Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Crítica diária

26/3/08

Só não vale esquecer

Título do alto da pág. B6: ‘Vale desiste de comprar mineradora Xstrata’.

Não houve chamada na primeira página (Valor e Estado deram), nem na Folha Corrida, que se configura como espécie de segunda capa (o Globo veiculou chamada na pág. 2).

Título do alto da pág. B3 da Folha em 14 de março: ‘Vale fica mais perto de comprar a Xstrata’. Trecho da linha-fina: ‘Anúncio pode ocorrer hoje’.

Naquele dia, houve chamada de primeira página para a iminência do negócio.

Hoje: ‘Segundo Agnelli [presidente da Vale], a aquisição não prosperou porque as empresas não chegaram a um acordo sobre qual delas iria controlar a comercialização dos produtos –e não por causa do valor da compra’.

No dia 14: ‘Tal barreira [quem iria controlar a comercialização dos produtos] teria sido superada, com a Vale abrindo mão do direito de venda de parte da produção’.

Hoje: ‘Havia receio no mercado de que a aquisição resultasse em um aumento do nível de endividamento da empresa, o que poderia, em última instância, comprometer o grau de investimento concedido por agências de classificação de risco’.

Doze dias atrás, descreveu-se a opinião do mercado acerca da ‘capacidade de manter o grau de investimento’: ‘Agora, acredita-se que [a Vale] conseguirá o mesmo [sucesso de negócio anterior, com a dívida refinanciada] na provável aquisição da Xstrata’.

Em negociações, há passos à frente e para trás; o cenário pode mudar.

O ‘olhar’ do mercado também muda.

O jornalismo não tem como acertar sempre; às vezes erra.

O que a Folha devia hoje, no entanto, era um relato sincero e transparente sobre o que mudou.

O jornal estava certo no dia 14? Qual foi o bastidor, então, na reviravolta nas conversas?

Não há balanço, não há memória do ‘furo’.

A Folha deve satisfações aos seus leitores.

Com atraso

Título de hoje na pág. B6: ‘Nippon Steel e Usiminas farão fábrica, diz jornal’.

Título de ontem do Estado, citando a mesma fonte, o jornal Nikkei: ‘Nippon Steel investe em usina’.

O presidenciável

A Folha manchetou o tema que mereceu quatro altos de página, ‘Fracassa 3ª tentativa de vender a Cesp’.

Depois de ler a íntegra da cobertura, a impressão foi de que, além de extensa, ela foi plural.

Faltou, contudo, um aspecto: em Dinheiro, a contextualização política pareceu insuficiente.

O governador afirma que usaria em infra-estrutura os recursos obtidos com a privatização.

Ele deseja, o que é legítimo, conduzir uma gestão marcante no Estado.

O sucesso em São Paulo o fortaleceria como possível candidato à Presidência em 2010.

Faltou apresentar, creio, Serra como presidenciável.

Esse é um aspecto essencial das suas ações –bem como das de outros governantes, de todas as orientações políticas.

Adeus, Marrey

Belo furo do Painel, ‘Serra escolhe Grella como novo procurador-geral’ (título da primeira página).

Seria melhor um enunciado que falasse em ‘mais votado’ ou ‘primeiro da lista’.

Grella (por enquanto) é nome conhecido por poucos.

Marta McCain

Não há como escapar: o foco jornalístico deve ser mesmo, hoje, a disputa no PSDB sobre a sucessão paulistana.

Assim como, nos EUA, é impossível fugir do confronto no Partido Democrata.

A Folha, porém, exagera no esquecimento de Marta Suplicy.

Não me refiro à divulgação acrítica de suas atividades ministeriais, mas ao acompanhamento que o jornalismo crítico deve fazer do poder.

No cenário atual, a petista lembra John McCain, o republicano que assiste de longe ao fratricídio nas hostes alheias.

Greve e locaute

Alto da pág. A16: ‘Discurso de Cristina inflama greve’.

Que eu saiba, greve de empresário tem outro nome, locaute.

‘Dengue : a Folha avança’

A Folha publica furo relevante, ‘Rio cortou verbas para combate à dengue’ (alto da pág. C4, com chamada na primeira página).

