Os idos de setembro foram antecipados no Brasil. O Grito do Ipiranga deu-nos a independência política e um defensor perpétuo do Brasil. Dom Pedro I não foi um mau administrador, como quiseram nos fazer crer os republicanos para difamá-lo e assim caluniar toda a Família Real.
É verdade que Dona Maria I, avó de Dom Pedro I, era louca, mas não era corrupta. Deve ser julgada no contexto em que vivia. A sua atuação na devassa, quando decretou a morte de Tiradentes por enforcamento, tendo determinado ainda que pedaços de seu corpo fossem salgados e dependurados em postes, deve ser examinada à luz do que outros monarcas, diante de ameaças semelhantes, faziam. Todos os outros inconfidentes foram poupados da morte, ainda que tenham recebido outros castigos, como o exílio.
Excetuando-se Cláudio Manuel da Costa, que provavelmente morreu assassinado na prisão, ainda que tenha sido dada como suicídio a sua morte, outros tiveram melhor sorte. E o exílio de Tomás Antônio Gonzaga na África foi dourado. Logo ele esqueceu Dorothéa, a Marília de seus versos, por quem estava apaixonado sob o codinome de Dirceu, e arrumou outros amores por lá.
Deixou o Brasil nas mãos de Dom Pedro II, o filho pequeno, ainda uma criança, e atravessou o Atlântico para derrotar o irmão Dom Miguel, tornando-se rei de Portugal por uma semana. Logo abdicou também daquela coroa, passando o poder à filha, Dona Glória. Ele morreu de tuberculose, aos 36 anos, na mesma cama em que nascera, no palácio de Queluz, em Portugal, no dia 24 de setembro de 1834.
Uma vida de apenas 36 anos
Dom Pedro I teve 18 filhos: sete com a imperatriz Leopoldina; um com Dona Amélia, sua segunda esposa; cinco com a marquesa de Santos, sua amante; dois com uma francesa chamada Noemy Thierry; um com a baronesa de Sorocaba, irmã da marquesa de Santos; um com a uruguaia Maria del Carmen; um com outra amante francesa, chamada Clémence Saisset; e um com a monja portuguesa Ana Augusta. Este seu último filho chamou-se igualmente Pedro, como o pai.
O gênero biográfico entre nós é pouco apreciado, embora as biografias despertem o interesse e a curiosidade de muitos. Quase não se o pratica. E mesmo entre aqueles poucos que se dedicam a biografias, às vezes temos mais panegíricos, elogios, do que exames que situem a personalidade no contexto em que nasceu, viveu, atuou e morreu.
Mas seria interessante que mais biógrafos se ocupassem de figuras históricas do Brasil, como a de Dom Pedro I. Viveu apenas 36 anos, mas em tão breve vida fez mais do que muitos que morreram, não de tuberculose como ele, abatido em plena mocidade, mas velhos de todos os anos possíveis.
Dom Pedro I governou o vasto Império do Brasil com pouca mão-de-obra qualificada para o poder, sem telefone, quase sem estradas, sem trem. O meio de transporte mais rápido era o cavalo quando chegou aqui, menino de apenas nove anos. E ainda era o cavalo quando partiu, para morrer em Portugal.
Faz 188 anos que o Brasil alcançou a independência política. Falta a independência econômica, que está demorando muito, aliás.
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Escritor, professor da Universidade Estácio de Sá e doutor em Letras pela USP; seus livros mais recentes são o romance Goethe e Barrabás e De onde vêm as palavras