Kiev, madrugada de quarta-feira,19 de março.
Encabeçado por um indivíduo loiro, com rabo de cavalo, um grupo de seis a sete deputados do partido neonazista Svoboda invade a sala de Olexandr Pantelejmonow, diretor da NTU, a TV Estatal em Kiev.
Primeiro, o loiro agarra Pantelejmonow pela gravata e, aos empurrões e bofetadas, auxiliado por sua entourage tenta jogar o diretor da estação na cadeira de sua escrivaninha.
Pantelejmonow resiste, reergue-se, ao que é esbofeteado e socado novamente na cadeira.
Enquanto o loiro esbraveja, um dos deputados agarra uma folha de papel em branco. O loiro de rabo de cavalo agarra uma caneta, enfia-a no rosto do diretor e obriga-o a assinar sua própria demissão.
Sem protestos
O “motivo” do atentado: a reprodução pela TV estatal da Ucrânia do discurso do presidente russo, Vladimir Putin, sobre o referendo e a adesão da Crimeia à Rússia.
Acusado de promover “propaganda russa”, em seguida Pantelejmonow é arrastado para fora de sua própria sala e levado embora, com destino desconhecido.
Em tempo: o loiro com rabo de cavalo é o deputado nazista Igor Miroschnitschenko, membro da “Comissão Parlamentar de Liberdade de Imprensa” do governo provisório golpista, empossado em 10 de março último.
A única organização a emitir nota de protesto até a noite do dia 19 foi a Anistia Internacional. O resto, como disse o príncipe dinamarquês no drama de Shakespeare, “o resto é silêncio” – nenhuma palavra de indignação em Washington, Berlim, Paris ou Londres, guardiãs da “democracia” implantada em Kiev.
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Frederico Füllgraf é mestre em Comunicação Social pela FUB – Universidade Livre de Berlim e ex-aluno da DFFB – Academia Alemã de Cinema e Televisão, também em Berlim. É escritor (A bomba ‘pacífica’- o Brasil e outros cenários da corrida nuclear, Brasiliense, 1988), roteirista e diretor de cinema (premiado pelo projeto DocTV do MinC, em 2006) e desde 1985 atua como produtor associado da Radio e TV Pública da Alemanha (ARD), atualmente baseado em Santiago do Chile