Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Dissonância e senso comum

Ultimamente tenho refletido muito como são importantes essas duas palavrinhas, essenciais no processo de formação de opinião da sociedade. Elas devem receber mais atenção.

A atração das pessoas pelo Senso Comum é muito forte, elas precisam se reconhecer, procuram por grandes referências, precisam participar, fazer parte. Ao mesmo tempo em que geram, procuram pelas grandes audiências, num processo de aglutinação semelhante ao das grandes cidades. Sentem-se seguras e confortáveis pertencendo ao todo. Mesmo com toda a fragmentação de mídias do mundo plugado, conectado e tecnológico que vivemos, com a enorme proliferação das fontes de informação, é muito grande a concentração. No Brasil, por exemplo, 20% dos maiores veículos ainda alcançam 80% de toda audiência. A formação do Senso Comum é uma característica vital para preservação das empresas de mídia de massa.

Entre toda essa ‘unidade’, aparece com extrema importância a Dissonância. Mesmo que seja para discordar, ela é extremamente necessária para formar a opinião, fortalecer o pensamento e as convicções. O enfoque dissonante faz você pensar, refletir, crescer. Buscamos e convivemos com o Senso Comum e não concordamos com ele. Evitamos as vozes dissonantes e precisamos absolutamente delas.

Credibilidade na sociedade

A pouca quantidade de dissonância configura uma mídia domesticada, pasteurizada e muito voltada para o Senso Comum, uma mídia que fala muito o que as pessoas querem ouvir e muito pouco do que elas precisam ouvir. Esse contexto certamente é um dos responsáveis pela crise de credibilidade dos veículos tradicionais, emergindo cada vez mais as próprias pessoas como principais referências para quaisquer assuntos, tendo como turbina as Mídias Sociais.

Fugindo então do Senso Comum temos as Mídias Sociais como movimento dissonante, preenchendo um espaço não ocupado pelas mídias tradicionais. Pessoas como referência para outras pessoas em grande escala, compondo ao mesmo tempo um movimento paralelo de Senso Comum. Isso configura um cenário complexo, interessante e de oportunidades. Se as Mídias Sociais passarem a ser mais Senso Comum do que Dissonância, pela própria ausência de Dissonância nas principais fontes de informação perderão relevância e credibilidade, mas ocuparão um espaço importante das mídias de massa na formação de Senso Comum, levando-as ao fim. Pausa para reflexão.

Como isso é muito pouco provável, mais certo será a importância da Dissonância para as mídias de massa, ampliando sua credibilidade e seu papel na sociedade, trazendo mais sucesso para quem for dissonante, pode apostar.

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Diretor de mídia da DPZ Rio de Janeiro, professor universitário e presidente do Grupo de Profissionais de Mídia do RJ