Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Daniel Castro

‘Apesar dos bastidores tumultuados com as constantes trocas de roteirista e da baixa qualidade do texto de ‘Metamorphoses’, a Record já negocia com a Casablanca, que realiza a novela, no ar há uma semana, a produção de uma segunda trama. Uma minuta do contrato entre a Record e a produtora já está pronta.

Uma ala da diretoria da emissora defende que a próxima novela seja uma produção caseira, própria. Mas a Casablanca está disposta a investir em mais equipamentos e oferece o melhor custo para a Record.

Paralelamente, a rede já busca roteiristas. Um dos convocados é José Louzeiro.

Ele mesmo

Ex-namorado de Deborah Secco, Adriane Galisteu e Wanessa Camargo, só para citar as mais famosas, o menino-enxaqueca Dado Dolabella vai voltar à tela da Globo. Em ‘Dinastia’, próxima novela das oito, será Plínio, o filho mulherengo da protagonista Maria do Carmo (Suzana Vieira).

Aparição

Reservada para ‘América’, novela de Glória Perez que sucederá ‘Dinastia’, em 2005, Camila Morgado irá fazer uma participação na minissérie ‘Um Só Coração’. Interpretará a atriz Cacilda Becker. Usará peruca e lentes de contato castanhas.

Sem mistério

O programa que Gugu Liberato negocia com a Rede TV!, como produtor, é uma sitcom.’



UM SÓ CORAÇÃO
Cassiano Elek Machado

‘Modernismo para as massas’, copyright Folha de S. Paulo, 21/03/04

‘Dia desses, Rudá de Andrade estava deixando o carro na oficina, na cidadezinha paulista de Pedra Bela, quando o jovem mecânico pediu para anotar seu nome.

‘Rudá de Andrade? Você é parente do Oswald de Andrade?’, disse em tom de galhofa o rapaz. ‘É, sou filho dele com a Pagu’, respondeu. ‘Ele quase caiu pra trás’, conta Rudá.

O filho do casal modernista também vive a cena com espanto de ‘cair de costas’. Aos 73 anos, o pesquisador de cinema diz nunca ter ouvido tanta gente nas ruas falando sobre seus pais. E não tem dúvidas sobre como Oswald foi parar na boca do mecânico do município de 6.000 habitantes, onde ‘não há nem banca de jornal’: é o ‘efeito ‘Um Só Coração’.

Não é só o jovem de Pedra Bela. A minissérie da Globo, de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira, vem levando Tarsila, Mário de Andrade, Oswald e toda a trupe modernista quatro noites por semana para a casa de cerca de 1 milhão de pessoas.

Rudá mesmo, o mecânico talvez não tenha se dado conta, está lá. Ele faz parte do seleto time dos personagens dessa novela que podem assistir a si mesmos.

Eles começaram a aparecer só agora. ‘Um Só Coração’ estreou em janeiro, ambientada na São Paulo do emblemático ano de 1922, e as tramas atravessam nesta semana o fim dos anos 30.

Se Rudá aparece garoto, calças curtas e balão vermelho na mão, no circo de Piolim, outra dessas raras personagens que vive dentro e fora dessas telas chega à série nos seus ‘20 e poucos anos’.

Adelaide Guerrini de Andrade, hoje com jovens 85 anos, deve assistir nesta terça à sua estréia nos televisores, vivida pela atriz Júlia Almeida. ‘Um Só Coração’ vai mostrar o começo da paixão dela com Oswald de Andrade Filho, o Nonê (1914-1972), primogênito do escritor de ‘Pau Brasil’.

Pichuca, como era chamada por Nonê, com quem se casou em 1940, vem assistindo à minissérie com um olhar exclusivo. ‘Conheci todos, todos, todos, todos.’

Ela não economiza ‘todos’ para dar idéia dos personagens de ‘Um Só Coração’ que encontrou na vida real: Mário, Tarsila, Pagu, Menotti del Picchia, Luis Martins, Anita Malfatti e longa lista afora.

Só não topou com o Coronel Totonho, Maria Luisa, Samir e outras dezenas de personagens fictícios que completam o elenco.

