais, o clima na PF após a entrevista do presidente. A guerra interna tende a se intensificar ou arrefecer?
Lula e o jornalismo
Confesso que não entendi em que condições precisas ocorreu a entrevista de Lula.
Se houve direito irrestrito para perguntar, por que não se indagou ao presidente sobre o vazamento de informações do inquérito para os investigados? A Folha apresenta vários exemplos no quadro no pé da pág. A4. Lula falou apenas sobre um tipo de vazamento.
Depois do destaque grande que a Folha deu sobre o aviso prévio (ou não) a Lula sobre a operação que atingiria o seu irmão mais velho, não há nenhuma palavra hoje do presidente sobre a questão. Ele não foi, mais uma vez, indagado pelos repórteres? Ainda na segunda o jornal publicou opinião de Frei Betto sobre o aviso.
Tarso e o jornalismo
Frase do ministro Tarso Genro, na pág. A7 (‘Presidente deve ser informado de tudo o que acontece no Brasil, afirma Tarso’): ‘Agora, o que não pode se admitir é que, numa operação em que mais de 70 pessoas foram presas, a imprensa dê destaque para dois ou três telefones [telefonemas] de Vavá’.
Gincana
Depois de a Folha revelar hoje vários trechos de telefonemas interceptados na Operação Xeque-Mate (pág. A8), é de se imaginar uma gincana jornalística para identificar quem é o tal ‘filho do homem’ tantas vezes mencionado.
Blair e o jornalismo
O premiê Tony Blair tem razão em várias críticas à mídia britânica (‘Blair compara mídia a feras que ‘despedaçam pessoas’’, pág. A13). Ele cala, contudo, sobre o mais grave erro do jornalismo do Reino Unido e dos EUA no século 21: a cobertura acrítica que fez, pelo menos inicialmente, sobre as falsas justificativas para a guerra no Iraque.
Correa e o jornalismo
Seria uma boa aposta a Folha enviar repórter ao Equador para contextualizar o que parece ser uma grave ameaça aos meios de comunicação: o ataque que o presidente Rafael Correa faz ao direito de empresas de mídia tomarem empréstimos bancários.
Troca-troca
Na edição Nacional, estão trocadas as posições de Chile e Colômbia no quadro ‘Orçamentos de defesa na América Latina’ (pág. A15). Comprometeu a informação. O jornal deveria corrigir.
Ocupação da reitoria
O texto da capa de Cotidiano (‘Alunos admitem desocupar reitoria da USP’) afirma que a assembléia dos estudantes ‘foi marcada pela divisão de posições e a troca de acusações entre os grupos’.
Que posições? Que grupos? O jornal não informa qual a opinião defendida pelas diversas organizações políticas que atuam no movimento. E os ‘independentes’? O que propõem? Mais de 40 dias depois da ocupação, a Folha parece não saber quem representa cada organização no movimento da USP.
De novo, igualmente, o jornal não informa sobre o bastidor do governo durante a crise.
Reportagem própria?
O principal texto de Esporte, ‘Grêmio busca 3º título no limite’, tem uma declaração do jogador Tcheco que deixa uma dúvida: como ela foi obtida? O jogador deu entrevista à Folha? Por telefone ou e-mail? Caso a afirmação tenha sido dada a outro veículo, era obrigação citar a fonte.
12/06/07
Só hoje, terça-feira, a Folha publica sua cobertura do show de despedida da banda pop Los Hermanos, ocorrido na virada de sábado para domingo. É uma pena que os leitores tenham sido privados de um relato mais a quente, na segunda.
A combinação do título com a linha-fina, na pág. E3, dá a entender que um só show reuniu 15 mil pessoas. Só depois é que se sabe que o número soma três apresentações (quinta, sexta e sábado). Título: ‘Los Hermanos dão adeus aos fãs em show emotivo’. Linha-fina: ‘Público, de 15 mil pessoas, vindo de diversos Estados, lota a Fundição Progresso, no Rio, para a despedida do quarteto’.
O texto informa que a ‘inesperada pausa’ do grupo foi ‘anunciada há duas semanas’. Está errado. A primeira página da Folha titulou, em 25 de abril: ‘Los Hermanos anunciam pausa na banda e negam desavenças’.
Preocupado, corretamente, em mostrar o apelo da banda, o texto porém ignorou o esforço de fãs do lado de fora para obterem ingresso com cambistas. Na noite de quinta, houve quem pagasse ágio de 50%. Outros pagaram ainda mais. A informação, de fácil apuração, está ausente do jornal.
Embora fosse importante contar o entusiasmo com Los Hermanos e a tristeza com o ‘recesso por tempo indeterminado’, não precisava exagerar. Trecho de hoje: ‘Mais do que cantar, a platéia parece sentir todas as músicas, interpretar todas as letras’. Ora, as platéias não costumam ‘interpretar’ as letras em shows musicais? Não é o costumeiro?
Todos os problemas citados acima são pequenos em comparação com uma insuficiência existente desde o anúncio oficial sobre o ‘recesso’: o que levou a banda a parar?
