Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Disputa por Sean Goldman mobiliza mídia

Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


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Época


Segunda-feira, 9 de março de 2009


 


DISPUTA
Época


Como vive Sean Bianchi Goldman, 7/3


‘Sean Bianchi é um menino bonito, esperto e amoroso, com quase nove anos de idade e dupla nacionalidade: brasileira e americana. Nasceu em Nova Jersey, EUA, mas vive desde os quatro anos no Rio de Janeiro. Não desgruda da nonna (avó, em italiano), anda enganchado nela. Ambos são bronzeados, de cabelos e olhos castanhos. Orgulha-se de ser craque no basquete e ‘bamba’ em Matemática e redação. Não gosta de estudar História. Quando consegue ficar parado, tem mania de mexer nas medalhinhas de seu cordão: uma tem a imagem de Iemanjá; outra, a inscrição Agnus Dei (‘cordeiro de Deus’ em latim); a terceira, um trevo de quatro folhas; e a maior, fina e delicada, o rosto da mãe.


Sean perdeu a mãe tragicamente, em agosto do ano passado: Bruna, estilista carioca, morreu aos 33 anos, ao dar à luz Chiara. Desde então, Sean consulta uma psicóloga uma vez por semana. Vive em um apartamento de 250 metros quadrados em um condomínio de luxo no Jardim Botânico, junto à Lagoa, no Rio de Janeiro, com varandão, plantas, obras de arte e tapetes antigos. Mora com uma grande família: os avós maternos, Silvana e Raimundo, um tio que é quase um irmão mais velho, Luca Bianchi – ator, surfista e peso-pena faixa-preta de jiu-jitsu. Divide o quarto com o padrasto, a quem chama de pai, João Paulo Lins e Silva. Na verdade, Sean começa seu sono toda noite na cama de casal da avó, e depois João Paulo o encaminha, quase sonâmbulo, para o quarto colorido, com painéis de elefantes e outros bichos na parede. Não dá mais para carregá-lo nos braços, como antes. Jogos medievais no computador e vários esportes, conjugados com o surfe de fim de semana na Praia Rasa em Búzios, compõem a vida de Sean. Além das broncas que leva quando deixa roupas no chão do quarto, Sean é acompanhado nos deveres de casa por uma família que diz querer, acima de tudo, seu bem-estar. Tem sorte. É evidente, para quem passa o dia na casa, que ele se sente amparado mas não mimado, e que preferiria continuar anônimo. Até a mãe morrer, ele era apenas ‘Shan’, ‘Sam’, ‘Shon’, um garoto popular entre os amigos, mas com nome esquisito.


Se tivesse de superar apenas a perda prematura da mãe, Sean Richard Bianchi Carneiro Ribeiro Goldman (seu nome completo) seria um menino privilegiado. Mas ele está no centro de uma disputa judicial rancorosa entre duas famílias – e entre dois países, o Brasil e os Estados Unidos. Uma briga que transcendeu as paredes do lar e se tornou um imbróglio diplomático, um circo internacional, com o rosto de Sean e imagens de seu passado estampados na internet pelo pai biológico, o ex-modelo David Goldman, hoje sócio de uma empresa náutica que organiza passeios.


A família de Sean no Rio só abriu a casa com exclusividade para a ÉPOCA depois de muito relutar, porque o caso adquiriu dimensões políticas e de mídia lá fora. E porque, segundo a versão do padrasto, dos avós e do tio de Sean, o pai biológico, David Goldman, se empenhou, desde a morte de Bruna, numa ‘campanha de calúnias’ contra a família brasileira.


À reportagem de ÉPOCA, a família disse que Bruna não premeditou a vinda definitiva dela para o Brasil. Em férias, no Rio de Janeiro, com o filho, em 2004, ela teria se dado conta de que era tão infeliz no casamento que não adiantava voltar para Nova Jersey. O casamento teria desmoronado, segundo Bruna, por um conjunto de razões: o sexo tinha praticamente acabado, era ela quem sustentava a casa, trabalhava demais, não tinha como crescer profissionalmente, se sentia sozinha. E também porque as brigas eram constantes com o marido – de acordo com o relato de Bruna aos parentes, ele às vezes esmurrava móveis e paredes. Por tudo isso, Bruna teria telefonado pedindo o divórcio. Ela teria pedido também a Goldman que viesse ao Brasil para que discutissem e chegassem a um acordo amigável sobre Sean.


Depois da separação do casal, Goldman abriu um processo contra a ex-mulher e os ex-sogros por sequestro e violação da Convenção de Haia – que dispõe sobre as crianças levadas de um país para outro. Durante quatro anos, o pai biológico abriu mão de ver o filho para sustentar suas acusações. A família brasileira afirma que se ofereceu para pagar a vinda de Goldman ao Brasil para visitar o filho. Segundo a família, essa nunca foi uma opção para Goldman. O pai seguiu a orientação de seus advogados de nunca visitar ou ver o filho, porque sua denúncia de sequestro seria enfraquecida e poderia ser contestada juridicamente. E assim foi por mais de quatro anos. Apenas depois da morte da mãe de Sean, no ano passado, Goldman decidiu ver Sean. E teria aparecido na porta do condomínio onde o filho vive, em companhia de agentes da Polícia Federal brasileira, funcionários do consulado americano e uma equipe da rede de televisão americana NBC. Os policiais revistaram o apartamento mas o menino não foi encontrado. Passava o feriado em Angra dos Reis com o padrasto e amigos. Mas no mês passado, Goldman e Sean se encontraram por dois dias seguidos, com o consentimento do padrasto e dos avós maternos.


Segundo a versão da família brasileira, o pai biológico de Sean teria pedido US$ 500 mil (R$ 1,2 milhão) – o que Goldman nega – para tirar o nome dos avós como ‘co-autores’ do sequestro do menino. O acordo acabou sendo fechado em US$ 150 mil (R$ 360 mil).’


 


 


Kátia Mello


David Goldman – ‘Espero que Lula e Obama me ajudem’


‘A luta do modelo americano David Goldman para obter a custódia de seu filho, Sean Bianchi Goldman, de 8 anos, deverá estar na pauta do encontro entre os presidentes Lula e Barack Obama ainda neste mês, nos Estados Unidos. Goldman diz ter esperanças que os dois chefes de governo reconheçam que sua causa é justa e o ajudem a vencer a batalha judicial que trava contra a família da mãe de Sean, Bruna, que morreu de parto no ano passado. Nesta entrevista a ÉPOCA, por telefone, Goldman diz nunca ter entendido os motivos de a brasileira ter deixado os EUA e levado seu filho. Afirma que está cansado de tanto batalhar na Justiça, mas que vai até o fim. Goldman falou sobre o breve reencontro com o filho, no mês passado, e da esperança de recuperar seu ‘tesouro’.


ÉPOCA – No mês passado, o senhor se encontrou com seu filho, Sean, pela primeira vez depois de quatro anos. Como foi esse encontro?


David Goldman – Foi em um condomínio no Rio de Janeiro. Ele veio com uma psiquiatra e estava muito receptivo. Nós nos abraçamos e foi lindo. Eu segurei o choro; estava tão feliz em vê-lo. Vimos juntos as fotos de sua família nos Estados Unidos. Sean se lembra dos avós (americanos), das pescarias, da canoagem. É um menino maravilhoso. A conversa aconteceu em inglês. Depois de aprender a língua nos Estados Unidos, ele frequentou uma escola americana no Brasil. Em nenhum momento discutimos se ele gostaria de ficar comigo ou no Brasil. Evitei esse tipo de conversa. Só queria que meu filho soubesse quanto eu sinto saudade e quanto quero ficar com ele. Queria que soubesse que, durante quatro anos, tentei vê-lo e até trouxe comigo ao Brasil a avó dele e outras pessoas próximas. Cheguei a esperar duas semanas para vê-lo (mas sem resultados).


ÉPOCA – Por que Bruna o deixou? Como era sua relação com ela?


Goldman – Sinceramente, não sei os motivos que a levaram de volta ao Brasil. Eu nunca soube que ela tivesse outra pessoa no país. Eu a amava, amava a família dela e a minha família também gostava dela. Até onde eu sei, nós tínhamos uma relação como a de qualquer outro casal. Tirávamos férias juntos, saímos para namorar. No começo, em uma conversa por telefone, até os pais de Bruna disseram que não a estavam entendendo (Bruna pediu a guarda definitiva de Sean). Ela dizia que não voltaria mais a Nova Jersey. Dizia que era no Brasil que tinha família, amigos etc. Ela ainda disse que eu era um cara maravilhoso e um ótimo pai e que estava feliz por termos um filho, mas que queria morar no Brasil.


ÉPOCA – Por que não tentou reatar a relação?


Goldman – Ela não me deu opções. Não me deixou voltar ao Brasil e tentar continuar a relação com ela.


ÉPOCA – Desde que seu filho partiu dos EUA, o senhor levou um ano para viajar para o Brasil para tentar encontrá-lo. Por quê?


Goldman – Desde o primeiro momento, eles não me deixariam ver Sean a não ser que eu assinasse papéis renunciando sua custódia. Fui aconselhado pelos meus dois advogados (o dos EUA e o do Brasil) a não vir porque cairia numa batalha judicial no Brasil. Qualquer acordo sobre a custódia de meu filho deveria ser realizado no país de origem, onde nós moramos, onde nos casamos e onde Sean nasceu, ou seja, nos Estados Unidos.


ÉPOCA – Se sua relação era tão boa com a família de Bruna, por que se tornou tão ruim? E por que o senhor os acusa de mentir?


Goldman – No momento em que passei a discordar deles, tornei-me um inimigo. Quando fui à Justiça dizer que queria meu filho de volta, então tudo se transformou. No primeiro ano, eles receberam os papéis dizendo que o que estavam fazendo era violação dos direitos da Convenção de Haia e que, segundo os juízes americanos, Sean deveria retornar aos Estados Unidos.


ÉPOCA – O senhor tinha conhecimento sobre a relação entre Bruna e o advogado João Paulo Lins e Silva? No processo consta que eles se conheciam havia quatro anos.


Goldman – O que eu sei é que ela ficou casada com ele por dez meses antes de morrer. Não sabia nada sobre a relação deles. A família de Bruna nem me avisou da morte dela.


ÉPOCA – A família de Bruna afirma que o senhor exigiu US$ 150 mil para interromper o processo de custódia de seu filho?


Goldman – É mentira! A verdade está na Justiça. O retorno de Sean aos Estados Unidos não tem nada a ver com isso. Os US$ 150 mil fizeram parte de um acordo realizado nos tribunais de Nova Jersey, onde dei entrada com o processo para obter a guarda da custódia de Sean. Esse dinheiro foi para pagar as despesas processuais e, em troca, os pais de Bruna, réus do processo, seriam excluídos (a corte americana considerou os avós maternos como réus do processo).


ÉPOCA – A que o senhor credita o fato de em agosto passado a Justiça brasileira ter dado a guarda provisória de Sean ao padrasto logo após a morte de Bruna? O senhor mencionou que a família do padrasto tem influência nos tribunais.


Goldman – Não sei explicar a razão de a corte brasileira ter tomado essa decisão. Pode ser porque a família dele (o advogado João Paulo Lins e Silva) seja influente. Pode ser, não sei.


ÉPOCA – A custódia de Sean deverá estar na pauta do encontro entre o presidente Lula e o presidente Barack Obama que acontecerá ainda neste mês. O que o senhor espera desse encontro?


Goldman – Espero que, pelo fato de serem os líderes dos dois países envolvidos, eles venham a reconhecer que o que está acontecendo está errado e, esperançosamente, vão me ajudar a ter o meu filho de volta.


ÉPOCA – Caso ganhe a custódia permanente, como o senhor pretende sustentar Sean?


Goldman – Tenho um emprego full time como professor de navegação e estou ainda trabalhando como modelo.


ÉPOCA – Qual é o próximo passo?


Goldman – O caso está nos tribunais federais e não sei quando sairá a decisão. Eu tenho de passar pela mesma briga judicial que já tive com Bruna (ele perdeu a custódia para ela). Tudo de novo. E agora esse cara novo que se casou com ela. Estou cansado, mas nunca vou desistir. Sean é meu sangue, minha carne. Ele é meu filho. Eu tenho saudade de tudo em relação a ele. De brincar de bola com ele, de andar de barco, fazer lição de casa, tudo me dá saudade. Ele é meu tesouro.


ÉPOCA – O senhor pensa em se casar novamente?


Goldman – Não. Meu foco está em trazer meu filho de volta e nós nos reencontrarmos e curarmos juntos essa ferida.’


 


 


Ruth de Aquino


‘Sean tem a mim como uma mãe’


‘Em entrevista a ÉPOCA, Silvana Bianchi, avó do menino que está numa disputa judicial entre Brasil e Estados Unidos, diz que a criança é ‘sangue de seu sangue’ tanto quanto do pai, o americano David Goldman


ÉPOCA – Silvana, como foi seu primeiro encontro com David Goldman?


Silvana Bianchi – Minha primeira impressão de David foi normal. Um modelo americano. Quando se tem filho da idade da Bruna na época, 23 anos, não adianta arguir. Ela me disse em Milão, onde se conheceram: ‘Estou apaixonada, ele é maravilhoso, vamos nos casar’. Eles se casaram em Nova Jersey em 1999 porque ela estava grávida. O casamento foi averbado também aqui no Rio. O Sean nasceu em maio de 2000. Pesava mais de 4 quilos, foi um parto muito difícil. E o casamento começou a dar sinais de crise. O trabalho dele como modelo não era muito seguro nem regular. Ele fazia catálogo para venda de camisas. A Bruna começou a vender biquíni, fazer massagens para ajudar no orçamento da casa.


ÉPOCA – Sean é considerado tão brasileiro quanto americano?


Silvana – O nascimento de Sean foi registrado em outubro de 2000 no consulado brasileiro de Nova York e também aqui no Rio. Ele é considerado brasileiro nato. Pode ser presidente do Brasil se ele quiser. A certidão de nascimento também foi registrada no Brasil.


ÉPOCA – Por que Bruna decidiu se separar do marido?


Silvana – Primeiro, ela começou a se sentir sobrecarregada. Trabalhava dentro e fora de casa. Quando o Sean estava com oito meses, Bruna começou a sustentar a casa porque o marido teve uma doença virótica séria e não tinha plano de saúde. Ela dava aulas de italiano. Contratou uma baby-sitter. Só fui saber disso tudo em detalhe quando ela veio ao Brasil de férias em 2004. Foi quando ela me disse: ‘Mãe, o meu casamento acabou. Eu não aguento mais, não vou voltar. A gente não tem mais nenhuma vida íntima, meu casamento é uma farsa. Eu vivo sozinha. Ele briga o tempo inteiro, tem horas que ele é muito violento, dá socos, quebra armário’. E ela disse: eu fico com medo de ficar lá sozinha nos Estados Unidos com ele.