‘A minissérie não tem obrigação com a exatidão histórica ou biográfica’, expressa Maria Adelaide Amaral. ‘Para isso existe uma ampla bibliografia e especialistas muito mais capacitados do que Alcides e eu. A minissérie é sobre a mitologia de uma certa época de São Paulo e seus personagens que fizeram parte dela, ganharam dimensão mítica e, como tal, são tratados, com a liberdade que têm as mitologias.’

Dona Adelaide, que conviveu com os ‘mitos’, não é tão rígida quanto a autora da série. ‘A novela está mexendo muito comigo. Já estava sossegada, agora aparece tudo aquilo outra vez. Fico triste de saudades’, diz a viúva de Nonê, com os olhos claros ofegantes, como na pintura que o marido fez dela, pregada sobre a cama.

Não é só a minissérie que tem tirado o sossego dela. Acaba de ser lançado ‘Dia Seguinte & Outros Dias’ (editora Códex), livro que Nonê escreveu entre 1965 e 1972 e que só chega a público agora.

Nele, o artista plástico, presente em ‘Um Só Coração’, narra com estilo próximo ao do pai (e com ilustrações que revelam a influência da ‘madrasta’ Tarsila) fatias importantes de suas memórias, ‘biscoitos finos’ que incluem Adelaide, Oswald, Rudá e outros personagens da história, da minissérie e agora da lembrança do jovem mecânico de Pedra Bela e de milhares de espectadores.’

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‘Série tem ‘ibope’ com familiares e na USP’, copyright Folha de S. Paulo, 21/03/04

‘‘Uma vez liguei a TV e vi o Mário de Andrade na minha frente’, diz Antonio Candido.

A frase do principal crítico literário do país não foi pinçada dos fundos empoeirados de algum arquivo. Candido se referia, em conversa com a Folha, na quinta, à minissérie ‘Um Só Coração’.

O autor de ‘Formação da Literatura Brasileira’ conta que não tem visto o programa, exibido em horário ingrato à sua rotina, mas que num dos poucos fragmentos que assistiu se impressionou com a caracterização do escritor.

‘O ator que faz o Mário de Andrade é impressionantemente parecido. Só que o Mário era um palmo mais alto, tinha de 1m86 para mais’, lembra Candido.

O crítico, de 85 anos, não sabia ainda com detalhes, mas ele mesmo vai virar personagem, na série que termina 8 de abril (tendo como pano de fundo final o 4º Centenário de São Paulo, em 1954). Será vivido pelo jovem ator Ricca Barros. ‘Queria que fosse Robert Taylor, Laurence Olivier, Fredric March, Gary Cooper’, brinca.

Mesmo sem esses astros do passado, o corpo dramático de ‘Um Só Coração’ vem passando pelos crivos mais exigentes.

Além de impressionar a Candido, o ‘Mário’ da minissérie surpreendeu também a maior especialista do Mário real, que viveu entre 1893 e 1945.

‘O Pascoal da Conceição [o ator em questão] veio conversar comigo antes de começar a novela’, diz a maior especialista no escritor, Telê Ancona Lopez.

‘Passei a ele a fotobiografia ‘A Imagem de Mário’, respondi o que me perguntou e me diverti muito com o espanto das pessoas na USP ao me verem andar por lá acompanhada de… Mário de Andrade. Ele é realmente parecido.’

Hoje o ator Pascoal da Conceição já seria reconhecido como Pascoal da Conceição interpretando Mário, dentro da USP. A julgar pelo depoimento de um dos principais especialistas em modernismo do país, ‘Um Só Coração’ tem bom ibope também na universidade.

‘Em 43 anos de Brasil nunca assisti a uma telenovela. Agora estou encantado’, afirma Jorge Schwartz. O professor da USP diz que, considerando-se que a minissérie não é feita ‘para os cem especialistas em modernismo, mas para um enorme público’, tem ‘um sabor de época esplêndido, enorme cuidado histórico’.

Familiares dos modernistas ouvidos pela Folha também subscrevem. Guilherme Augusto do Amaral, sobrinho de Tarsila, diz: ‘De modo geral, tudo o que está posto sobre ela é muito coerente’. Adelaide Guerrini de Andrade, cunhada de Oswald, qualifica a interpretação dele por José Rubens Chachá de ‘extraordinária’.

Dos personagens principais, um dos poucos que têm a caracterização criticada, por pesquisadores e familiares, é Pagu. ‘Está exagerada, caricatural, com um exibicionismo excessivo’, afirma a destacada oswaldóloga Maria Eugenia Boaventura, da Unicamp.’



