Veja e Época mantiveram seus repórteres na região Sul do Brasil, e publicam relatos sobre a volta dos flagelados pelas chuvas ao que restou de suas casas. As duas revistas semanais de informação mergulham na intimidade das famílias atingidas pela catástrofe e contam histórias de superação e confiança em meio à desolação geral.
A contabilidade oficial alcança 79 mil pessoas desalojadas, 119 mortos e 31 ainda desaparecidos. Mas os jornalistas calculam que o número de desaparecidos pode chegar a 80.
Segundo as duas revistas, a maioria dos desabrigados está tentando retomar a rotina e reconstruir seus lares, mas as cidades atingidas, principalmente em Santa Catarina, ainda não contam com boa parte da infra-estrutura afetada pelas enchentes e deslizamentos de terra.
Faltam água encanada, luz elétrica e outros serviços públicos. Cerca de 33 mil pessoas ainda vivem em abrigos provisórios, dependendo da ação de funcionários da Defesa Civil e de voluntários.
Balanço parcial
Veja e Época recolheram belas histórias de gente que deixou seus negócios e se dedica há semanas a ajudar na distribuição de mantimentos, roupas e medicamentos. Em alguns municípios, como Blumenau, a catástrofe vai provocar mudanças até mesmo na organização urbana: bairros inteiros, destruídos pelo efeito das chuvas, terão que permanecer desabitados porque a estrutura dos terrenos não permite construções.
Depois de fechar os olhos para a ocupação de áreas de preservação, autoridades do estado e dos municípios tratam de aproveitar a destruição para criar zonas de exclusão, o que pode ajudar a recuperar encostas e evitar novas tragédias no futuro.
As duas revistas destacam a pronta atuação das redes sociais, que fizeram chegar à região, de forma organizada, recursos suficientes para evitar que a catástrofe natural fosse agravada pela fome e a falta de medicamentos.
Praticamente todos os moradores atacados por leptospirose e outras doenças provocadas pela contaminação da água estão em tratamento nos hospitais de emergência montados pelas Forças Armadas.
O balanço parcial feito pela imprensa dá conta de que o pior já passou e prevê que a recuperação das perdas materiais pode começar logo. Entre os muitos casos de solidariedade relatados pelas duas revistas, destaque para a decisão dos empresários da região: eles fizeram um pacto para evitar demissões durante os próximos três meses.
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Contradições da crise
Os jornais ainda não encontraram o tom para tratar dos efeitos da crise financeira internacional no Brasil. As edições do fim de semana e as da segunda-feira (8/12) mostram indicadores pouco otimistas com relação à oferta de empregos, mas o noticiário não permite avaliações mais precisas, porque a imprensa apresenta estatísticas baseadas em períodos diferentes.
Assim, o leitor fica sem saber se os números atuais são comparados a índices históricos ou ao período de atividades infladas que antecedeu imediatamente o estouro da bolha de crédito imobiliário, nos Estados Unidos.
Uma das contradições mais evidentes aparece na comparação entre alguns índices apresentados pelos jornais e declarações de empresários anunciando novos investimentos. Além disso, as primeiras avaliações sobre o comportamento do consumidor revelam que os brasileiros estão indo às compras de Natal, o que contraria o pessimismo evidente do noticiário.
Profissão reclamão
O Globo, que se destaca pelas escolhas de manchetes catastrofistas há quase um mês, informa, por exemplo, que neste fim de semana o movimento nos shopping centers do Rio foi 50% maior do que a média. Ao mesmo tempo, o jornal carioca cita pesquisa segundo a qual cerca de 30% dos consumidores declaram que neste ano irão às compras com mais cautela, evitando endividamento fazendo escolhas mais cuidadosas.
Ora, sob qualquer critério, com ou sem crise, consumidores conscientes são um benefício para a economia e não deveriam ser motivo de preocupação e noticiário negativo.
Outro aspecto interessante a ser observado no noticiário econômico é a mudança na abordagem da questão cambial. Até bem pouco tempo atrás, a imprensa criticava a valorização do real, afirmando que o dólar em baixa prejudicava os exportadores. Agora, os jornais publicam entrevistas de empresários reclamando da alta do dólar.
O leitor de interesses variados, que não entende a linguagem especializada dos negócios, pode ficar com a impressão de que a profissão de certas personalidades do noticiário é reclamar.