O título deveria mencionar ‘RJ’, e não ‘Rio’, formulação que dá a impressão de se tratar do município, e não do Estado.

O jornal quebra o paradigma que até agora orientou o jornalismo, fiscalizar apenas as ações (ou a falta delas) dos governos municipal e federal.

É pena que o gráfico publicado ontem na edição São Paulo não tenha saído hoje na Nacional. O jornal priva fração significativa dos seus leitores de conhecer os recordistas de casos (FHC/Serra) e mortes (Lula/Temporão) por dengue.

A cobertura de ontem não destacou o número de mortes de 2007, que constava do gráfico e mereceu atenção desta crítica.

À noite, o Jornal Nacional fez justo barulho com a informação da qual a Folha fez pouco.

É impressionante como a Folha desvaloriza muitos dos seus furos: recentemente, houve o caso do furto de equipamento da Petrobras; o jornal foi na contramão do jornalismo e, no fim, comprovou-se que estava certo –mas não se lembrou isso aos leitores.

Hoje, o Globo dá mais destaque do que a Folha a uma investigação sobre negócio do ministro Hélio Costa; a transação foi revelada pela Folha.

Para poliglotas

A resenha ‘Troisgros mostra sabor brasileiro a Oliver’ (pág. E8), sobre programa de TV, cita frase do britânico Jamie Oliver, um dos mais chatos personagens televisivos: ‘Hummm… my tongue is funny’.

Não houve tradução.

O leitor não é obrigado a saber o que significa.

Errei

Na crítica da segunda-feira, apontei erro na publicação de crédito fotográfico só com o prenome.

A editoria Brasil esclarece que é assim mesmo que o profissional assina.

Os outros erros enumerados não mereceram até agora esclarecimento ou correção do jornal, bem como muitos outros equívocos identificados por leitores.

Forfait

Esta crítica não circulará amanhã, quando tenho uma série de compromissos no jornal.

Resposta ao ombudsman

Por intermédio da Secretaria de Redação, recebi a seguinte mensagem da editora de Suplementos, Patrícia Trudes da Veiga.

‘Caro Mário,

As capas de Imóveis da Folha e do ´Estado` de domingo foram uma infeliz coincidência de pauta.

Mas, diferentemente do ´Estado´, a reportagem da Folha não foi um release dos novos empreendimentos (o ´Estado` ouve apenas os dois incorporadores e um personagem).

A Folha ouviu especialistas –da USP (Núcleo de Estudos de Habitares Interativos) e de trabalho em casa (Sociedade Brasileira de Trabalho e Teleatividade)–, foi crítica –trouxe pesquisa apontando que a maioria quer morar perto do trabalho, mas não no mesmo endereço–, abordou legislação –ressaltando que o trabalhador deve obedecer ao zoneamento– e foi atrás de cinco personagens que apontaram os prós e os contras de trabalhar em casa.

Dizer, como você afirmou na crítica, que as reportagens ‘são rigorosamente iguais’ é um erro.

Sim, o gancho das duas capas é igual, mas basta uma leitura atenta para descobrir que há –muita– diferença nas reportagens da Folha e do ‘Estado’.

Obrigada,

Patrícia

Comentário do ombudsman

Caríssima Patrícia,

Muito obrigado pela mensagem.

Se você apontar em que trecho eu afirmei que ‘as reportagens são rigorosamente iguais’, reconhecerei prontamente o meu erro.

Mas eu não escrevi isso, como pode ser constatado com a releitura da crítica de ontem.

Uma coisa é pauta. Outra, reportagem.

Grato,

Mário

25/3/08

Progressos

A Folha de hoje evolui em vários aspectos, na comparação com edições recentes.

Em vez de manchetar os altos e baixos dos mercados financeiros mundiais, em uma instabilidade que vai se repetir por muito tempo, o jornal traz manchete relevante, fundamentada em boa reportagem: ‘54 mil esperam radioterapia no país’. É a anatomia da covardia –como sempre, contra os pobres.

A cobertura sobre a epidemia da dengue no Rio melhorou muitíssimo (comentários a seguir).