CELEBRIDADE
Artur Xexéo

‘Os mistérios de ‘Celebridade’’, copyright O Globo, 21/03/04

‘No ar há 138 capítulos, ‘Celebridade’ não precisa provar mais nada. É um sucesso. Há algo estranho que acontece com as telenovelas. Elas precisam pegar o espectador nos primeiros 20 capítulos. Se isso acontece, nada mais vai interferir em sua trajetória. A trama pode ficar chocha, a protagonista pode ser substituída, o autor pode passar a pena para o resto da equipe e descansar. O sucesso continua.

Ao contrário, se os 20 primeiros capítulos não agradam, o melhor é interromper seu caminho, precipitar o último capítulo e pôr outra novela no ar. Não adianta mudar o elenco ou trocar o autor. Nem terremoto, como fez Janete Clair, muitos anos atrás, para dar um jeito em ‘Anastácia, a mulher sem destino’, evita o desastre. Nestes casos, vale a velha máxima da atriz americana Talullah Bankhead: quando o público não quer ver, não há nada que o demova. Talullah tentava justificar o fracasso de certas peças de teatro. Mas a frase também vale para telenovelas.

‘Celebridade’ teve 20 primeiros capítulos sensacionais. Apresentou uma heroína irresistível, uma vilã inesquecível e, coisa rara em novelas de Gilberto Braga, um grupo de suburbanos divertidíssimo. (Tá bom, Andaraí não é subúrbio, mas a função que ele representa na novela é, sim.) De quebra, a trama previa praticamente uma festa por dia com participações especiais de gente famosa, o que despertou no espectador a curiosidade de saber quem iria aparecer em cada capítulo. Ainda havia surpresas no elenco, como Ana Beatriz Nogueira em seu melhor papel na TV e Juliana Paes, pronta para estourar como o símbolo sexual da temporada. O personagem de Juliana e o de Deborah Secco garantiam a comicidade com a inacreditável tarefa dos autores de escrever para elas uma comédia de costumes por dia. Tarefa cumprida.

De lá para cá ‘Celebridade’ está tendo altos e baixos. Já não há tantas festas, nem tantas aparições de celebridades verdadeiras. Às vezes, o tema central da novela – a busca pela fama a qualquer preço – que conquistou a audiência pela atualidade, revelando os bastidores das bem-sucedidas revistas de futilidades, é meio esquecido. As cenas cômicas não são mais obrigatórias.

Mas nem por isso o sucesso de ‘Celebridade’ deve ser creditado apenas aos seus primeiros capítulos. Gilberto Braga e equipe não deixaram a peteca cair. Na atual novela das oito, a ação é ininterrupta, o que quase nunca acontece em produções que ficam tanto tempo no ar. A trama não pára. Não acontecem ‘barrigas’ (aquele período em que nada acontece). ‘Celebridade’ não deixa o espectador criticar o fato de que, depois de passar uma semana sem acompanhar a trama, não havia nada de novo no ar. Nunca é assim. Cinco capítulos seguidos perdidos podem significar, no vídeo, o fim de um casamento, o início de um namoro, um acidente de carro, um assassinato, um novo golpe de Laura, uma nova bobeira de Maria Clara, a produção completa de um filme de Fernando. Quando a gente pensa que ele ainda está começando a produção do documentário sobre Dorival Caymmi, ele já acabou o filme sobre biodiversidade.

Tanta ação acaba provocando um pouco de inverossimilhança aqui, um tanto de incoerência ali. Afinal, como é que, ao encontrar-se com Laura quando Maria Clara vendia as salas de seu escritório, Hugo não reconheceu a cachorra que o paquerava na praia? Que fim levou a autobiografia que Iolanda estava escrevendo? Pensando bem, o motivo que leva Laura a querer se vingar de Maria Clara não é tão impactante assim a ponto de ter sido um segredo guardado por tanto tempo. E os golpes de Renato contra Cristiano são tão simplistas que é difícil acreditar que eles possam dar certo.

