Li um texto de Washington Araújo e aqui teço meu comentário. Transmito-o para você, Alberto Dines, pois gostaria de contar com sua opinião sobre esse nosso mundo. Sou uma admiradora do seu texto e concordo quase sempre com as críticas lançadas sobre esta profissão. No jornalismo, ainda me considero um bebê, já que tenho muito a estudar e me especializar também. Somos vistos pelo prisma do veículo em que escrevemos e não pelo que somos, ou por nossos estilos? Tenho lutado para tentar responder essa pergunta. Tenho lutado para não ser confundida com o dono do jornal, que não é jornalista, mas mente para si mesmo que é.
Não é raro que me perguntem para onde e para quem trabalho. Espantam-se. Fazem cara de decepção, como se me confundissem com o tal dono do jornal. Assim como se espantariam se eu dissesse que trabalho em um desses grandes jornais que desenham a base do seu orçamento sobre os anúncios do governo. Se eu dissesse que trabalho no “maior e no mais bem estruturado jornal do estado”, o espanto ficaria guardado, assim como o recebimento de recursos do governo em forma de anúncios é velado e ao mesmo tempo visto com naturalidade no meu estado (Mato Grosso).
O jornal em que eu trabalho, por exemplo, há pouco recebeu a recomendação de que para receber algum dos recursos advindos desses anúncios – diga-se de passagem, pagos pelo contribuinte – deve usar pelo menos 30% do espaço para falar bem do governo. Uma recomendação, a meu ver, abusiva, mas que, principalmente entre os donos de veículos, é considerada natural. Afinal, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Ou melhor dizendo, todos os jornais acreditam que para sobreviver precisam da voluptuosa fonte pública de recursos.
Bom, eu busco meus sonhos e muitos são materiais. Tive uma vida sempre privada de muitos consumos e hoje penso muito em ter conforto, saúde, tempo para a família e para os amigos. É pensando nessas conquistas que tenho que trabalhar em dois lugares, às vezes três ou quatro. Infelizmente, a minha prioridade acaba sendo ganhar meu dinheirinho. Mas não me considero uma jornalista comprada. Não sou de fazer acordos para ganhar um tostão a mais. Procuro fazer o meu trabalho desenhando aos leitores (escrevo para jornal impresso e online) o que achei durante as minhas apurações, e não o que precisam que eu encontre. Essa é minha turma, respondendo à pergunta do Washington Araújo em seu texto “Um jornalista é sempre um jornalista”.
Para finalizar, creio que, antes de sermos domados por qualquer profissão, somos seres humanos cheios de dilemas.
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Jornalista, Cuiabá, MT