Na sexta-feira (18/2) saiu matéria de capa no caderno Rio Show, do Globo, que apresenta a programação cultural no Rio de Janeiro. Indicava uma festa, denominada Ploc’s 80, como um bom lugar para se passar horas agradáveis ao som de músicas da década de 1980.
Depois de ler o editorial assinado pela editora-assistente Gabriela Goulart, e a matéria do repórter Jefferson Lessa, resolvi conhecer o local naquela noite, pois parecia ser bom mesmo. Para minha surpresa, descobri que a casa tinha sido interditada pela Defesa Civil naquele dia, por falta de alvará e devida vistoria de suas condições de segurança.
Perplexo com o ocorrido, lembrando que outros locais em iguais condições haviam sido palco de tragédias – em Buenos Aires, em Belo Horizonte ou em Osasco –, no dia seguinte telefonei ao Globo para criticar o fato de o jornal ter feito matéria que induzia seus leitores a freqüentar um evento sem segurança; pois quem pode me garantir que não seria nessa sexta o dia da desdita no local?
Ressalto que telefonei na ilusão de que o jornal tinha esquecido de apurar esse detalhe fundamental sobre segurança, o que comprometia sua credibilidade, devendo portanto uma satisfação aos leitores pela falha.
Na quarta-feira (23/2) recebi telefonema do Globo, e a pessoa de nome Neli disse que estava ali para esclarecer o ocorrido. Ressaltou que o jornal não tem nenhuma responsabilidade quanto à interdição, pois fecha a edição da revista Rio Show na quarta-feira anterior à publicação. Alegou que a matéria tinha sido enviada pela assessoria de imprensa da casa e que eles não podiam prever que o local seria interditado. Contrapus que o jornal deveria ter apurado sobre as condições de segurança do local antes de indicá-lo; segurança, acredito eu, é item fundamental para a tranqüilidade das pessoas. Ao fazer matéria de capa o jornal estava corroborando a situação, que poderia acabar em tragédia envolvendo seus leitores.
Otários somos nós
Tive que ouvir que o jornal não tem obrigação de apurar se o local está ou não legalizado e seguro na forma da lei, que não tem esse compromisso com os leitores, que um caderno cultural apenas indica, e se a pessoa vai é por sua própria conta. Aí fiquei indignado. Afinal, compro um jornal porque acredito nele, compro um jornal para saber a opinião do jornal, e não de um assessor de imprensa. Se o jornal me envia a uma arapuca é porque acredito nele, e não porque gosto de arriscar minha vida por aí.
A encarregada me pediu então para aguardar, que consultaria a redação do jornal sobre o assunto. Veio então a decepção maior. O editor Artur Xexéo, um jornalista que considero formador de opinião (pelo menos colabora com a formação da minha), confirmou, segundo ela, que o jornal não tem obrigação de verificar se um local por ele indicado é ou não vistoriado pela Defesa Civil, se é ou não seguro para seus leitores.
A alegação faz pouco da minha inteligência, pois quando um jornal quer descobre até declaração de renda de corrupto.
Pergunto: quem deve fazer isso? Eu? A gente que se vire? Otários somos nós, que acreditamos em tudo que lemos? Lamentável.
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Engenheiro e tecnologista da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen)