Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Diogo e o diabo na terra do sol

Diogo Mainardi escreve com o diabo no corpo (como recomendava Voltaire), e por isso admiradores e críticos o lêem todas as semanas, na Veja.

Diogo está sempre de mau humor. Que bom! Fala mal de quem bem entende. Repreende o Lula, o PT, Gilberto Gil. Semana passada, atacou Marcelo Coelho – Deus e todo mundo estão sempre sob a sua mira.

O nome ‘Diogo’ (ou ‘Diego’) tem a ver com a palavra grega ‘didakê’, ensino, instrução. Diogo é aquele que instrui, ensina, corrige. Don Diego de la Vega, o Zorro, vinha dar lições aos que cometiam injustiças.

Meu colega de letras e sites, Deonísio da Silva, sugeriu recentemente que a Veja alternasse o ponto de vista de Diogo com o de outros, menos pessimistas: ‘O pessimismo esclarece, mas quando é assim insistente, pode provocar uma depressão quase insuportável pela repetição’.

Diogo pode irritar, mas nem o próprio diabo consegue desagradar a todos. E o diabo nem é tão feio como o pintam. Diogo escreve com sarcasmo calculado, quer é inovar, apresentar opiniões e críticas inusitadas, chocar os mais ingênuos. Exagera na medida certa. Quer ser o diabo em figura de colunista. Diogo Mainardi odeia amenidades.

Contra textos insossos

Mainardi não brilha sozinho no jornalismo sarcástico. José Simão está aí (virou tema de doutorado), adepto do escracho, da esculhambação. É o macaco, o tirador de sarro, jogando cascas de banana sobre todos, sem discriminação. Temos também Arnaldo Jabor, espalhafatoso, pernóstico, falastrão. Millôr Fernandes, diabo velho de guerra. Olavo de Carvalho faz o que pode. O acadêmico Carlos Heitor Cony é um pessimista moderado. Barbara Gancia, especialista em respostas atravessadas, exerce um humor mais para inofensivo. Posso estar enganado, mas Danuza Leão já escreveu com mais garra.

No passado, tínhamos Paulo Francis, que Diogo admira. Francis escrevia com azedume, e gostava de contar histórias escandalosas sobre nomes famosos da cultura e da política. E tínhamos Nelson Rodrigues, ácido, lírico, obcecado. Os mais antigos ainda lembrarão Gustavo Corção, um Mainardi católico.

Mas podemos colher outros diabos da atual mídia brasileira. Na TV, Antonio Abujamra e suas deliciosas provocações. Marília Gabriela, que volta e meia mostra sua obsessão pela sexualidade dos entrevistados. Na música, Gabriel, o Pensador, é a versão rap do Juca Chaves dos bons tempos.

Com tantos textos insossos por aí, ainda contamos com alguns diabos. Graças a Deus.

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Doutor em Educação pela USP e escritor