ÉPOCA – Vocês (os avós maternos, Silvana Bianchi e Raimundo Carneiro) foram pegá-la nos Estados Unidos?


Silvana – Não. Fomos à festinha de 4 anos do Sean, e ela disse ‘vamos passar umas 3 semanas no Rio de Janeiro’, por isso viajamos juntos. Dias depois de ter chegado, ela me falou que não queria voltar. Como o casamento tinha sido registrado no consulado brasileiro lá e aqui no Rio, tanto fazia ela se divorciar lá ou aqui. Então ela ligou para o David e pediu que ele viesse para o Brasil resolver essa situação. Ela disse a ele que se sentia tremendamente infeliz, que não iria voltar e que queria dar seguimento à carreira dela. Ela tinha ido para Milão fazer doutorado em Moda numa das melhores universidades. Em Nova Jersey ela tinha um mero emprego de professora de italiano na escola e essa não era a sua vocação nem sua profissão. No Brasil, ela disse que teria um campo enorme de trabalho. E ela tinha medo do marido. Pediu várias vezes que ele viesse ao Brasil, para que o Sean não sentisse tanto o afastamento dele. Nós oferecemos passagem aérea, hospedagem em hotel para que ele ficasse no Rio e eles pudessem discutir o que iriam fazer. Mas ele em momento nenhum aceitou nossa oferta. Sempre dizendo, meu lugar é aqui (nos EUA), seu lugar também, você venha para cá discutir. Assim que a Bruna chegou e decidiu que não ia mais voltar, imediatamente contratou um advogado. Em momento nenhum a família Lins e Silva foi advogada da Bruna no processo todo. Um juiz deu a guarda provisória do Sean para a Bruna porque uma criança pequena não pode ficar desassistida, não pode ficar sem um tutor. A Bruna teve a guarda provisória ainda dentro do prazo que o David havia dado para a viagem. Ele diz que a Bruna fugiu e sequestrou o menino. Ela veio com autorização, não fugiu. Mas, para permanecer com o filho aqui, ela teria de ter a guarda decretada por um juiz, e ela teve. Aí começou a batalha judicial. E a gente o tempo inteiro pedia a ele que viesse. Que viesse conversar, e sempre oferecíamos passagem. Ele nunca veio. Ele esteve, até a morte da Bruna, umas cinco, seis vezes no Brasil, durante quatro anos. Mas não nos procurava. Um dia o assistente de nosso advogado nos contou que o tinha visto dentro de um tribunal. Mas ele nunca nem nos avisou.


ÉPOCA – Bruna havia trazido todos os seus pertences?


Silvana – Não, ela deixou a documentação dela toda e inclusive talão de cheques. Ele (David) pegou e falsificou a assinatura dela e raspou o resto da conta dela (nos Estados Unidos). Temos provas, guardamos todos esses cheques. E a conta não era conjunta.


ÉPOCA – Quando Bruna conheceu João Paulo Lins e Silva?


Silvana – Bruna e João Paulo se conheceram seis meses depois da separação, foram apresentados pela madrinha do Sean, Samantha Mendes.


ÉPOCA – David diz que tentava ver o Sean e vocês impediam.


Silvana – Graças a Deus hoje mesmo chegou a mim um documento dizendo que os advogados instruíram que ele não visse o filho enquanto não acabasse esse processo. Ele jogou uma acusação completamente caluniosa contra nós, dizendo que não permitíamos que ele visse o filho. Agora, depois que a gente pediu os documentos, os papéis comprovando que o juiz proibia essas visitas, algo que um juiz não faria, e ele não tem esses papéis, então seus advogados resolveram vir a público e dizer que foi por orientação deles. Isso depois de terem nos caluniado no mundo inteiro. Foi muito doloroso para nós. Nós éramos cúmplices de um sequestro que não existiu.


ÉPOCA – Por que ele não viu o filho durante esses quatro anos?


Silvana – Porque os advogados disseram a ele que, se ele visse o Sean, isso iria descaracterizar o processo por violação da Convenção de Haia. Ou seja, ele pegou isso, torceu, e nos acusou de uma coisa absolutamente falsa. Ele poderia ter visto o filho. Dizer que a gente nunca o deixou ver o filho é muita loucura. Ele vinha sim ao Brasil, mas era para ver advogados e ir a tribunais. Em momento nenhum ele pediu para visitar o Sean. Ele preferiu seguir o conselho dos advogados, era maior sua preocupação com o processo do que o amor tão grande que ele diz sentir pelo menino. Porque, se esse processo demorasse 20 anos, ele ia ficar 20 anos sem ver o filho.


ÉPOCA – Pai e filho se falavam ao telefone?


Silvana – Eles se falavam sempre no início, embora ele dissesse que a gente batia o telefone na cara. A gente tem documentação de mais de três horas ao telefone por mês de conversas entre eles no primeiro ano de separação. Ele mandava email para o filho, a Bruna abria email e lia para o filho.


ÉPOCA – David diz que vocês devolviam os presentes que ele mandava para o filho sem sequer abrir a caixa.


Silvana – No Natal e nos aniversários do Sean, eles (a família americana) mandavam caixa com camiseta, livrinho, chiclete. David nos acusa de devolver os presentes. Eu tenho toda a documentação mostrando que pegávamos as caixas. Somente uma foi devolvida porque estávamos viajando e, quando voltamos, ao ver o papel, a caixa já tinha sido devolvida. Mas tenho papéis da Receita Federal mostrando que a gente ia no Correio coletar as caixas.


ÉPOCA – Sean sempre soube que tinha um pai biológico?


Silvana – Sempre. Nunca escondemos isso dele, ao contrário.


ÉPOCA – Quais providências ele tomou quando Bruna disse que não ia mais voltar?


Silvana – Ele abriu processo acusando a Bruna de sequestro e de violação da Convenção de Haia, e nos acusava de proibi-lo de ver o filho. Nuns documentos, ele propõe um acordo para fazer o divórcio nos Estados Unidos. Esse acordo nos deixou estarrecidos. Ele pedia que a Bruna voltasse para os Estados Unidos, voltasse para o emprego que tinha, voltasse a pagar o seguro-saúde para a família toda, que desse a ele a guarda do filho e ela visse o filho de 15 em 15 dias. Foi esse acordo que ele propôs a ela em 2005.


ÉPOCA – Por que vocês pagaram 150 mil dólares ao David?


Silvana – Como nós viajamos no mesmo avião, ele colocou uma ação totalmente infundada dizendo que seríamos co-autores de um sequestro. Ele abriu um processo civil em Nova Jersey dizendo que a gente tinha ajudado a sequestrar Sean. Fomos aos Estados Unidos nos defender. Era toda uma má fé premeditada para nos extorquir. Porque ele sabia que nada disso tinha acontecido e ele continuava a nos acusar de impedi-lo de ver o filho. Quando chegamos à Corte, a primeira proposta para ele retirar a queixa de sequestro era de 500 mil dólares. Negocia daqui, negocia dali, chegou-se a 150 mil dólares. Nosso advogado disse então: fechem o acordo porque, se isso continuar por mais tempo, vocês vão gastar isso para continuar se defendendo.


ÉPOCA – O contato telefônico entre pai e filho foi regular nesses anos todos?


