Um pouco de história para aqueles que apreciam o desenvolvimento das sociedades. No entanto, a história, paralela às atualidades, mostra que certas coisas jamais mudaram. E que por mais evoluída que se ostente uma sociedade, esta apenas faz valer o que a própria lei da natureza diz: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” Porém, eu diria: Tudo, tudo se adapta.
A senhora Roma, dona do Mediterrâneo, foi um dos impérios mais aclamados da história. Conquistou dimensões territoriais que foram desde parte da Ásia ao norte da África e leste europeu, circundando todo o litoral mediterrâneo, do qual, como foi citado anteriormente, tornou-se dona do mesmo. Todavia, quando atingiu o seu ápice territorial, paralisando as guerras de conquistas, Roma entrou em um processo de decadência que culminou com sua total ruína, em meados do século 5, quando é dominada pelos povos bárbaros.
Um dos processos usados para alienar sua população e manter a atenção do mesmo desfocada do governo foi a política do “pão e circo”, política esta que também colaborou com o processo de crise econômica, iniciado pelo alto preço de escravos e uma crescente crise na agricultura, forçando os médios e pequenos proprietários de terras a vender sua única fonte de renda e ir morar na cidade, sendo alimentados e entretidos pelo Estado. Quem não se lembra dos filmes sobre a Roma Antiga onde homens se gladiavam até morte no grande Coliseu? Pois bem, este era o entretenimento favorito dos romanos.
Lembrando que o Império Romano desmoronou juntamente a um conjunto de crises que se abateu sobre ele, e não por um fator específico. Assim, como já foi dito, seu estopim foi a estagnação territorial. Em suma, Roma foi a criadora de uma das formas de governos mais utilizadas nos dias atuais, e não me refiro à República, mas sim, ao panis et circenses.
Contudo, assim como o homem evolui e seguindo a teoria de que na natureza tudo se adapta, a tal prática para manter a população romana sob controle também sofreu transformações significativas para se adequar aos tempos modernos. Hoje o pão e circo é outro.
Em um papel mal interpretado, simbolizando a Roma Antiga, está o governo brasileiro cujos ideais são legitimados por uma população mesquinha e egoísta, que diz sim e aplaude o grande circo que é a política brasileira. Segundo Sérgio Moraes, “pouco importa a opinião pública”. E, de fato, por que se importar com a opinião de um público que se contenta com o miserável salário mínimo e só sabe fazer sua voz ser ouvida quando o grito é de louvor ao hino do Corinthians? Por que se importar com a opinião de alguém que se contenta com as migalhas de programas sociais como Bolsa Famíliae Bolsa Escola? Esta é uma maneira de abranger todo o painel brasileiro e fornecer seu pão a todos os tipos sociais, não acha?
O circo televisivo
Não é segredo que nossa nação só se preocupa com seu país em tempos de Copa do Mundo e Carnaval. Incrivelmente, milhões de brasileiros até choram quando seu país é derrotado no futebol, mas se mantêm indiferentes quando é dado a uma fulana um milhão de reais para a criação de um blog dedicado à cultura. Que cultura tem alguém que permite que seu dinheiro seja jogado fora desta maneira? Que cultura tem um país imerso na absoluta desigualdade social e que permite que milhões e milhões de reais sejam gastos com investimentos em Olimpíadas e Copas do Mundo enquanto nossa nação está condenada a miséria?
O Brasil “romano” não tolera mais este tipo de atitude; contudo, aplaude calorosamente o espetáculo fornecido. O que aconteceu com aquela população que ousou lutar contra a opressão e o descontentamento? O que aconteceu ao jornalismo que parece se vangloriar do sangue e lágrimas vendidos aos milhões? Por que você não acorda? Por que você se permite aplaudir este tosco espetáculo que é a mídia e a política brasileira? Por que você consente ao “boa noite” do Bonner e folheia emocionado as páginas manchadas de desprezo por você da Veja?
Nada, absolutamente nada vai mudar enquanto comermos famintos as migalhas que a nós são oferecidas e a assistirmos contentes, com sorrisos cálidos, ao circo televisivo que nos é apresentado. Será que quando isto terminar voltaremos a velha questão de Antonieta: se não tem pão, que comam brioches?
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[João Gustavo de Oliveira é estudante de Jornalismo, São Sebastião do Paraíso, MG]