Os leitores não precisaram recorrer a outros jornais impressos ou fontes da internet para conhecer a classificação do Campeonato Paulista de futebol.

Ao contrário do que ocorrera semanas atrás –houve reclamação de leitor–, informou-se o endereço do blog de uma opositora cubana (antes, era preciso ir ao Google e pesquisar em espanhol).

Espelho meu

Em tempo: as pautas das reportagens de capa dos cadernos Imóveis da Folha e do ‘Estado’, no domingo, são rigorosamente iguais –como notaram leitores.

Título da Folha: ‘Morar no trabalho – Novos empreendimentos paulistanos reúnem escritório e casa na mesma torre’.

Do ‘Estado’: ‘Casa, ambiente de trabalho – Voltados a profissionais liberais e autônomos, surgem lançamentos que combinam residência e escritório, mas com espaços independentes. Áreas comuns possuem até salas de reunião’.

Sem outro lado

Tem dois problemas principais o pequeno texto ‘Serra entra com Adin contra emenda no STF’ (pág. A7).

Primeiro, só apresenta o argumento do governador, omitindo o dos que dele divergem.

Segundo, não identifica a autoria da aprovação da emenda.

A rigor, o relato é quase ininteligível.

Justiça

A reportagem ‘Nova licitação do TJ de Minas prevê sede de R$ 378 milhões’ (pág. A8) dá seqüência à ótima cobertura que o jornal vem fazendo sobre a controversa iniciativa do Judiciário de MG.

Folha Corrida

Uma leitora observa: em ambas as edições, a Folha Corrida anuncia a estréia de uma companhia russa de balé e remete para a pág. E4.

Na edição Nacional, não saiu texto sobre o assunto.

Na edição São Paulo/DF, ele está na pág. E6.

O jornal deve correção, pelo menos aos leitores da edição concluída mais cedo.

Matemática

A reportagem sobre pacientes com câncer à espera de radioterapia, na capa de Cotidiano, cita uma técnica do Ministério da Saúde, que fala dos gastos da pasta: ‘Com a radioterapia, por exemplo, foi de R$ 77 milhões em 1999 e, em 2007, de R$ 146,3 milhões’.

Se os números consideram a inflação do período, a informação tem um significado.

Se não consideram, tem outro.

Era imprescindível esclarecer.

Dengue

A virada positiva da Folha é evidente.

Revolta é o substantivo mais apropriado ao sentimento provocado pela leitura da reportagem ‘Rio demora 3h para atender casos de dengue’ (pág. C3).

Infelizmente, a descrição de (mais uma) covardia não foi acompanhada de imagens. A fotografia da página é de outro hospital, não citado na reportagem.

O leitor da edição São Paulo teve acesso a um excelente gráfico sobre a evolução da doença no país e no Estado do RJ, desde 2002. É o melhor de todos os jornais. Pena que a edição Nacional não tenha veiculado o gráfico.

Os números reforçam a impressão de que não há mocinho na história. No período, o ano de 2002, governo FHC/Serra, teve o maior número de casos registrados. Mas houve mais mortes em 2007, administração Lula/Temporão.

O jornal merece elogios pela maneira sóbria com que tratou as estimativas de letalidade por dengue hemorrágica. Pena que, na edição São Paulo, tenha sido cortado o comentário de um epidemiologista, segundo o qual ‘não se pode fazer um índice desses com uma taxa de subnotificação tão grande. Calculo que apenas 10% dos casos são notificados no Rio’.

O ‘Globo’ considerou, em manchete, que 20% dos pacientes com dengue hemorrágica na cidade do Rio neste ano morreram. Fonte: Secretaria Municipal de Saúde.

A Folha, o ‘Estado’, a ‘CBN’ e outros órgão de informação citaram a ‘taxa superior a 5%’, mencionada pelo ministro da Saúde.

No ano passado, contou a Folha, o índice foi de 27% no Pará, 26% em São Paulo e 20% em Mato Grosso do Sul.

Assinada por quatro repórteres na edição Nacional (e apenas um na São Paulo), a cobertura da Folha hoje está muito boa.