Silvana – Depois que a Bruna ganhou a guarda definitiva e ela deixou de ser considerada sequestradora, em junho de 2007, e o caso não era mais considerado uma violação do Tratado de Haia, aí as ligações praticamente acabaram mesmo. Além disso, ele nunca mandou dinheiro nenhum. Nenhum tostão. E a Bruna nunca pediu. Ele era totalmente ausente nisso. Já era difícil ele dar algum dinheiro quando ela morava lá. E quando veio em 2007 a Brasília para a audiência sobre o divórcio, continuou afirmando que minha filha era bígama. Mais outra calúnia.


ÉPOCA – Ele parou de telefonar?


Silvana – Só ligava nos aniversários. E algumas outras vezes. Quando aconteceu isso com a Bruna [a morte no parto de Chiara, em agosto do ano passado], meu mundo ruiu. Imediatamente deixei meu trabalho no restaurante [Quadrifoglio], e pensei: meu Deus agora, o que a gente vai fazer? Uma bebezinha recém-nascida, o Sean, e o João Paulo, que trabalha durante o dia. Eu pensei, vou levar todos para minha casa, porque posso dar conta. A Chiara está num quarto, com a enfermeira, eu e meu marido no outro, o Luca (irmão da Bruna) no terceiro, e Sean e João Paulo dividem um quarto. Estamos fazendo obras num apartamento que pertencia a minha mãe e fica no nosso condomínio, para o João Paulo se mudar com as crianças.


ÉPOCA – Depois que a Bruna morreu, os dois lados se apressaram em pedir a guarda do Sean.


Silvana – João solicitou imediatamente a guarda do Sean porque um menor não pode ficar desassistido. Dizem que o juiz deu a guarda muito rápido, mas era urgente.


ÉPOCA – Não passou nem um instante pela cabeça de vocês telefonar para o David e dizer ‘bem, agora que a Bruna não está mais aqui, vamos nos encontrar e tentar uma guarda compartilhada do Sean?’


Silvana – Não, porque ele havia abandonado o filho durante mais de quatro anos. E porque o João e o Sean já eram pai e filho. Sean ama o João, se sente muito feliz com o João. É muito amado. Jamais passou pela nossa cabeça uma guarda compartilhada com uma pessoa que era um estranho para o Sean, e há quatro anos não o via.


ÉPOCA – Vocês não chegaram a comunicar a ele que a Bruna havia morrido?


Silvana – Não. Nós não tínhamos mais contato. Ele deve ter sabido por jornais.


ÉPOCA – Ele veio ao Brasil nessa ocasião?


Silvana – Dez dias depois da morte da Bruna, ele veio aqui como se fosse pegar o Sean como uma mala, botar embaixo do braço e levar. Trouxe a mãe dele dos Estados Unidos, e veio com uma equipe da NBC, para filmar o reencontro de um pai amoroso e seu filho. Um filho que não via o pai amoroso havia quatro anos e meio. A memória de uma criança até quatro anos não é tão forte. Ele chegou aqui na porta, e essa visita foi negada por um juiz, porque essa criança tinha acabado de perder a mãe, e o pai chegava com equipe de TV. O juiz disse: ‘se ele esperou tanto tempo para ver o filho, pode esperar mais uns dias’. E a família pôde respirar um pouco.


ÉPOCA – David disse que vocês esconderam o filho dele quando tentou visitá-lo.


Silvana – Perto do dia 12 de outubro, um feriado, Sean estava com o João em Angra dos Reis, ele chegou com dois oficiais da Justiça, dois agentes da Polícia Federal, deixou lá fora no carro a equipe da NBC e os funcionários do consulado americano que o acompanham feito sombra. Não deixaram avisar que havia alguém subindo. Tocaram a campainha, eram 8h da manhã. A enfermeira disse que havia Polícia Federal dentro do apartamento. Revistaram a casa inteira, por trás das cortinas, embaixo das camas, para ver se o Sean não estava escondido aqui. Viram que ele não estava. Me tiraram da cama, recebi a polícia de robe. Essa foi a visita que ele diz que a gente escondeu o Sean. Ele não avisou que vinha. Fez uma surpresa e, como era feriado, o Sean tinha ido com o João passar o feriado na casa dos amigos.


ÉPOCA – Por que, na sua opinião, este caso ganhou tanta repercussão se existem mais de 40 casos parecidos entre ex-cônjuges americanos e brasileiros?


Silvana – Por causa do embaixador americano no Brasil. Ele está intervindo no caso. David fez um blog depois que a Bruna morreu (bringseanhome.org). Ele vendeu boné, camiseta, chaveiro com a fotografia do filho menor que ele tanto ama. Isso é um desrespeito a uma criança no seu íntimo. Ele vendeu até avental da cozinha com a fotografia da Bruna. Um desrespeito à mulher morta. Ele acabou tirando do ar por ver que não pegava muito bem.


ÉPOCA – Como o Sean está vendo tudo isso?


Silvana – Ele sabe de tudo. E está muito aborrecido. Tudo que nós fizemos nos últimos seis meses, como não podíamos falar por causa do segredo de Justiça, foi pensando em preservar o Sean. Mas o David jogou tudo na internet, para quem quisesse botar a foto do Sean na cabeça com o boné e quem quisesse cozinhar que usasse o avental com o rosto da Bruna. E também camisetas contra o Brasil.


ÉPOCA – No momento, como está o processo?


Silvana – Ele e o menino se encontraram aqui no condomínio em fevereiro. Agora, a decisão é da Justiça. Tenho confiança de que a Justiça brasileira vai fazer o melhor para o Sean.


ÉPOCA – O David diz que o Sean é sangue do seu sangue e nunca irá desistir de seu filho.


Silvana – O Sean é sangue do meu sangue também. É filho de minha filha que morreu. Eu convivo com esse menino há quase cinco anos diariamente, desde 2004. O que passa na minha cabeça quando esse menino chega perto de mim à noite, me abraça, e diz ‘Nonna (vó em italiano), estou com saudades da minha mãe’. O que você faz? A gente se abraça e chora junto. Porque eu também tenho saudade de sua mãe, Sean, muita. Então, ele me tem como uma mãe agora. Ele me chamava, quando era menor, de ‘mãe 2’.


ÉPOCA – Seu medo é sofrer agora uma segunda perda depois de perder sua filha, em agosto do ano passado?


Silvana – Seria uma perda de mãe mesmo porque eu sou a figura materna hoje. É em mim que ele confia, na hora de noite, se o pai ainda não chegou para trabalhar. Eu o trato como se ele fosse meu filho mais novo. Dizem que ser avó é ser mãe duas vezes. É exatamente isso. Eu hoje sou uma mulher dedicada à casa e às crianças.


ÉPOCA – O David, como pai biológico, deve realmente querer o filho de volta. O que vocês acham disso?


Silvana – Nós queremos o bem do Sean em primeiro lugar. Eu acho que o Sean tem direito de viver com quem ele quiser. O Sean vai dizer se quer ou se não quer ir para os Estados Unidos. Uma pessoa que deixa o filho desassistido por mais de quatro anos, uma pessoa que nunca deu um tostão pra educação do filho, para a saúde do filho, para o lazer do filho, uma pessoa que nunca veio visitar o filho para ver se ele estava bem ou estava mal, somente depois que a ex-mulher morreu. Será que ele quer mesmo esse filho? Ou quer o que o filho representa para ele?’


 


 


 


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 9 de março de 2009


 


LIVROS
Ruy Castro


Mega-sellers


‘RIO DE JANEIRO – Reportagem de Rachel Bertol em ‘O Globo’ da semana passada trata do ‘mega-seller’, um novo conceito de livro que, mesmo no Brasil, se vende na casa do milhão, não mais dos milhares de exemplares. O fenômeno se dá na área dos romances, poupando as biografias, as memórias e os livros de história, que, por enquanto, só têm de competir com best-sellers sobre cachorros.


