Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Diga ‘não’ às drogas

Nesta semana tomei uma decisão muito importante na minha vida: resolvi abandonar as drogas. Liguei para o serviço de atendimento e cancelei a minha assinatura do jornal O Globo.

Foi uma decisão muito difícil, pois tenho que confessar que me habituei a acordar pela manhã e ter aquele panfleto debaixo da minha porta. Mas o que me levou a tomar tal decisão foi, além do entorpecimento diário por informações tendenciosas, o tratamento que o jornal anda dando ao processo de reformas constitucionais que acontece nas vizinhas Bolívia e Venezuela.

É muito ruim que, tendo a potencialidade imensa que tem, o nosso país ainda não tenha resolvido 10% dos seus problemas: os poderosos não vão presos, a desigualdade mata pessoas, a corrupção graceja, as diferenças são estigmatizadas, o leite é adulterado e as meninas são presas e estupradas…

Ameríndio, europeu e africano

Mas pior ainda é querer dar palpite na vida do vizinho, quando nosso quintal está todo emporcalhado.

E é isso que a inteligentsia nacional faz: arrota indignação contra as reformas que os indígenas lá dos Andes querem fazer em suas vidas. E o estandarte-mor desta ignomínia é a grande imprensa brasileira – personificação histriônica da imbecibilidade nacional.

Darcy Ribeiro, em sua grande obra, presenteia-nos com uma concepção sobre o Povo Brasileiro que há muito me fascina. Fruto de uma simbiose entre o ameríndio, o europeu e o africano, nossa ontologia ficou marcada por uma saudável mistura e estaria reservado à nossa gente um virtuoso e destacado papel ao romper da modernidade.

O motivo da dor de barriga

Acontece que a grande mídia, a comunicação hegemônica, está destruindo esta visão idílica que Darcy deixou de herança. Parece que o consumo contínuo das informações manipuladas entupiu as nossas idéias, como um THC ideológico que se aloja no cérebro e nos torna subservientes e abobados. Está aí a ‘produção cultural’ da Rede Globo que não nos deixa mentir: parece que a única ‘cultura’ que temos nos 8,5 milhões de km2 de Brasil é a aquela se desenrola na zona sul carioca. Seja no Leblon, seja em Copacabana, seja na ‘Portelinha’.

Deixemos a Venezuela em paz! Deixemos o Morales numa boa! Os caras estão tentando mudar uma história de 500 anos de dominação e opressão, com instituições viciadas e massacrantes. E em nenhum momento a sua população está fora do processo; pelo contrário, todas as modificações constituintes passarão por referendos e plebiscitos.

Quero ver as Organizações Globo e outros jornalões fazerem o mea culpa sobre o atraso histórico que legaram ao ethos nacional. Quero ver a mídia não só apontar as nossas mazelas, mas, sim, denunciar o motivo da nossa dor de barriga. Apontar o que está errado é fácil, o difícil é denunciar a razão. E de uma coisa eu tenho certeza: a culpa é do sistema que escolhemos. Então, se outro mundo é possível, deixe o coronel perguntar ao seu povo se é isto que eles querem. E viva Bolívar!

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Professor de ciências sociais, Valença, RJ