De qualquer forma, ‘Celebridade’ mostra que Gilberto Braga é um autor que sabe adaptar-se às novas regras do jogo. Ele é um autor do tempo em que novelas duravam 120 capítulos. E que cada capítulo durava, no máximo, 40 minutos. Hoje, as novelas se aproximam dos 200 capítulos e cada capítulo dura 60 minutos. Não dá mais para fazer uma crônica de Copacabana, como pode ser resumida ‘Dancin’ days’. Ou um retrato do Brasil cínico como dá para se definir ‘Vale tudo’. Uma novela dos dias de hoje tem que ser um pouco de tudo.

‘Celebridade’ é uma ácida crítica ao mundo dos famosos por 15 minutos. Mas ninguém consegue manter o espectador ligado falando só sobre isso, durante seis meses, todos os dias, no horário nobre. Então é também uma história de suspense clássica do gênero ‘quem matou?’. E um pouco uma crônica sobre a vida simples da Zona Norte do Rio. e um melodrama tradicional sobre um amor impossível com direito até a paternidades suspeitas. Gilberto Braga resolveu apostar em todas as frentes para ver se alguma dava certo. O surpreendente é que todas deram certo.

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Por falar em celebridades, parem as rotativas. As redações receberam de uma assessoria de imprensa no começo da semana a relevante informação de que Solange Frazão está muito triste com a partida de sua filha para Londres, onde vai estudar. Sei não, de repente, dá capa.’



TV CULTURA
Daniel Castro

‘Cultura, 35, terá Santoro e as sete artes’, copyright Folha de S. Paulo 20/03/04

‘A TV Cultura, que comemora 35 anos em junho, negocia com o ator Rodrigo Santoro, da Globo, para tê-lo gravando a série ‘Contos da Meia-Noite’, com interpretações de contos nacionais.

Segundo Jorge da Cunha Lima, presidente da Cultura, foi o próprio ator que procurou a emissora. ‘Vamos gravar na primeira brecha de agenda que ele tiver.’

O programa _que a partir de abril será exibido também às 19h50_ deverá ganhar, em agosto, uma versão infantil, ‘Contos do Meio-Dia’, com textos de Ruth Rocha. ‘Estamos atrás de dinheiro’, afirma Cunha Lima.

A partir de maio, a Cultura irá festejar seus 35 anos com o mote das sete artes, com coberturas especiais mensais para cada uma delas. Em maio, será a vez da dança. Haverá uma festa no Teatro Municipal com coreografias especiais das companhias Cisne Negro, Stagium e Balé da Cidade, transmitidas ao vivo por TVs públicas de todo o país.

Junho será o mês do teatro, com a exibição de antigos teleteatros, remasterizados, de Antunes Filho, Silvio de Abreu e Cassiano Gabus Mendes, entre outros.

Em julho, mês da música, haverá a cobertura do Festival de Campos do Jordão. Agosto, da literatura, terá cem expressivos contos nacionais declamados nos intervalos. Em setembro, com a Bienal de São Paulo, será a vez da pintura e da escultura. Por fim, outubro será dedicado ao cinema.

OUTRO CANAL

Escalado

O ator Wagner Moura, da série ‘Sexo Frágil’, será José Mayer quando jovem na próxima novela das oito da Globo, ‘Dinastia’. Na primeira fase, nos anos 60, ele interpretará Dirceu, um preso político, que conhece a protagonista Maria do Carmo na cadeia. Nos anos 90, jornalista, Dirceu será vivido por Mayer.

Globais

O SBT acaba de fechar os dois primeiros nomes de sua próxima novela, ‘Deus por Testemunha’ (título provisório): Bete Mendes e Françoise Forton.

Bancada 1

A Record faz simulação na próxima quinta e grava no domingo, 28, piloto do ‘Domingo Total’, sua versão do ‘Fantástico’. O piloto será ‘ao vivo’, com entradas em tempo real de repórteres, apresentadores e afiliadas.

Bancada 2

Lorena Calabria (Multishow), já está fechado, será um dos cinco apresentadores do ‘Domingo Total’. Os outros nomes já confirmados são Amália Rocha, Otaviano Costa e o ator e jornalista Nill Marcondes (o traficante Jamanta de ‘Turma do Gueto’).

Chiado

A Rede TV! suspendeu a exibição do quadro ‘A Hora da Morte’, do ‘Pânico na TV’, que prega peças nas pessoas. Não só pelas reclamações de vítimas. Nesta semana, os humoristas jogaram tinta no pára-brisa de um carro da própria TV, que bateu.’