Os ‘mega-sellers’ são sempre estrangeiros, e não necessariamente americanos: podem vir da Irlanda, da Austrália ou do Afeganistão, embora só cheguem aqui depois de iniciada sua carreira nos EUA. A partir daí, onde quer que se façam listas de livros mais vendidos, eles estarão nelas, o que torna essas listas monótonas e iguais no mundo inteiro.


Donde se você tomou um avião e esqueceu em casa o seu ‘Código Da Vinci’, ‘Caçador de Pipas’ ou ‘Crepúsculo’, não se preocupe -esses romances e outros da seleta lista estarão em destaque nas livrarias de qualquer país para que esteja indo. Muitas livrarias, e não só no Brasil, se baseiam nas listas para compor suas vitrines ou bancadas frontais. Donde o processo se retroalimenta: esses livros, já de grande vendagem, tenderão a vender ainda mais porque se eternizam nas listas de mais vendidos.


Como os ‘mega-sellers’ são maciçamente estrangeiros, teme-se que as editoras brasileiras desistam de apostar no humilde romance nacional -afinal, para que se arriscar a ter 3.000 livros encalhados quando se pode vender 600 mil? Pior ainda será se nossos romancistas tentarem se adaptar ao figurino australiano ou afegão para escrever, na esperança de que, assim, serão publicados e venderão livros.


Tive uma idéia para um romance. Começará com gente de roupas estranhas zanzando pelas ruas e corujas voando pelos céus. O herói será um garoto de óculos.’


 


 


DITABRANDA
Painel do Leitor


Ditadura


‘‘Congratulo-me com a Folha por reconhecer que errou ao empregar, no editorial de 17/2, a expressão ‘ditabranda’. Acho também que a Folha pegou pesado com Maria Victoria Benevides e Fábio Konder Comparato, ao personalizar a sua crítica.


Contudo, o mérito da resposta aos referidos professores está corretíssimo! Se o parâmetro fosse de fato a defesa dos direitos humanos, a conclusão lógica seria manifestar a indignação onde quer que ocorresse a sua violação, seja nas ditaduras de esquerda, seja nas de direita. Via de regra os intelectuais de esquerda só manifestam indignação contra as ditaduras de direita, não restando alternativa senão interpretar a sua defesa dos direitos humanos como efetivamente cínica e mentirosa.’


RICARDO CELSO ULISSES DE MELO (Aracaju, SE)


‘Cerca de 300 pessoas participaram de manifestação contra a Folha (Brasil, 8/3). A Folha avalia que errou. Não errou, não. Na minha opinião a Folha sempre namorou com a esquerda e quando, em editorial de grande lucidez, relembrou os fatos com verdadeira isenção, experimentou a pressão e a ira desse pessoal que não abre mão de locupletar-se das benesses do poder. Espero que esse episódio mexa com os brios e que a Folha se aperfeiçoe na isenção ideológica. O povo bem informado estará sempre ao lado da razão. A Folha está com a verdade quando questiona a falta de isenção ideológica dos intelectuais citados. Aproveito para dar uma opinião pessoal: o sr. Oscar Niemeyer assinou sem ter conhecimento do editorial -da mesma forma que, como marxista convicto, projeta grandiosas obras que nada servem às necessidades populares, e sim a governos que buscam sustentar-se provendo pão e circo.’


JOSÉ CLAUDIO DE ALMEIDA BARROS (São Paulo, SP)


‘Reconhecer que a Folha errou ao nomear como ‘ditabranda’ o regime militar instaurado no Brasil entre 1964 e 1985 foi um ato de grandeza. Nos últimos anos, não tem sido muito comum que os grandes jornais reconheçam suas falhas. Contudo, gostaria de chamar atenção para outro erro cometido pela Folha desde o fatídico editorial: a comparação entre o regime militar brasileiro e aqueles instaurados na Argentina, no Chile e no Uruguai. Diz a nota que a ditadura brasileira foi menos repressiva do que as congêneres. Pode ser.


Mas as consequências de um regime autoritário não se esgotam no seu período de vigência. Se é verdade que a ditadura brasileira foi menos truculenta, também é fato que ela foi mais perene, gerando consequências nefastas até hoje. A Argentina vem abrindo os documentos do regime e continua instaurando processos, julgando e punindo seus torturadores. O general Pinochet foi submetido ao escrutínio universal. O Brasil não abriu seus documentos e deu anistia a torturadores, que permanecem protegidos pela escuridão. À luz desse fato, uma comparação entre as ditaduras brasileira e suas congêneres que seja favorável à primeira é um erro.


A consequência é a suavização dos efeitos do nosso regime ditatorial no imaginário brasileiro, de que é prova a criação do neologismo ‘ditabranda’, uma maneira de deseducar as novas gerações no que tange ao nosso passado recente.’


LÉO BUENO (Santo André, SP)’


 


 


EUA
Reuters


Na TV turca, Hillary fala que não tem ‘gene da moda’ e do amor com Bill


‘Numa estratégia para conquistar também pessoas comuns em seu esforço diplomático, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton lamentou-se na TV turca por não ter senso estético para se vestir, contou quando se apaixonou por Bill e disse que ‘o amor’ e ‘o perdão’ a ajudaram a superar a traição do marido com a então estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky.


‘Oh, amor! E perdão, amizade e família. Família, fé, amigos são os pilares da minha vida e eu não conheço ninguém cuja vida seja um tranquilo navegar’, respondeu Hillary, questionada pelas quatro apresentadoras do popular ‘Hadi Gel Bizimle’ (Junte-se a Nós).


As apresentadoras perguntaram como a secretária de Estado tinha lidado com ‘amargas experiências pessoais’, sem menção explícita ao caso Lewinsky, que levou o então presidente dos EUA e marido Bill às portas de um impeachment em 1999.


Hillary, 61, adepta de terninhos convencionais, disse que sentia saudades de fazer as próprias compras, embora não se reconheça com talento para moda -ao contrário da atual primeira-dama, Michelle Obama, cujo senso fashion ela chamou de ‘fabuloso’. Disse ainda que muitas vezes fala à filha única, Chelsea, 29, que o ‘gene da moda’ pulou uma geração.


Em contraste com seu pouco contato com a imprensa convencional, Hillary está disposta a explorar seu status de celebridade como ferramenta de trabalho. No mês passado, ela participou de um talk show na Indonésia e, nesta semana, também deu entrevista a um canal jovem da Cisjordânia, território palestino ocupado.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Aquele país que…


‘O ‘Financial Times’ publica hoje a entrevista ‘Lula confiante que o Brasil sai da crise’. Descreve o presidente ‘animado’ e ressalta uma declaração: ‘O Brasil entrou na crise mais tarde e tem tudo para sair mais cedo’. Diz que ‘Mr. Lula argumenta -e poucos discordam- que o Brasil está mais bem situado’, hoje. A agência Xinhua e o site Seeking Alpha concordam, em análises financeiras postadas no fim de semana.


Ainda mais animada, a ‘Time’ também entrevistou Lula -e ministros, economistas, até Djalma Bom- para longa reportagem sobre ‘o novo caminho do Brasil’, em que reproduz, entre outras declarações: ‘O capitalismo será um animal diferente [após a crise]. Os países em desenvolvimento serão responsáveis por proporção maior do crescimento global’.


Por outro lado, a ‘Forbes’ postou o texto ‘Brasil não tão bonito’, sobre a queda na produção industrial.