É um direito do Los Hermanos, como fez na divulgação oficial, negar desavenças. Era um dever jornalístico fazer reportagem para comprovar a versão.
Não se trata de buscar fofoca ou incensar o diz-que-diz. A carreira da banda, pública, justifica a cobertura sobre shows, CDs, negócios e também sobre a separação.
A opinião e a divulgação têm um peso significativo no jornalismo cultural. Isso não justifica, entretanto, a pouca freqüência de reportagens de fôlego nesse terreno do jornalismo.
Mortes nas rodovias
Diz a chamada de primeira página ‘Mortes nas estradas têm alta de 33% no feriadão’: ‘O feriado de Corpus Christi foi marcado pelo crescimento de 24,7% no número de acidentes e de 33% no de mortes nas rodovias do país’.
Está errado. O número, desconhecido, foi maior.
Como informa corretamente texto interno, a estatística divulgada se refere exclusivamente a rodovias federais, que representam apenas uma parcela das ‘rodovias do país’.
Milhões
Ontem à tarde, enquanto eu pesquisava metodologia capaz de calcular o público na Parada Gay de domingo, muitos leitores escreveram para questionar a projeção de 3,5 milhões, feita pelos organizadores e reproduzida acriticamente pela Folha. Hoje o Painel do leitor publicou carta sobre o tema.
O jornal faria bem se refletisse sobre os argumentos dos leitores (tanto o que teve a carta publicada no PL como os que escreveram ao ombudsman).
De frades e freis
Sugestão: não custa nada a Folha informar que ‘Frei Chico’, apelido pelo qual é conhecido um dos irmãos do presidente da República, não é um religioso. Para alguns leitores, pode ter havido a impressão de que se trata de um frade.
Quebrou ou não quebrou?
A Folha afirma que a quebra de sigilos bancário e fiscal de investigados na Operação Xeque-Mate inclui Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão mais velho de Lula. ‘Globo’ e ‘Estado’ sustentam que não inclui.
Deu ladrão?
A Folha traz hoje uma história saborosa, mas contada com uma falta de graça que por pouco não a mata. Em um zoológico no interior de São Paulo, nasceu há 15 dias um hipopótamo, filho de Rose, 49, alemã. Rose vive há anos com o hipopótamo alemão Gurbe, 30. Mas é possível que o pai seja o brasileiro Joe, 14.
O texto ‘Zoológico fará teste de DNA para descobrir quem é o pai de bebê hipopótamo’ explica bem o (bom) impacto genético que haverá à população de hipopótamos no Brasil se o bebê for filho do alemão. Era preciso fazer isso. Mas não precisava escrever o caso do filho de pai desconhecido quase como um verbete de enciclopédia.
Francês morto
O storyboard na pág. A4 (‘Como foi o crime’) reconstitui a noite do francês assassinado domingo em São Paulo. A legenda diz que o francês bebia ‘em companhia de três pessoas’. A ilustração, contudo, mostra uma mesa com apenas duas pessoas, e não quatro.
Universidades
O texto ‘Docentes da USP encerram greve e são vaiados por alunos’ (pág. C9) é sóbrio, o que constitui vantagem jornalística em relação à reportagem editorializada que na semana passada tratou da manifestação contra a ocupação da reitoria da USP.
Mas a matéria de hoje tem um problema: parece ser despolitizada. Que docentes votaram contra e a favor do fim da paralisação? Há professores alinhados a entidades, movimentos, organizações, partidos entre os que votaram pelo término ou continuidade da greve? Como agiram?
E os estudantes, entre os quais se encontrava um que agrediu o repórter-fotográfico da Folha? São militantes?
É preciso deixar claro: é legítimo pertencer a agremiação política. Jornalismo independente não tem por que demonizar quem integra organizações políticas.
Só que é dever jornalístico expor as filiações, para que o leitor conheça todos os interesses e idéias em conflito nas universidades estaduais paulistas.
Estudiosa
O texto ‘Cartilha escolar do sistema COC é alvo de polêmica’ (pág. C9) afirma que uma jornalista é ‘estudiosa de doutrinação e marxismo’. O jornal deveria ter informado mais sobre tais estudos.
Lula e o Pan
O texto ‘Lula reclama de quem acha o Pan caro’ (pág. D1) afirma que o presidente comparou o custo dos Jogos com o do novo estádio inglês de Wembley. O jornal deveria ter comparado a obra britânica, em dimensão e qualidade, com as arenas em construção e reforma no Rio.
Essa é uma observação pontual, que não deve esconder o principal: o acerto da Folha em seguir atenta aos gastos públicos com os Jogos Pan-Americanos.
Castelhano
Na entrevista com Mario Vargas Llosa (pág. E4), há a pergunta: ‘Você sempre se refere a seu pai de um modo muito duro. Em sua biografia, ‘El Pez em El Agua’ (1993), isso está bastante presente’.
Se o livro foi traduzido no Brasil, com o título ‘Peixe na Água’, por que citá-lo em espanhol? Além de impedir que muitos leitores compreendam, pode dar a impressão de não existir edição brasileira.’