Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Críticos reprovam edição deturpada

A Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro gostaria de expressar sua apreensão diante das afirmações do crítico Cléber Eduardo [ver carta abaixo] de que suas apurações e opiniões críticas constantes do texto publicado na edição 402 da revista Época, sob o título ‘Hollywood é aqui’, da qual é um dos signatários, teriam sido gravemente deturpadas pela edição. E que os valores e opiniões ali emitidos sobre o estado do cinema brasileiro contemporâneo não coincidem com o pensamento e a versão do co-autor.


Textos críticos implicam forte exposição pública de seus autores e por isso precisam estar claramente fundamentados. Alterações determinadas pelas chefias, ainda que a pretexto de necessidades editoriais, colocam em risco a clareza, a lisura e a qualificação de opiniões assinadas. Isso impacta diretamente a reputação do jornalista e a qualidade da informação que o texto especializado é capaz de fornecer ao leitor.


Assim, a ACC-RJ vem solicitar aos encarregados das edições de cultura dos jornais e revistas brasileiros que abstenham-se de modificações que possam deturpar o texto crítico – e consultem o crítico quando alterações nos seus textos se fizerem necessárias por qualquer motivo.


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Carta da Socine à Época


Em nome da Socine (Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual) vimos aqui manifestar estranheza pela publicação da matéria ‘Hollywood é aqui’, no número 402 desta revista. Informações imprecisas e tendenciosas a respeito do cinema realizado no Brasil só prestam desserviço à história de uma manifestação cultural e industrial tão importante como é o cinema (e o campo do audiovisual).


Mais estranho ainda foi ver o nome do jornalista Cléber Eduardo, de reconhecidos méritos, indevidamente associado a essa trapalhada de Época. A euforia absurda com o propalado ‘sucesso no exterior’ de certos realizadores confirma a posição colonialista desse tipo de jornalismo, assim como desabona décadas de uma cinematografia que tem deixado marcas importantes na nossa história.


O cinema precisa consolidar sua face industrial e comercial – não há dúvida quanto a isso –, mas precisa, também, ver assegurado seu espaço de experimentação e pesquisa – e esse é um aspecto que ainda assusta empresas dedicadas exclusivamente a assegurar seus lucros, ao mesmo tempo em que se isentam de suas responsabilidades sociais e culturais. O cinema precisa ser estudado, incentivado e – parece claro – ensinado.


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Carta do repórter


Quem é o autor?


Sobre a matéria ‘Hollywood é aqui’, da revista Época.
 
Caros amigos,


Em virtude de uma sucessão de reações ao texto assinado por mim na edição 402 da revista Época, lançado na última semana de janeiro com o título Hollywood é Aqui, presto um necessário esclarecimento sobre o fato de eu não assinar embaixo da matéria a mim creditada.


Em sua gênese, o artigo-reportagem tratava das mudanças e continuidades que caracterizaram a ‘safra’ de novos diretores dos últimos 10 anos.


Em sua versão final, completamente reescrita, o texto celebra os diretores de sucesso, ironiza os que não fazem milhões de espectadores, faz a defesa de um certo tipo de cinema em detrimento de outro, embora o tratamento original fosse bem diferente.


O texto publicado mudou de enfoque, de tom, de relação com a realidade, mas meu nome foi, contra o meu desejo e o meu pedido, mantido no alto da matéria. Não respondo por aquelas palavras, que pouco têm a ver com minha apuração e com minhas considerações. A versão publicada inventa contextos e reinventa a situação atual e histórica do cinema brasileiro. Quem não acompanha a atividade audiovisual no país terá a impressão, a partir do texto, de que o cinema popular brasileiro começou nos últimos anos, que nunca os filmes tiveram tanto público, nunca foram tão premiados internacionalmente, que nossos diretores se livraram do complexo de vira-lata.


É um tanto bizarro desmentir um texto assinado por mim, mas me sinto no dever e no direito de fazê-lo, já que, se sempre assumi os custos de minhas posições e de minhas palavras escritas ou faladas, não o farei agora, com meu nome acima do que não foi escrito ou pensado por mim. Alugar o nome para terceiros o utilizarem na defesa de suas idéias e interesses não faz parte de minha atribuição como jornalista ou como funcionário da revista Época.


Adianto que estou de saída da referida publicação, decisão tomada antes desse episódio. Também faço questão de informar que, em minha saída, hoje com a demissão já assinada, a editora Globo tem agido dentro das regras, como se postou até hoje em sua condição de patrão, e menos eu não esperava e não espero da empresa.


Minha divergência pública é com a manipulação do meu texto e não com os números a receber. Não tenho intenções de tirar vantagens financeiras desse episódio, como colegas me estimularam a fazer, porque a questão não é de ordem financeira, mas dos princípios jornalísticos e do desrespeito a eles.


Meu objetivo é apenas reagir a essa cultura da manipulação em nome de interesses extrajornalísticos, e marcar posição para que jornalistas não fiquem passivos diante desse tipo de procedimento tão comum em algumas publicações (a do texto reescrito com teses alheias, mas assinado por quem não escreveu).


Achei um dever chamar atenção para o fato, não apenas para defender minha credibilidade (construída desde 1988 na cobertura de cinema), mas sobretudo para pôr em questão a ameaça à credibilidade jornalística operada por alguns veículos de comunicação em episódios como esse.


Sem mais e grato pela atenção,


Cléber Eduardo

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Presidente da ACCRJ