O MUNDO ENCOLHE


Na manchete on-line do ‘New York Times’, para texto que deu como exemplo o déficit comercial do Brasil, ‘Banco Mundial diz que economia global encolhe em 09’. Os emergentes terão uma falta de crédito de US$ 700 bi.


E O G20 REAGE?


A Reuters destacou que, para a China, ‘é prioridade o êxito da cúpula do G20’, no dia 2 de abril. Diz o ministro do exterior que ‘a tarefa mais urgente é que todos os países trabalhem para fazer da cúpula de Londres um sucesso’.


NUNCA


Na submanchete on-line do espanhol ‘El País’, ‘Exércitos da América do Sul se unem pela primeira vez’, com a fundação do primeiro órgão da Unasul, o Conselho de Defesa, hoje no Chile


DIA DA MULHER


Após algumas semanas de humilhação na cobertura, a ponto de ser tratada por ‘vadia’, repisando experiências de Luiza Erundina a Soninha, Dilma Rousseff surgiu na capa da revista ‘Veja’, no Dia da Mulher. Anuncia-se uma suposta ‘espionagem’ da ‘vida amorosa da ministra’. Num suposto documento, ‘espiões descrevem em termos grosseiros e com referências cruas as supostas relações amorosas da ministra, cujo parceiro identificam’.


Dilma Rousseff precisou declarar, em visita à afiliada da Record na Bahia, que ‘não acredita ter sido grampeada, até porque, diferentemente do publicado, ela é solteira e há muito não tem um relacionamento amoroso’.


GUERRA SANTA


Do ‘Jornal da Record’ de quarta ao ‘Domingo Espetacular’ de ontem, a rede da Igreja Universal realizou uma campanha para tirar proveito do repúdio católico ao aborto da menina de 9 anos. Uma manchete: ‘O Brasil e o mundo discutem excomunhão de responsáveis por aborto. De um lado, Igreja Católica. De outro, a sociedade e o governo’. E a Universal. A rede de Edir Macedo fechou esta semana, diz o site Comunique-se, como alvo de ação do Ministério Público por ‘ofender religiões de matriz africana’. Na denúncia, ‘o abuso contraria a dignidade da pessoa, bem como os objetivos de construção de uma sociedade livre’. O bispo vem de lançar o livro ‘Plano de Poder’ (acima).


PORTAL


Segundo o Radar de Lauro Jardim, ‘a Record está criando um megaportal de notícias’, com vídeo, para concorrer com o G1, da Globo.


JORNAL


E segundo o Twitter de Cesar Maia ‘estreitam-se as relações entre a Record e o ‘Jornal do Brasil’: irão muito além da cobertura de TV’.


SEM FIM


Na manchete on-line do jornal italiano e de outros voltados ao futebol, minutos após o gol e o fim do jogo, o ‘enésimo renascimento’ de Ronaldo. Na Globo, ele tomou o domingo, na transmissão, no ‘Domingão do Faustão’, ‘Fantástico’’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Faustão faz 20 anos de Globo sem festa


‘Não haverá programa autocomemorativo para lembrar os 20 anos de ‘Domingão do Faustão’. O dominical estreou em 26 de março de 1989.


Globo e Fausto Silva chegaram à conclusão que seria ‘over’ uma edição especial para falar do programa, uma vez que há menos de um ano, em maio de 2008, foi veiculado um festivo milésimo ‘Domingão’.


Haverá um ‘Domingão’ especial em 12 de abril, mas será pelos participantes de ‘Big Brother Brasil 9’ (na primeira parte) e pelo lançamento da programação de 2009.


Serão apresentados os novos programas (como as séries ‘Força Tarefa’ e ‘Para Sempre’), pacotes de filmes e próximas novelas, entre outras novidades. Nesse dia, também serão entregues os troféus dos melhores da Globo em 2008, reunindo 45 estrelas da emissora no palco do ‘Domingão’.


A ideia de Manoel Martins, diretor-geral de entretenimento, é que todo ano o ‘Domingão do Faustão’ faça, em abril, a abertura da programação e a eleição dos melhores da casa -que, até 2007, ocorria na edição de Réveillon.


O ‘Domingão’ de 12 de abril será o primeiro em alta definição (HD), inaugurando a nova tecnologia no estúdio de shows do Projac. A partir de então, duas vezes por mês, sempre que realizado no Rio, o programa será em HD. ‘Caldeirão do Huck’ e ‘Som Brasil’ também serão em alta definição.


TRIO 1


Seguindo Record (‘Hoje Em Dia’) e Band (‘Programão’), a Rede TV! também terá, a partir de abril, uma revista diária matinal. O programa, ainda sem nome, substituirá o ‘Bom Dia Mulher’, de Olga Bongiovanni.


TRIO 2


Daniela Albuquerque, mulher do presidente da Rede TV!, não será, por enquanto, a única apresentadora do programa. Como ainda estuda e faz sessões com fonoaudiólogo, ela só participará da atração duas vezes por semana. Os outros dois apresentadores serão Arthur Verissimo, repórter da revista ‘Trip’, e Keila Lima.


TRIO 3


E a Rede TV! nega que Ronaldo Ésper terá participação no novo programa. Ele continuará no ‘Superpop’.


FAMÍLIA MODERNA


Marco Ricca e Giulia Gam estão cotados para serem os protagonistas de ‘Para Sempre’, nova série da Globo, sobre descasados que tentam construir nova família. O elenco será definido nesta semana, após testes. A diretora Denise Saraceni pretende impor uma linguagem cinematográfica.


TESTADA


Olga Bongiovanni fez testes para apresentar o ‘Casos de Família’, do SBT. Quem viu não gostou. Achou ela fria demais.


CENÁRIO


O novo ‘Video Show’ terá uma redação como cenário.


MÚSICA


A Globo exibirá ‘Por Toda a Minha Vida’ no formato de temporada em várias sextas-feiras consecutivas.’


 


 


Sylvia Colombo


Confusa, ‘Damages’ volta a assustar


‘Quem assistiu à primeira temporada de ‘Damages’ deve estar esperando ver Glenn Close voltar a causar arrepios logo de cara na segunda fase do seriado, que estreia amanhã no canal AXN. Mas não é assim que veremos a diabólica advogada Patty Hewes, encarnada pela veterana, que começou a aterrorizar-nos em 1987, com o papel da amante psicopata de ‘Atração Fatal’. Assustada por fantasmas de um passado distante -um ex-amante metido numa encrenca- e de um outro nem tanto -o suicídio de um rival dentro de seu próprio escritório-, a personagem ressurge tendo alucinações e chiliques. Para agravar, a jovem Ellen Parsons, a princípio sua inocente estagiária, reaparece como a criatura enlouquecida para vingar-se da criadora. O interesse de ‘Damages’ está no fato de ter uma trama que sofre incontáveis reviravoltas, com personagens que nunca são o que parecem ser e que mentem sem parar. Mas essas qualidades causam também vertigem, exigindo atenção redobrada para guardar peças que só vão se encaixar no final. É uma aposta de risco, vitoriosa na edição anterior, mas que corre risco de desandar. Para piorar, é bom alertar que quem não viu a primeira parte não entenderá bulhufas desta. A história acontece em diferentes tempos. Em cenas de tom sépia e trilha de terror, vemos um crime no futuro do qual fragmentos vão sendo revelados aos poucos. Um velho conhecido de Hewes (William Hurt) reaparece, metido numa intriga que colocará a advogada em cheque com a própria ‘moral’. O novo quebra-cabeças fará com que ela saia do surto inicial e volte, elegante em seu tailleur, mais assustadora do que nunca.


