Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Dois alvos do Liberal

O grupo Liberal voltou à carga contra dois personagens públicos, alvos de seus interesses contrariados. Um deles é o reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Alex Fiúza de Melo. O outro é o ex-prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues.

A propósito de um problema real, a falta de segurança no campus do Guamá, reavivado por mais um caso de estupro cometido contra uma estudante, o jornal passou a publicar matérias diárias tendo um ponto em comum: a culpa por essa situação é da administração universitária.

Se, de fato, há uma parcela de responsabilidade do reitor e sua equipe pela gestão da UFPA, ela deve ser ponderada por outros fatores tão ou mais importantes, como a falta de verbas para uma condução do problema na escala por ele requerida, o peso que o trato da segurança já representa no orçamento da universidade (absorve 10% dos seus recursos), a dimensão e as características físicas e arquitetônicas do campus e sua localização, cercado que se encontra por bairros pobres no continente e exposto ao livre acesso pela margem do rio.

Viciado pela cobertura tendenciosa de uma questão grave e desafiadora, o jornal chegou a anunciar a possibilidade de o Exército (hoje mais invocado do que o bispo como salvação extrema e externa) passar a patrulhar o campus. De fato, se a administração da universidade não tem condições de tomar pé da situação e reduzir o grau de insegurança no campus, precisa recorrer a uma força auxiliar. O próprio reitor admitiu essa necessidade, mas se referiu à Polícia Militar e não ao Exército, como é normal pensar.

Ao invés de criar um bode expiatório, que se tornou evidente pela ótica da empresa desde que Alex Fiúza de Melo se solidarizou comigo, depois da agressão de Ronaldo Maiorana [ver ‘Jornalista espancado por dono de jornal‘ e ‘Parecer da ANJ sobre o caso Lúcio Flávio Pinto‘], O Liberal devia tratar com seriedade a questão, buscando uma solução real para um problema que ameaça diariamente milhares de jovens e milhares de outros cidadãos. Parte da saída pode não estar numa medida meramente repressiva e policialesca, como aquela em cuja tecla o jornal vive a bater, mas numa relação mais harmônica e constante com a comunidade ao redor do campus.

Se os muros do saber, que tentam excluí-la desse suposto jardim do paraíso, já não conseguem conter a agressividade externa, devem servir de passarela para uma aproximação decente, respeitosa, civilizada e de mútuo interesse com a comunidade vizinha. Talvez assim se consiga evitar, na raiz, situações que se tornam problemas quando se manifestam na realidade, criando seqüelas para todos. Inclusive para o grupo Liberal.

Opção preferencial

Já a campanha contra Edmilson Rodrigues, retirada do baú e reaquecida para aparentar vida nova, teria como motivo o índice de preferência do ex-prefeito de Belém nas sondagens pré-eleitorais. Embora não tenha qualquer penetração no interior, onde estão dois terços do colégio eleitoral do estado, o ex-político do PT (agora no PSOL) apareceria como uma alternativa de peso para a disputa pelo governo do estado na capital.

Por isso, questões que já haviam sido superadas, por esclarecimento das acusações ou desinteresse político, foram recolocadas na pauta do jornal e, por extensão, ou derivação, no plenário da Câmara Municipal. Menos para que as obscuridades sejam esclarecidas e eventuais responsabilidades cobradas do que para dar um ‘chega-pra-lá’ no candidato em potencial, possível adversário dos ‘tucanos’, a opção preferencial do grupo Liberal na próxima eleição.

Os dois casos – e muitos outros – recomendam aos leitores que antes de se perguntar pelo que O Liberal anda dizendo, indagar-se por que O Liberal está dizendo tais coisas. Certamente não será por causa do sexo dos anjos.

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Jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)