Uma revolução está ocorrendo sem armas nem mortos ou feridos e a internet é a culpada. Ferramenta que não permite apenas que o acesso à tecnologia seja maior, ela também define novos parâmetros de se obter e produzir cultura.
O fenômeno cultural do filme Tropa de Elite tomou de assalto a nação brasileira em 2007, trazendo à tona diversas questões, entre elas a discussão acerca da tortura como método eficaz no combate ao crime. Porém, a gênese desse ‘barulho’ todo está na razão do filme se tornar primeiro um fenômeno de massa, por meio da proliferação de cópias piratas, ou disponibilizadas na rede virtual.
Atualmente, não é só a produção cinematográfica que sofre com as novas perspectivas da rede virtual. Toda a indústria cultural – leia-se gravadoras, editoras, estúdios cinematográficos e afins – está sob a mira de ‘francos atiradores’, como eu e você. Gente que tem sede, fome de cultura, mas que com o acesso ao ‘mundo digital’ tem poder para decidir o que ver, ouvir e ler, na velocidade costumeira dos novos tempos.
Se antes era fácil para um executivo de uma grande gravadora definir o que seria ‘sucesso’ e com métodos como o velho jabá criar produtos que se tornavam moda e depois repetir a fórmula até a exaustão, hoje o feitiço virou contra o feiticeiro.
Novos formatos de conhecimento
O dinamismo em que ocorre a produção na rede virtual sugere novas percepções e leituras – grupos de música como a banda paulista de rock Cansei de Ser Sexy são exemplo disso. O grupo tem uma boa rotina de shows no exterior devido à comunicação na internet, porém nenhuma gravadora brasileira viu neles algo rentável para se fazer uma aposta aqui no Brasil.
Lógico que a grande massa ainda é suscetível ao que as grandes corporações dão de bandeja, mas ela, como um todo, aos poucos, começa a notar que muito do que consome é o ‘pão e circo’ diário e alienante.
Para despertar de vez consumidores em potencial de cultura é necessário cada vez mais acesso à tecnologia, só que não apenas o discurso político de empregar a ‘popularização’ de computadores nas camadas periféricas. É vital uma educação voltada para os novos formatos de apreensão de conhecimento para que, a médio e longo prazo, tenhamos uma sociedade com embasamento crítico para ‘pautar’ ela mesma o que quer ver, ler e ouvir, sem estar presa às amarras da indústria cultural. O problema é que sabemos que uma população consciente de seu papel na sociedade não é interessante para a política nacional.
Utopia ‘reciclada’?
A possibilidade de compartilhamento de músicas, textos e vídeos em blogs, por exemplo, proporciona que um garoto do interior do Brasil possa ter acesso ao som de uma banda punk da Escandinávia. Esse mesmo jovem pode descobrir no YouTube cenas de um filme de Glauber Rocha e discutir Focault com a mesma ênfase que emprega na leitura da literatura de cordel aos mangás japoneses.
O que estamos vivendo, além da óbvia globalização de culturas, é que o indivíduo com acesso à internet é multifacetado em suas escolhas. Não há mais classes ou identidades que possam definir com exatidão o gosto, hábito ou estilo de vida do indivíduo.
Por fim: a revolução digital muda o consumo, logo a forma de pensar, e pensar criticamente é subverter o sistema padronizado e ‘plastificado’. A cultura sem formato físico voa além das demarcações territoriais e programa novos passos, o que de fato, resultaria em uma sociedade mais consciente de seu papel. Se for mais uma utopia ‘reciclada’, deixe estar… O que importa é que essa nação que tem fome, também tem fome de cultura, tenha ela o formato ou a linguagem que tiver.
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Estudante de Jornalismo da Universidade da Região da Campanha (Urcamp-Bagé, RS)