Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

De sete nossa crônica esportiva leva todos os dias

Próximo de completar um ano da tragédia (?) do Mineirão, desejo fazer algumas considerações a respeito do comportamento da nossa mídia na cobertura futebolística.

Que o futebol praticado no Brasil tem baixa qualidade é fato. Não foi a humilhante derrota para a Alemanha que comprovou isso. Para bom entendedor, desde meados da década de oitenta nosso futebol empobreceu, com o êxodo de nossos melhores jogadores para a Europa, principalmente Itália.

O torcedor mais apaixonado relembrará os títulos.

Os comentaristas de meia pataca enaltecerão Romário, Bebeto, Ronaldo e Rivaldo.

Mas desde há muito tempo nem só com jogadores se faz futebol.

Nossos clubes são sinônimo de atraso. Os dirigentes são corruptos em sua maioria, com interesses outros que não o futebol, ou, quando bem intencionados, incompetentes para gerir um negócio de milhões com amplo mercado consumidor. Os técnicos de mentalidade tacanha, lutando por seus empregos a qualquer custo, mesmo que isso signifique fugir de sua filosofia de trabalho.

Os problemas não param por aí. O câncer a corroer a paixão nacional é fomentado na mídia esportiva. Poderia dar mil exemplos de como comentaristas e repórteres prejudicam nosso futebol. Mas vou ater-me apenas à sete.

Um a Zero: Desperdício de tempo

Apesar da máxima de que tempo é dinheiro, desperdiçam-no em debates infrutíferos e discussões inócuas e repetitivas. Temos o problema financeiro dos clubes que deveria ser aprofundado, fazendo contas na ponta do lápis, entendendo as causas da crise, trazendo economistas ou advogados tributários que explicassem os erros administrativos cometidos para se chegar tão fundo no poço. Nós, cidadãos comuns, precisamos de alguém que fuce os balanços dos clubes, esmiúcem as transações e contratos, e esse deveria ser o papel da imprensa. Lançando luz sobre essa questão, certamente contribuiriam para a melhoria do gerenciamento dos clubes.

Dois a Zero: Cornetagem

Característica principal de nossa crônica esportiva. É fácil dizer que tal jogador é ruim e meter o pau nele. Mas creio que não se pode criticar alguém por suas deficiências. Ninguém criticaria um cego porque não sabe dirigir. A análise deve ser feita de acordo com as possibilidades de cada jogador. Se o volante passa mal, e o treinador tem um melhor passador no banco, a crítica vai para o “professor” que prefere o brucutu. Caso no elenco não haja outra alternativa, critica-se a diretoria por não formar um bom plantel. A crítica ao atleta deve ser feita quando jogar aquém de suas possibilidades. Exigir um 10 de quem só tem capacidade de tirar nota 5 é covardia. A cornetagem só torna ainda mais ignorante a torcida.

Três a Zero: Esquecimento

Por quê no Brasil os problemas se repetem tanto? Será porque a mídia só se preocupa com determinada pauta quando ela dá audiência? Vejam o simbólico caso da Portuguesa. Cobriu-se o julgamento, mas ninguém aprofundou o tema. A cornetagem fala mal do Fluminense, mas ninguém pressionou o Ministério Público, que diz existir mais caroço embaixo desse angu. Quem corrompeu? Quem foi corrompido? Tema importante que agitaria as estruturas do nosso futebol, mas que foi deixado de lado. O funcionamento do TJD é pouco discutido, pois só entra na lista às vésperas de um processo controverso ou após decisão estapafúrdia.

Quatro a Zero: Mesmice

Todos os programas são iguais. Deviam arriscar-se e fazer algo novo. Determinadas emissoras privilegiam certos times na busca de audiência, esquecendo até aqueles que estão em maior evidência dentro de campo. Acredito serem possíveis outras fórmulas, afinal nós, o público, não somos tão estúpidos a ponto de abrir mão de conteúdo de qualidade só porque não fala do nosso time.

Cinco a Zero: Imposição da minha verdade

Muitas vezes os debates se prolongam porque um comentarista quer convencer o outro da sua verdade. Quando o correto seria cada um dar sua opinião deixando ao telespectador a liberdade de encontrar a razão.

Seis a Zero: Falta de senso jornalístico

Acredito que muitas informações passam desapercebidas porque os repórteres abordam sempre o mesmo tema, priorizando o sensacionalismo à notícia realmente útil. São cerimoniosos com determinadas figuras, poupam os mais amigos e atêm-se a debates que não levam a lugar nenhum. Os assuntos limitam-se a: queda do treinador, insatisfação pela reserva, repercussão de declarações polêmicas em redes sociais(essa virou moda) e atraso de salário. Nunca temos informações muito além destes temas.

Sete a Zero: Análises injustas

Vários personagens do nosso futebol quando dizem que a imprensa deturpa fatos têm razão. Já vi comentários serem pinçados, tirados do contexto, para gerar polêmicas. Elogios exagerados para quem não merece, críticas exacerbadas a quem carece de carisma ou trato com a mídia. Certos “artilheiros” após perderem quatro gols, dependendo do comentarista, são enaltecidos por sua persistência ao marcarem. Outro que não contar com a mesma simpatia dos analistas, simplesmente ouvirá que finalmente fez um gol depois de tantos desperdiçados. Tratamento diferente para uma mesma situação.

Por essas e outras, os Marins, os Del Neros e Euricos da vida tomam conta do futebol e fazem dele o que querem. Precisamos de um jornalismo esportivo mais sério, confiável e que possa servir de apoio aos profissionais envolvidos realmente interessados no sucesso de nossa maior marca no mundo.

Sete a Um

Este tento é por minha torcida de que no futuro o jornalismo esportivo possa transformar a paixão nacional em algo que nos dê realmente orgulho.

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Edilson Luiz da Silva é funcionário público