Camaçari, região metropolitana de Salvador, 10 de julho de 2009. Já passava das 18 horas e eu estava no jornal quando meu chefe entrou falando que tinham levado uma colega de trabalho para a delegacia. Achei que era brincadeira, mas percebendo a agitação dele, só tive mesmo tempo de apanhar a bolsa dela, a minha e entrar no carro a caminho da 18ª delegacia.
Nos cerca de quatro minutos do trajeto, meu chefe me contou o que tinha acontecido. Um homem, aparentemente bêbado, estava dirigindo um carro quando foi interceptado por agentes de trânsito e os insultou. A polícia foi chamada para conduzi-lo à delegacia. Ao subir na viatura, o homem tomou uns tapas de um dos policiais. Para o ‘azar’ da minha colega de trabalho, o flash da máquina disparou justamente nessa hora. Quando já estava quase na entrada do prédio do jornal, o policial a abordou sem o mínimo daquele princípio básico chamado educação. Disse que ela não tinha direito de fotografá-lo e a obrigou a apagar as fotos. No entanto, ‘só’ isso não foi suficiente. O policial a colocou na carroceria da viatura junto com o homem que dirigia aparentemente embriagado e a conduziu para a delegacia.
Chegamos todos à 18ª quase ao mesmo tempo. O policial insistiu em não devolver a máquina e quis resolver o caso junto ao delegado. Chegando lá, assisti a uma cena vergonhosa para a Polícia Militar da Bahia. Um policial discutindo com uma profissional, mandando-a falar baixo ao mesmo tempo em que ele próprio gritava, esbravejava. Uma fúria que nunca vi igual.
Despreparo e truculência
A frase que ele insistentemente repetiu e não me saiu do pensamento foi ‘Eu sou policial’, como se ser policial fosse a coisa mais importante da face da terra. Como se ser policial significasse que todo o resto do mundo tinha que abaixar a cabeça e dizer amém. Não desmereço em hipótese alguma essa profissão. Ela é tão importante como todas as outras. Ser policial, ou bombeiro, coveiro, médico, jornalista, mototaxista é uma opção de cada um de nós – isso não nos torna melhor ou pior que ninguém. Policial não é Deus. Policial não é o senhor das razões. Não pode fazer o que quiser com nenhum de nós – que inclusive pagamos seu salário – só porque é policial.
Outro fato que achei interessante é o de não poder fotografar o trabalho da polícia. Oxe, onde é que está escrito isso? Porque se não pode, então a própria polícia precisa ser avisada. Afinal, várias vezes, ela mesma é que telefona para o jornal informando sobre as blitze que está realizando pela cidade e nos convida a fotografar. Aí pode? Que lei é essa que só permite flashes para a reprodução de cenas favoráveis à polícia? São dois pesos e duas medidas, então?
Enfim, a tecnologia está aí e nos permitiu recuperar as fotografias que registram o carro da polícia com um homem e dois policiais na carroceria. Aparentemente, nada demais. Mas, tanto para mim quanto para o meu chefe e, principalmente para minha colega de trabalho, essas imagens são sinônimo do despreparo, da truculência e da falta de ética. Sobretudo, para nós, essas fotografias representam a vergonha de ter na Polícia Militar da Bahia um agente como esse manchando o trabalho da corporação.
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Jornalista, Camaçari, BA