DAMAGES


Quando: a partir de amanhã, às 21h Onde: AXN Classificação: não informada Avaliação: bom’


 


 


WWW
John Markoff, NYT


Em direção a uma nova internet


‘Há duas décadas, um estudante universitário brilhante de 23 anos colocou a internet de joelhos com um simples software que saltou de computador para computador com rapidez vertiginosa, engarrafando totalmente a rede, então pequena, em questão de poucas horas.


O programa foi pensado apenas como brincadeira digital. Desde então, porém, as coisas vêm se agravando muito.


Cada vez mais engenheiros e especialistas em segurança pensam que a segurança e a privacidade na internet se tornaram tão frágeis que a única maneira de consertar o problema é recomeçar do início.


Qual poderia ser a cara de uma nova internet é algo ainda largamente debatido, mas uma alternativa é criar o que na prática seria um ‘condomínio fechado’, cujos usuários abririam mão de seu anonimato e de certas liberdades em troca de segurança. Já é esse o caso hoje de muitos internautas a serviço de empresas e governos.


À medida que a rede nova e mais segura for amplamente adotada, a internet atual pode acabar sendo relegada à condição de bairro perigoso do ciberespaço. Você entraria nele por sua conta e risco e ficaria atento aos perigos enquanto estivesse navegando.


‘Se não nos dispusermos a repensar a internet de hoje, estaremos simplesmene esperando acontecer uma série de catástrofes públicas’, disse Nick McKeown, engenheiro da Universidade Stanford, na Califórnia, envolvido na construção de uma nova web.


Esse fato ganhou destaque no ano passado, quando um programa de software malicioso -aparentemente desencadeado por criminosos do Leste Europeu- apareceu de repente, depois de desviar-se facilmente das melhores ciberdefesas do mundo.


Conhecido como Conficker, ele rapidamente infectou mais de 12 milhões de computadores, devastando desde o sistema de computadores hospitalares do Reino Unido até as redes de computadores das Forças Armadas francesas.


Uma versão nova do programa, conhecida como Conficker B++, foi lançada em fevereiro, depois de equipes de segurança de computadores terem inoculado o original.


O Conficker ainda é uma bomba-relógio ativada e demonstrou que a internet ainda é altamente vulnerável a um ataque coordenado.


‘Se você procura um Pearl Harbor digital, já temos os aviões japoneses no horizonte, voando em nossa direção’, disse Rick Wesson, executivo-chefe da consultoria de computadores Support Intelligence.


Os criadores da internet jamais imaginaram que a rede um dia carregaria o peso de todas as comunicações e o comércio do mundo. Pouca atenção foi dada à segurança. Desde então, esforços imensos foram feitos para proteger a rede, mas com poucos resultados.


‘Sob muitos aspectos, provavelmente estamos em situação pior do que estávamos 20 anos atrás’, disse Eugene Spafford, diretor-executivo do Centro de Educação e Pesquisas em Segurança da Informação da Universidade Purdue, no Estado de Indiana. ‘Isso porque todo o dinheiro foi dedicado a remendar os buracos atuais, em lugar de investir no redesenho de nossa infraestrutura.’


Apesar de uma indústria global crescente de segurança de computadores, cuja receita projetada para 2010 é de US$ 79 bilhões, e o fato de que, em 2002, a própria Microsoft lançou um esforço para melhorar a segurança de seus softwares, a segurança na web continua a deteriorar-se.


Mesmo as redes militares mais fortemente protegidas já mostraram ser vulneráveis. Em novembro passado, o comando militar americano encarregado das guerras do Iraque e do Afeganistão descobriu que suas redes de computadores tinham sido infectadas com softwares que podem ter permitido um ataque devastador de espionagem.


É por isso que cientistas armados com dólares de pesquisas federais estão estudando, em colaboração com a indústria, a melhor maneira de recomeçar do zero. Em Stanford, onde foram projetados os protocolos de software da internet original, pesquisadores estão criando um sistema que possibilitará colocar uma rede mais avançada sob a web de hoje. Até meados do ano, essa rede mais avançada estará funcionando em oito campi universitários nos Estados Unidos.


A ideia é construir uma internet mais segura e capaz de suportar uma nova geração de aplicativos ainda não inventados.


O projeto Tábula Rasa de Stanford vai dotar criadores de software e hardware de uma caixa de ferramentas para fazer dos elementos de segurança uma parte mais integral da rede. Apesar de todos esses esforços, porém, os verdadeiros limites à segurança dos computadores podem estar na natureza humana.


‘Assim que você começa a lidar com a internet pública, todo o conceito de confiança vira um atoleiro’, disse Stefan Savage, especialista da Universidade da Califórnia em San Diego.


Uma rede mais segura quase certamente oferecerá menos anonimato e privacidade. Essa é provavelmente a maior concessão que os criadores da próxima web terão de fazer.


Mas comprovar identidade deve continuar a ser muito difícil, em um mundo em que é tão fácil invadir qualquer computador. Enquanto isso persistir, construir um sistema totalmente confiável continuará a ser virtualmente impossível.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 9 de março de 2009


 


PROPAGANDA
Marili Ribeiro


Publicidade infantil tenta se reinventar


‘O cerco à publicidade dirigida ao público infanto-juvenil se intensifica. Há vários processos no Ministério Público, abertos com base em denúncias de ONGs que lutam pelo aumento das restrições a esses anúncios. Do lado das agências e anunciantes, a atuação do Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) acabou levando à suspensão de pelo menos uma dezena de comerciais. Diante desse cenário, resta às empresas buscar saídas para passar suas mensagens.


Esse quadro não está restrito ao Brasil, e tornou-se um desafio para empresas em todo o mundo. A alternativa mais comum tem sido a de dirigir a propaganda aos pais. Foi o que fez a Kellogg?s, em grande estilo, este ano, para divulgar o cereal Sucrilhos. O anúncio estreou no mais caro intervalo comercial da televisão mundial, o da final do campeonato de futebol americano – o Super Bowl. Ali, 30 segundos custam US$ 3 milhões. A mensagem convidava os pais a mobilizarem vizinhos em projetos de revitalização de parquinhos que seriam patrocinados pela marca.


‘A mecânica é simples, as pessoas envolvem a comunidade e a marca investe na reconstrução dos mais votados’, diz a consultora de propaganda Paula Rizzo, dona da empresa e*ideias. ‘A ação mostra que a empresa não só entendeu as novas regras, como foi além e criou uma ação simpática.’


A solução desperta o olhar das entidades em defesa dos pequenos consumidores. No Brasil, a Kellogg?s passa por inquérito do Ministério Público, acusada de utilizar apelos imperativos e personagens lúdicos para chamar a atenção de crianças com menos de 12 anos. A empresa se defende dizendo que não faz propaganda para menores.


Apesar de ter saído à frente da concorrência na iniciativa de não dirigir publicidade para crianças, a indústria de alimentos Kraft Foods enfrenta problema similar com denúncia do Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, em andamento no Ministério Público. Nela, se questiona o fato de a companhia fazer comerciais para adultos com apelos do universo infantil. ‘O Alana tem posição muito radical’, queixa-se Fabio Acerdi, diretor de Assuntos Corporativos da empresa.


