Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Depende de onde vem

É preocupante o nível de interferência ideológica em notícias e opiniões de renomados profissionais de jornalismo dos maiores meios de comunicação no Brasil. Esperamos de jornalistas sérios não o mito da imparcialidade, que os maiores meios de comunicação do país insistem em sustentar. Talvez sustentem este mito para que notícias veiculadas nestes meios tornem-se ‘verdades inquestionáveis’ e ao mesmo tempo, caso algum erro seja cometido, não seja levantada a hipótese de má-fé, movida por interesses pessoais ou convicções ideológicas.

Nesta última semana estava lendo um artigo do jornalista William Waack, em sua coluna no portal de notícias G1. No artigo, do dia 19 de novembro de 2007, que tem como título ‘Precisamos valorizar nossas forças armadas’, Waack defende a importância de se modernizar nossas forças armadas com o objetivo de alcançar um maior destaque na política externa, como deixa claro logo no primeiro parágrafo:

‘O Brasil precisa comprar e vender armas para fazer política externa? Precisa. A gente goste ou não, aspectos militares fazem parte da projeção internacional de qualquer país que pretende ter sua voz mais ouvida, como é o caso do Brasil.’

Dois pesos…

O jornalista deixa sua opinião que é de direito, aliás, de todo ser humano, sendo ou não jornalista. Mas o que me chamou a atenção foi um artigo do próprio William Waack no mesmo espaço do portal G1, no dia 5 de fevereiro de 2007. O artigo de fevereiro Waack ataca o presidente da Venezuela, Hugo Chávez justamente por modernizar suas forças armadas.

‘Não há, a não ser na cabeça desequilibrada de Chávez, qualquer perigo real ou ameaça militar à soberania e integridade de seu país. O que ele gasta com armas faz falta em muitos setores na Venezuela, e fará mais falta ainda com os preços do petróleo estabilizando-se em torno de 50 dólares o barril (uma queda de mais de 30% nos últimos seis meses).’

Além de criticá-lo por modernizar as forças armadas da Venezuela, Waack chama Chávez de desequilibrado por temer um ataque externo a seu país. Sendo que Chávez sofreu uma tentativa de golpe em 2002 e, comprovadamente, a CIA, a agência de inteligência norte-americana, deu suporte ao frustrado golpe. E em nenhum momento é levada em questão a possibilidade da Venezuela também procurar uma maior projeção internacional através das aquisições de materiais bélicos mais modernos, segundo a própria lógica do jornalista.

Verdadeiros julgamentos

Waack fez coro com militares brasileiros que, mais uma vez, e com razão, reivindicam melhorias nas forças armadas, aproveitando as recentes aquisições do governo venezuelano para chamar a atenção do governo brasileiro. O que fica evidente, e isso é grave, é a incoerência movida por convicções ideológicas, pois legitima uma prática que antes condenara.

O que é perigoso nisso tudo é o mito da imparcialidade, da isenção, do qual muitos jornalistas dos maiores meios de comunicação se utilizam para deixarem suas sentenças, em verdadeiros julgamentos disfarçados de fatos jornalísticos.

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Técnico em telecomunicações, Queimados, RJ