24/3/08

A história oficial

A Folha deveria tirar lições da cobertura que faz da epidemia de dengue no Rio de Janeiro. Não apenas para dar uma virada no noticiário em curso, mas para evitar tropeços semelhantes em outras frentes.

Na quarta-feira, o jornal não publicou nenhuma notícia sobre a epidemia, nem uma notinha (considero a edição São Paulo).

Na quinta, deu no alto da primeira página a segunda chamada mais importante: ‘Dengue no Rio é culpa do prefeito, diz ministro’.

Na sexta, outra chamada na capa: ‘Dengue é epidemia no Rio, admite secretário’.

No sábado, manchete: ‘Exército montará hospital no Rio contra a dengue’.

No domingo, extrato do ótimo artigo de Janio de Freitas: ‘Nenhum dos três governos cumpriu suas obrigações na dengue do Rio’.

Hoje, segunda-feira, manifesta-se de novo a ciclotimia: o jornal não veiculou nem ao menos uma linha de notícia sobre dengue (na edição Nacional, saiu um breve texto em uma coluna). Isso mesmo: zero. Ao contrário dos outros jornais. O ‘Estado’ saiu com alto de página (‘Menino de 12 anos pode ser 50ª morte por dengue’).

Como se vê nos títulos noticiosos da Folha, o jornal se concentra em declarações e anúncios de autoridades.

A reportagem da quinta-feira é editorialmente desequilibrada, claramente favorável ao governo federal, contra o do Município do Rio.

A Folha assegura que o presidente Lula se surpreendeu ‘com os relatos de que a situação era mais grave do que parecia’. Isso é possível. Mas como se pode ter certeza do off do Planalto? O jornal deveria ter reservas com plantações: pode ser verdade, pode não ser. No mínimo, deveria atribuir o relato a assessores, amigos, e não bancar a versão.

Mais grave foi o contraste: para atacar Cesar Maia, optou-se pelo título mais ao alto da primeira página. A resposta do prefeito foi publicada no dia seguinte no pé de uma página interna, sem chamada na capa.

A questão não é quem tem razão, se é que uma das partes tem. Mas sim oferecer destaque semelhante. Cabe aos leitores formar juízo, não ao noticiário expressá-lo.

A manchete da Folha no sábado só teria alguma justificativa se o jornal informasse: qual o peso dos 30 leitos que o Exército oferecerá? Quantos leitos há hoje? Só um hospital estadual está colocando mais 80 leitos à disposição dos pacientes com dengue. Isso não foi nem citado pela Folha. Por que então o anúncio do ministro da Defesa, em Washington, virou manchete?

O jornal parece refém das declarações oficiais. Dá a impressão de não freqüentar hospitais e pronto-socorros.

Não se lê na Folha quantas horas um paciente com dengue demora para ser atendido.

Quanto o município, o Estado e a União investiram no ano passado e nos primeiros meses deste ano no combate à dengue?

Qual foi a ‘qualidade’ do investimento? No passado, a Folha investigou a gestão pública na prevenção e no combate à doença.

Qual a possibilidade de a epidemia do Rio ter reflexos em outros Estados, em especial em São Paulo? Uma blitz em Ubatuba, cujo valor é nulo, conforme um professor da UFRJ, ganhou capa de Cotidiano na sexta-feira.

Qual o quadro de contaminação e mortes por dengue neste ano em todo o Brasil?

Por que a epidemia no Rio?

Por que o jornalismo poupa o governador Sérgio Cabral? Por que ele quase não é mencionado? Por que viajou em plena epidemia?

Cesar Maia, descreveu a Folha, afirma que o ‘regime de chuvas’ de 2008 influenciou. É verdade? O que o jornal tem a dizer? Não basta reproduzir assertivas oficiais, mas confrontá-las com os fatos.

O jornal ouve autoridades e especialistas, mas parece distante do mundo real.

Enquanto a Folha saía com manchete para o declaratório de Nelson Jobim, o ‘Estado’ preferia titular na primeira página: ‘No Rio, falta de plaqueta eleva risco de mortes por dengue’.

Se os políticos travam uma guerra acerca da desgraça da população, cabe ao jornal informar. É um direito dos leitores saber. Mas esse não deve ser o foco da Folha. Político não deve ser pauteiro de jornal.

