Wednesday, 04 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Dois latino-americanos na lista dos 100 mais

O fato de que a nova lista das “100 Pessoas Mais Influentes do Mundo” da revista Time inclui somente dois latino-americanos suscita uma questão interessante: se a América Latina é ou não totalmente irrelevante ou se a revista de 88 anos – como boa parte da mídia americana – vive em um mundo do passado centrado em Nova York.

A lista da revista é encabeçada por Wael Ghonim, o jovem egípcio executivo do Google que desencadeou a revolta popular que derrubou o ex-ditador Hosni Mubarak, seguido por personalidades americanas dos negócios, das invenções, das artes e dos esportes.

Entre os dez primeiros da lista estão o economista da Universidade Columbia e ganhador do Nobel, Joseph Stiglitz; o fundador da locadora de filmes domésticos Netflix, Reed Hastings; o educador do Harlem, de Nova York, Geoffrey Canada; e o fundador da rede social Facebook, Mark Zuckerberg.

No entanto, os únicos dois latino-americanos que entraram na lista são a presidente brasileira, Dilma Rousseff, em 27º lugar, e o jogador de futebol argentino Lionel Messi, em 86º. Por comparação, contei sete africanos na lista da revista, a maioria deles relacionados aos levantes recentes no Norte da África.

“A América Latina teria saído do mapa?”, questionei vários amigos que acompanham os assuntos da região. A maioria riu e disse que a lista da revista não deveria ser levada a sério.

É difícil explicar por que ela não inclui o magnata mexicano Carlos Slim, o homem mais rico do mundo e dono, entre outras coisas, de um bom naco do New York Times. Ou o magnata brasileiro da mineração Eike Batista, o oitavo homem mais rico do planeta, segundo a Forbes.

Ou Shakira, a cantora colombiana que está entre as mais ricas e mais famosas do mundo e foi escolhida para abrir a Copa do Mundo de futebol na África do Sul, no ano passado. Ou o escritor peruano e ganhador do Nobel Mario Vargas Llosa, cujos escritos são lidos em todo o mundo. Ou o artista colombiano Fernando Botero, um dos mais famosos pintores vivos. A lista poderia continuar.

Importância

E quando se trata do futuro dos Estados Unidos, a América Latina está se tornando cada vez mais importante. Quando menos porque os EUA exportam mais de três vezes mais para a América Latina do que para a China, mas dependem mais das exportações de petróleo da região do que das exportações da Arábia Saudita.

No entanto, a despeito da visão paroquial do mundo dos editores da revista Time, também é verdade que a América Latina não fez muito para vencer sua imagem em alguns cantos do mundo desenvolvido de uma região que não está indo a parte alguma – um gigante adormecido que parece começar a despertar quando os preços mundiais das commodities sobem, só para voltar a dormir quando eles caem. Entre os fatos citados por economistas que poderiam sustentar uma visão desesperançosa do futuro da região estão:

1. A participação da América Latina na economia mundial permaneceu praticamente estagnada nas cinco últimas décadas – ela foi de 6% a 7% do Produto Interno Bruto (PIB) global, entre 1960 e 2009, segundo o World Development Indicators 2011 do Banco Mundial. Por comparação, a participação da China dobrou de 4% para 8%.

2. A redução da pobreza na América Latina foi marginal nas três últimas décadas. Enquanto a porcentagem de pobres – pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 por dia – caiu de 84% para 16% da população na China, desde 1981, o porcentual de pobres da América Latina caiu apenas de 12% para 8% no mesmo período, segundo dados do Banco Mundial.

3. A participação da América Latina no total de investimentos mundiais em pesquisa e desenvolvimento (P&D) é irrisória. Somente 2,3% de todos os gastos em P&D são feitos na região, em comparação com 36% nos Estados Unidos e Canadá, 31% na Europa, e 28% na Ásia, segundo a Ibero-American Network of Science and Technology Indicators.

Mudança

Na minha opinião, os editores da revista Time estão vivendo em um mundo do passado, onde tudo o que era importante ocorria nos Estados Unidos. Não posso acreditar que eles seriamente acreditem que o prefeito de Newark ou o governador de New Jersey – ambos presentes em uma posição alta na lista – sejam mais influentes do que Slim ou Shakira.

Entretanto, a mancada da revista Time poderia ajudar os latino-americanos a perceberem que, ao contrário do que seus líderes muitas vezes lhes dizem, a região ainda precisa convencer boa parte do mundo de que se tornou uma importante protagonista global.

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Colunista do Miami Herald