Acompanhei, ao vivo, todo o drama do zagueiro Serginho e confesso que não consegui dormir. A imagem vai demorar a sair da cabeça de todos nós, porque foi muito forte.
Mas outra imagem também me chocou bastante. O repórter Roberto Cabrini, da Band, sentenciando que o jogador morreu porque não foi atendido de forma adequada, avalizado por um médico que estava nos estúdios. Confesso que senti nojo ao perceber a intenção do apresentador em fomentar um debate às custas da infelicidade alheia. Foi deprimente. Mais revoltante ainda é saber que a carreira que eu escolhi – o jornalismo – tem dessas coisas. A gente perde a fé, o ideal e até a alegria de viver, ao saber que estamos propensos a este tipo de papel. Mas, por outro lado, parabenizo a postura do diretor de Redação da revista Placar, Sérgio Xavier, na coluna ‘Quem matou Serginho?’.
Depois de ler o texto do jornalista acerca da tragédia, tive a certeza de que toda a desilusão que o Cabrini me fez sentir foi transformada em esperança ao ler tão sensatas e equilibradas frases. Ainda bem que o jornalismo conta com pessoas que, como Xavier, conseguem, literalmente, pensar.
Roberto Cabrini já havia dado a sua contribuição ao ‘desjornalismo’, mas um dia depois foi a vez do José Luiz Datena, em seu programa Brasil Urgente. Em nome da ‘democracia’, o apresentador culpou o serviço médico do Morumbi, chamou o médico/diretor do São Paulo de leigo, perdeu o controle ao ser respondido à altura e, para piorar, retirou o médico do ar, ao se sentir contrariado. É o fim! Tudo se transforma em mercadoria, como previu, em meados do século 19, Karl Marx.
Ao Cabrini, ao Datena, à produção da Band faltam-me palavras. Pior não poderia ter sido. Meus sinceros pêsames. Até parece que os jornalistas já esqueceram do famigerado caso da Escola Base, onde vidas foram destruídas de forma irresponsável.
Os bisonhos episódios me fizeram lembrar, também, a investigação do jornalista Caco Barcellos que resultou no livro Rota 66. A história da polícia que mata. Na oportunidade, o jornalista constatou que 12 mil pessoas, entre 1970 e 1992, foram assassinadas pela Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar). Durante seis anos investigando os procedimentos adotados pela corporação, Barcellos conclui que se atirava primeiro e perguntava-se depois.
Jornalismo agonizante
É justamente isto que estão fazendo agora. Não há provas, nem suspeitos. Há, sim, culpados, na visão dos ‘ilustres’ jornalistas (?).
Infelizmente, o destino do jogador está selado. Devemos cuidar, agora, das pessoas que ficaram e protagonizaram essa triste história. Procurar culpados, neste momento, é cômodo e rende audiência. Na busca vil e venal por pontos no Ibope, alguns jornalistas (?), certamente respaldados pelas emissoras em que atuam, dão o maior exemplo do que não devemos fazer na imprensa
Para os ‘Cabrinis’, um alerta: o respeito ao próximo deve existir sempre. Ainda mais em se tratando do desfecho infeliz do caso. Pontos na audiência, com certeza, não devem se sobrepor aos valores morais.
Culparam do motorista da ambulância à falta do desfibrilador (a lista de ‘indiciados’ é bem mais extensa do que a citada). Agora que o aparelho salva-vidas tornou-se estrela nacional, gostaria de dar uma sugestão: utilizem o deus-fibrilador para salvar a vida do jornalismo brasileiro, que agoniza na mão de seres tão ignóbeis.
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Estudante de Jornalismo do Uni-BH