Saturday, 21 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Delegado mente a jornal e desrespeita a Justiça

Lamentável a declaração do delegado do caso Bruno, Edson Moreira, à Folha de S.Paulo do dia 15 de agosto. Em resposta à denúncia que lhe fiz de ter fraudado provas e manipulado o inquérito para transformar-me de vítima a réu no assalto que resultou na morte de minha mulher, em 2000, Moreira criticou a Justiça e voltou a mentir. Ao invés de acatar a decisão unânime e soberana da Justiça, que legitimou a minha versão do assalto como única e verdadeira, insurgiu-se contra o Tribunal do Júri, a mais antiga e democrática instituição jurídica do mundo.

Moreira afirmou à repórter Cristina Moreno de Castro que ‘jurado é leigo, age pelo coração e a emoção e não gosta de provas científicas’. Não satisfeito, o delegado afirmou que a defesa ‘postergou o processo que caiu no esquecimento’. E mais: que a versão do assalto foi investigada e descartada.

Se a decisão dos jurados contrariou as provas dos autos, como diz Moreira, por que a acusação não conseguiu a nulidade do julgamento? Pelo que disse o delegado, os desembargadores da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de MG, Sérgio Braga, relator do acórdão confirmando a versão do assalto, e seus pares Eduardo Brum e Edelberto Santiago, que acompanharam a sua decisão, também são ‘leigos’. A lamentável acusação do delegado atinge, também, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Nilson Naves, e do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que foram igualmente favoráveis à minha inocência, no cumprimento da soberania dos veredictos preconizada na Constituição Federal (Art. 5º, inc. XXXVIII, ‘c’).

Específicos, objetivos e isentos

Não foi, também, o advogado Marcelo Leonardo que postergou o processo. Foi a acusação, com a infinidade de recursos. E perdeu todos. Meu caso não caiu no esquecimento porque eu não deixei. A mídia, coadjuvante da acusação por omissão e incompetência, é que desdenhou da minha versão do assalto ao legitimar a acusação policial como única e verdadeira. E perdeu também. Por conta disso, em momento algum deixei ou deixarei que esse meu drama caia no esquecimento. Vai para a história como um dos maiores crimes praticados contra a liberdade de imprensa deste país e também como um dos maiores erros da imprensa.

Os impropérios do delegado na reportagem da Folha não ficam por ai. Ele disse que tinha ‘provas científicas’ de que eu era o culpado. Ora, quais são essas provas? No inquérito Nº 654/2000, enviado por ele à Justiça, foram elaborados três laudos sobre a arma colocada no local do assalto para incriminar-me (digital, balística e teste para saber se ela soltava pólvora). E todos esses laudos foram favoráveis à defesa. Outro laudo, para saber se havia pólvora em meu braço (residuográfico), também foi negativo.

Também os demais levantamentos técnicos feitos no corpo da vítima e no local do assalto foram favoráveis à defesa. Por tudo isso, gostaria muito que o delegado explicasse por que foram feitos dois depósitos da arma: um sobre a pedra e outro sobre um pano preto grande, sugerindo que utilizei uma luva. Cadê a foto do primeiro depósito da arma, conforme auto de apreensão feito pela sua equipe, e que não consta no Laudo de Levantamento do Local 010 00 232? Quem fez a segunda montagem fotográfica da arma sobre um pano preto que substitui a primeira foto neste laudo? Cadê a misteriosa luva? Sumiu no fórum ou nunca existiu?

Sugiro ao delegado e aos que ainda duvidam do que estou falando que leiam o processo ou então o meu livro A Justiça dos Lobos – por que a imprensa tomou meu lugar no banco dos réus (disponível para compra no site WWW.aimprensalivre.com) para que possam inteirar-se desses fatos vergonhosos. Afinal, a polícia, como instrumento provisório do Poder Judiciário, pode ser genérica na sua fala ao público, mas nós, jornalistas, não gozamos dessa prerrogativa. Temos que ser específicos, objetivos e isentos. Por isso escrevi o livro, que nada mais é do que o processo comentado e ilustrado dessa fraude.

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Jornalista