‘O problema é que as empresas veem as crianças como promotoras de vendas’, diz Isabella Henriques, advogada do Alana. ‘No caso da Kraft, o anúncio da linha Trakinas (biscoitos) é feito com animação, e estudos mostram que a criança não sabe distinguir o que é conteúdo do que é propaganda.’ Para Isabella, a questão essencial hoje reside no excesso de horas de exposição desse público à televisão. No Brasil, as crianças ficam em média cinco horas por dia em frente à TV.


O resultado mais evidente dessa rotina, segundo pesquisa da TNS InterScience feita com mais de 1,2 mil mães de crianças entre três e nove anos, é a influência dos anúncios. A pesquisa aponta, com 83% das respostas da mães, que a publicidade é o principal fator para que seus filhos peçam uma determinada marca ou produto.


A empresária Ana Rocha, mãe de Bruno, 7 anos, e Maria Clara, 4, concorda com os efeitos noviços do excesso de anúncios na TV, mas acha que a atual sociedade está viciada na mensagem do ‘compre’. Márcio Franzoli, piloto da Korea Airlines e pai das crianças, acha que saída está nos pais monitorarem o tempo de televisão.


Executivos da indústria lembram que é responsabilidade dos pais educar seus filhos para o consumo. ‘Nas nossas lojas, as crianças entram pelas mãos dos pais e são eles que vão aprovar as escolhas que elas vão fazer’, diz o vice-presidente de marketing da rede de lanchonetes McDonald?s , Mauro Multedo.


Nas redes de fast food há a atração dos brinquedos distribuídos com determinados lanches, o que alguns condenam. Na semana passada, o Ministério Público recomendou às redes McDonald?s, Burger King e Bob?s que suspendessem a iniciativa. Multedo defende a ação dizendo que é similar a levar a criança ao parque e comprar algodão doce ou pipoca.


‘Há uma leitura xiita das coisas’, considera o diretor de marketing da Brinquedos Estrela, Aires Leal Fernandes. ‘Temos o direito de divulgar os brinquedos que ajudem as crianças a se desenvolveram’, acrescenta.


A publicitária Paula Rizzo, mãe de um bebê de nove meses, acredita que as empresas vão sair das mídias tradicionais por conta das restrições e aumentar investimentos nos pontos-de-venda. ‘Basta ver o sucesso de espaços para a experiência de marca, como a loja de bonecas American Girl Places, nos Estados Unidos, ou a Casa da Barbie, na Argentina’, diz.’


 


 


MÚSICA NA REDE
Bruno Paes Manso


O Brasil na Orquestra YouTube


‘Na quinta-feira, a violinista Irina Kodin, de 30 anos, fez parte de um capítulo importante da história da música paulista ao tocar na Sala São Paulo sob a regência do francês Yan Pascal Tortelier, que estreou substituindo o maestro John Neschling como titular da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). Nascida na Bulgária, morando na cidade desde os 20 anos, quando foi contratada para integrar o naipe de primeiro violino da orquestra, Irina foi uma das protagonistas do crescimento e da popularização da Osesp nos últimos anos.


A violoncelista Larissa Mattos, de 20 anos, ainda dá os primeiros passos em um futuro cheio de possibilidades. Estudante de música na Universidade Federal de Minas Gerais, ela se diz ‘um pouco violoncelista, um pouco poeta, um pouco desenhista, um pouco compositora e um pouco arranjadora’. Atua em uma peça de teatro em Belo Horizonte e tem dois grupos de música popular: o Café Apoena, com influências de Mutantes e Secos e Molhados, e o Girau, com toques de Chico Buarque e Pixinguinha.


Irina, a música consagrada, e Larissa, a artista promissora, são as representantes do Brasil na YouTube Symphony Orchestra e vão se apresentar no Carnegie Hall, em Nova York, no dia 15 de abril. Elas foram escolhidas entre cerca de 3 mil vídeos e irão compor um time de 90 músicos de 30 países que tocarão sob a regência do maestro Michael Tilson Thomas, da San Francisco Symphony.


A grande inovação do projeto da orquestra foi justamente o processo de seleção dos candidatos. Cada concorrente tinha de postar um vídeo no YouTube tocando duas músicas, o que permitiu a participação de competidores de 70 países diferentes, do Azerbaijão à Venezuela. Uma das músicas ficava à escolha do participante. Irina e Larissa foram de Bach. No segundo vídeo, os concorrentes precisavam interpretar uma composição feita especialmente para a ocasião, de autoria do maestro chinês Tan Dun, ganhador do Oscar pela trilha sonora do filme O Tigre e o Dragão.


Nessa segunda performance, além de ler as partituras, os concorrentes deveriam acompanhar um vídeo na internet no qual o próprio maestro regia sua obra. Irina usou um iPod para tocar o violino no ritmo certo, sempre de olho na regência virtual de Tan Dun. Larissa, com um computador antigo e lento, teve dificuldade, compensada pelo carisma e pela técnica na execução da obra.


Dos 3 mil candidatos, 200 foram para a fase final, quando se iniciou uma votação on line para saber os preferidos da audiência na internet. Como era de se esperar, a vontade do povo não deixou de fora as duas belas, competentes e carismáticas representantes do Brasil.


Os 90 integrantes que vão se apresentar em Nova York tocam 26 instrumentos diferentes. A orquestra, de uma maneira geral, como queriam os organizadores, mistura profissionais renomados, como Irina, e promessas amadoras, como Larissa. Do mundo inteiro.


GAIOLA DAS POPOZUDAS


Além do projeto inovador, a iniciativa do YouTube busca popularizar a música erudita para as novas gerações. Mesmo com a ferramenta tecnológica correta para atingir os jovens, certamente a divulgação dos clássicos vai demandar uma trabalho hercúleo. O próprio processo de escolha mostrou o tamanho do desafio. Desde dezembro, 13 milhões de pessoas de mais de 200 países acessaram os vídeos do concurso de música clássica. Os organizadores consideram esses números um estrondo. O sucesso, contudo, é relativo se comparado à quantidade de acessos de um único vídeo do grupo de funk carioca A Gaiola das Popozudas, com 13, 045 milhões de page views.


Despertar a paixão por música de qualidade, contudo, não há quem discorde, demanda novos canais de divulgação dessas obras. No caso de Irina, nascida em Sofia, na Bulgária, quando o país ainda vivia sob comando de governo comunista, a paixão veio da forma como era usual em uma sociedade acostumada a planejar vida de seus habitantes desde criança.


Ela tinha 4 anos quando o pai, médico, e a mãe, dentista, colocaram sobre a mesa estetoscópio, livros, objetos de cozinha e um violino para ver qual deles a criança escolhia. Irina foi intuitivamente abraçar o instrumento musical. Sem saber, ela participava de um teste familiar para definir seu destino: estudaria música antes mesmo de aprender a ler. Aos 20 anos, foi selecionada para integrar Osesp. ‘Não tenho do que reclamar. Faço o que gosto’, diz.


No caso de Larissa, a paixão apareceu despretensiosamente. Quando era adolescente, começou a frequentar apresentações de orquestras e gostou do violoncelo. Passou a assistir a filmes e vídeos com o instrumento. Aos 15 anos, matriculou-se num curso técnico de música para ter aulas durante quatro anos por sete horas diárias. Atualmente, está no 3º ano da faculdade de Música. ‘Gostaria de ganhar a vida com música popular. Mas também amo música clássica’, explica.


NA INTERNET


Em Nova York, Larissa diz que pretende aprender com os outros instrumentistas mais experientes.Irina, há dez anos na Osesp, está ansiosa e sente curiosidade em voltar a tocar com instrumentistas de outros lugares. A apresentação da orquestra do YouTube, claro, estará à disposição na internet.’


 


 


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