Contexto: seria interessante conhecer os números-recorde da dengue em 2002, quando José Serra era ministro, para compará-los com os atuais.

O jornal deveria manter uma agenda própria de investigação sobre como o setor público tratou e trata a dengue. Jornalismo crítico não é enumerar declarações críticas de uns contra os outros, mas mostrar a vida como ela é e desconfiar do poder –de todos os poderes.

Deveria ir para a rua contar o que ocorre nos corredores e filas dos hospitais. A propósito: qual é a diferença de tratamento de uma pessoa que corre a um hospital público e a um privado?

O disse-que-disse tornou-se excessivo. É hora de testemunhar o caos, contá-lo aos leitores e investigar a administração pública.

É esse o papel do jornal.

Um dia atrás do outro

Manchete do domingo retrasado: ‘Brasil prevê exportação recorde de matéria-prima’.

Manchete da quinta-feira: ‘Matérias-primas têm a maior queda em 52 anos’.

O jornal errou? Não creio.

A ‘volatilidade’ (sic) nas informações jornalísticas reflete o cenário financeiro incerto.

A história omitida

Wilson Simonal, o artista, era brilhante.

Essa é a minha opinião.

A Folha publica hoje reportagem sobre documentário biográfico de Simonal.

O jornal embarca na versão de que o cantor foi ‘acusado’ de ser informante da ditadura militar.

A história inteira (pelo menos a conhecida): à Justiça ele afirmou que não era informante ‘apenas’ do Dops da Guanabara, mas também de órgão do Exército encarregado de combater os inimigos do regime.

Mais: Simonal levou ao tribunal testemunhas. Policial do Dops e oficial do Exército confirmaram a condição de informante da polícia política e das Forças Armadas.

Não faço idéia se essas informações constam do filme.

Mas é estranho que estejam ausentes da reportagem do jornal.

O motivo é simples: elas constam do noticiário da Folha no dia seguinte à morte de Simonal.

Os documentos legais, nos quais o artista se diz informante e apresenta testemunhas, seguem à disposição. Eles foram revelados pela Folha.

(Essa nota é um tanto constrangedora, pelo risco de sugerir cabotinismo –o autor da antiga reportagem fui eu. Mas considerei que não deveria calar sobre um episódio em que a Folha esquece sua própria história.)

O problema não era espaço

Um leitor chamou a atenção: a seção sobre ‘o que ver na TV’ do sábado informava cinco atrações, quatro delas de outros esportes que não o futebol (vôlei, tênis, boxe e automobilismo).

Qual o nome da seção da Folha? ‘Gol a gol’…

No domingo, a seção anunciou duas (2!) atrações.

Seção semelhante do ‘Estado’ enumerou 14.

Hoje, dia do noticiário mais quente da semana, o caderno Esporte da Folha priorizou reportagem (com descabido tom de editorial) sobre os dez anos da Lei Pelé. A reportagem poderia sair ontem ou amanhã.

O espaço dedicado ao Campeonato Paulista na capa de Esporte foi menor que o reservado para a Lei Pelé, a F-1 e os recordes na natação.

Repito: nenhum assunto interessa, hoje, aos leitores do noticiário esportivo da Folha como o Campeonato Paulista de futebol.

O principal concorrente local saiu com a classificação dos campeonatos das séries A2 e A3 de SP, do Baiano, Mineiro, ‘Carioca’, Gaúcho, Paranaense, Italiano, Alemão, Espanhol, Francês, e Inglês, além do Paulistão.

A Folha não chegou à metade, e em alguns casos a tabela saiu só com os primeiros colocados.

Tradução

Semana após semana, tradutores apelam à Folha para informar o nome do autor da versão de obras literárias estrangeiras para o português.

É um direito dos leitores conhecer a autoria da tradução, até porque ela também deve ser objeto de crítica.

Ontem, o Mais! publicou texto sobre o lançamento do volume de contos ‘A Fêmea da Espécie’, de Joyce Carol Oates.

Quem fez a tradução? O nome não consta da ficha técnica.

Sempre um show

É ótimo o artigo dominical ‘Iraque, Tibete e o discurso da ´missão civilizatória´‘.

Os ensaios da editora de Mundo são hoje um notável diferencial positivo da Folha.

Retrato do (de certo) Brasil

A Revista da Folha teve ontem o seu melhor momento em muito tempo, com a excelente reportagem (‘Pede pra sair’) sobre o treinamento motivacional em empresas usando técnicas e símbolos do Bope.

Pena, pena mesmo, que os leitores da edição Nacional tenham tido acesso apenas a uma parte da reportagem, em Cotidiano.

Quando a melhor reportagem do domingo estiver na revista, ela deveria sair na íntegra em Cotidiano.

Convite à reflexão

Gay Talese, sempre um bom papo, é o convidado da ‘Entrevista da 2ª’.

Iniciativa oportuna.

As opiniões de Talese são um convite a outra discussão: haveria sentido em, no Brasil, promover coberturas semelhantes às dos Estados Unidos, escarafunchando a vida privada de políticos?

Com o silêncio reinante, ganha o direito à privacidade.

Com ele, perdem os cidadãos e consumidores de notícias?

Deu no ‘New York Times’; e daí?

Editorial do ‘New York Times’ virou objeto de texto noticioso da Folha hoje (‘Sarkozy precisa de ´dose de disciplina´, diz ´NYT´‘).

Sigo sem entender: qual a relevância jornalística, no Brasil, da opinião do diário nova-iorquino sobre o presidente da França?

De olho na cidade

Foi boa a escolha da manchete de hoje, ‘Velocidade cai em 7 dos 9 corredores de ônibus de SP’.

Assim como foi um acerto dar chamada para a principal reportagem de Brasil, ‘TCU identifica fraudes fiscais no uso do cartão da Presidência’.

O jornal sem erros

Hoje a Folha não trouxe nenhuma correção.

Nos últimos dias, houve poucas.

Reafirmo: o jornal não deve depender das cobranças do ombudsman para retificar erros de informação.

Na coluna de ontem, citei erro na reprodução de questão de exame dos alunos do ensino médio de São Paulo.

A informação incorreta saiu na sexta-feira retrasada.

Naquele dia, um leitor avisou o ombudsman.

Em seguida, o alerta seguiu à Redação.

Depois, houve nova mensagem de leitor, com o mesmo conteúdo.

Até hoje não saiu Erramos.

Nas últimas edições, houve muitos outros erros, apontados por leitores.

Que eu tenha notado: está errada a afirmação do texto ‘Série é um adeus às ilusões da esquerda’ (domingo, pág. E10), segundo o qual, em 1989, fazia 40 anos que não havia eleições (presidenciais) no Brasil; no mesmo dia, crédito de fotografia na pág. A4, das candidatas à Prefeitura de Porto Alegre, estava incompleto; ao contrário do que diz hoje Gay Talese (a Folha não pode reproduzir o erro sem apontá-lo), François Mitterrand tinha filha, e não filho, fora do casamento.

Jornal erra, tem segunda chance e erra de novo

Nota desta crítica, em 6 de março: ‘O texto ´Restrição de gasolina leva a greve na divisa` (pág. A17) afirma que a gasolina no varejo da Venezuela é uma das mais baratas do mundo. Dá o preço: R$ 7 –um roubo. O correto não seria R$ 0,07?’.

Erramos do domingo retrasado: ‘Por erro da Redação, a reportagem ´Restrição de gasolina leva a greve na divisa` informou que o preço do litro de gasolina na Venezuela equivale a R$ 7. O valor correto é R$ 0,70’.

É mesmo? Só se a inflação disparou.

Não seria de menos de R$ 0,10, como sustentam fontes jornalísticas diversas?

Até o ‘Granma’

Até o ‘Granma’, diário oficial cubano, criou uma seção de cartas de leitores.

A Folha, cujos leitores se manifestam cada vez mais, deveria rever a asfixia atual do Painel do Leitor/ Painel do Assessor.

Nem que fosse, por exemplo, com uma página dominical exclusiva para as mensagens dos leitores, um grande palanque de idéias.

Papel, como se viu com as últimas novidades do jornal, não parece ser problema.’