Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

DP, uma revolução na imprensa

O Diário de Pernambuco quer revolucionar o jornalismo brasileiro. Em sua edição de domingo (19/11, pág. A6), tinha lá estampado em letras garrafais: ‘AL supera divergências na defesa de claudiano’. Logo acima a chamada: ‘POSTURA / Deputados se uniram para soltar colega alegando que detenção era ilegal’. Que estranho! Será que todos os deputados estaduais pernambucanos estão solidários com um deputado estadual que foi preso por graves suspeitas de falcatruas? Até os do PT, PSB, PCdoB?

Fui ler a matéria – sem assinatura, aliás: 

‘A Operação Alcaides… [blá, blá, blá]. Até a sexta-feira passada, o que prevaleceu foi o espírito de solidariedade com o colega. Nenhum representante da Assembléia Legislativa enviou nota à imprensa (de forma espontânea) para dar apoio à Polícia Federal por ter prendido o deputado Claudiano Martins (PMDB).’

Como é? E por que o DP não procurou algum parlamentar de oposição para repercutir o assunto? Está faltando repórter, estão sem carro, os telefones foram cortados? O que houve?

Mais adiante:

‘Acusado de corrupção, formação de quadrilha, tráfico de influência, emissão de documentos falsos e falsidade ideológica, o peemedebista teve respaldo político da Assembléia Legislativa.’ 

O quê? Todo mundo respaldou o acusado? O corporativismo não poderia chegar a esse ponto!

Em seguida a matéria menciona o caso do ex-ministro da Saúde Humberto Costa, o senador Sérgio Guerra (PSDB) elogiou a PF e agora mudou o discurso, blá, blá, blá, afirma que que o presidente da Assembléia Legislativa, Romário Dias (PFL), colocou a estrutura da Casa à disposição, que o líder do PSDB, Pedro Eurico o defendeu na tribuna… E ninguém mais da Assembléia foi citado! Ora, então o título e a chamada estão errados!

O DP encerra a matéria com a seguinte ‘pérola’, que alíás poderia constar no próximo Manual de Redação dos Associados:

‘De forma paralela, o único a procurar a imprensa para se pronunciar a favor da Polícia Federal foi o deputado federal eleito Pedro Eugênio (PT). A reportagem não procurou nenhum deputado para repercutir o assunto por considerar que a iniciativa deveria partir deles’.

Ah é? Quer dizer que, no caso, a imprensa não deve buscar a fonte, mas a fonte é quem deve ir atrás da imprensa? Muito interessante…

Papéis trocados

O DP poderia, pelo menos, ter dito: ‘A reportagem não procurou nenhum deputado para repercutir o assunto por preguiça’. Mas será que não queria dizer: ‘A reportagem não procurou nenhum deputado para repercutir o assunto por não ter mesmo interesse em ouvir ninguém, afinal escândalo só tem graça quando tem petista envolvido’?

É bom lembrar que nas aloprações petistas, recentes e anteriores, o mundo foi chamado para repercutir à vontade, em tudo que era meio de comunicação. Até jogador de futebol, socialite e pai-de-santo (com todo respeito a esses profissionais) tiveram espaço garantido para espinafrar. 

É público e notório que a imprensa brasileira, em sua esmagadora maioria, não consegue ser isenta quando o assunto é política. Carrega sempre dois pesos e duas medidas. E não é de hoje! Assis Chateaubriand fez escola: graduação, especialização, mestrado e doutorado. Às vezes a falta de isenção é sutil, como no caso das Organizações Roberto Marinho, outras vezes escancarada, como Veja. Mas o Diário de Pernambuco, sem dúvida, inovou com essa nova tese que, se entendi bem, prega que ‘em certos casos o jornal não deve correr atrás da notícia, mas a notícia (fonte) é que deve (de forma espontânea?) procurar o jornal’.

É isso mesmo?



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A íntegra da matéria do DP 

AL supera divergências na defesa de Claudiano

Postura / Deputados se uniram para soltar colega alegando que detenção era ilegal

[Copyright Diário de Pernambuco, 19/11/2006]

A Operação Alcaides, realizada pela Polícia Federal durante esta semana, expôs uma tradição do Poder Legislativo que atravessa gerações e só foi quebrada em 8 de junho de 2000 – dia da cassação histórica de Eudo Magalhães por quebra de decoro. Longe da tribuna, a união entre os deputados estaduais supera as diferenças ideológicas e partidárias. Até a sexta-feira passada, o que prevaleceu foi o espírito de solidariedade com o colega. Nenhum representante da Assembléia Legislativa enviou nota à imprensa (de forma espontânea) para dar apoio à Polícia Federal por ter prendido o deputado Claudiano Martins (PMDB) na terça-feira. Ele está em liberdade desde a última quinta, por decisão do Superior Tribunal de Justiça.

Acusado de corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha, tráfico de influência, emissão de documentos falsos e falsidade ideológica, o peemedebista teve respaldo político da Assembléia Legislativa. Ele foi o único dos 16 detidos e algemados na terça-feira passada a ter o direito de imagem preservado. O mesmo não aconteceu em maio de 2000, época em que era prefeito de Itaíba e chegou a ser preso a pedidos da CPI do Narcotráfico e Pistolagem, por porte ilegal de armas de fogo e adulteração de identificação de veículo.

Preso pela segunda vez, o status de deputado garantiu tratamento especial a Claudiano esta semana. O que se viu foi um forte esquema de proteção a ele, diferentemente do que aconteceu com seus dois irmãos e seu primo, igualmente presos por razões semelhantes. Depois de enaltecer o trabalho da Polícia Federal por indiciar o ex-ministro da Saúde, Humberto Costa (PT), o senador Sérgio Guerra (PSDB) mudou o discurso quando o atingido foi um de seus aliados. O tucano fez uma romaria para dar apoio ao peemedebista. Foi à Polícia Federal, ligou para o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e intercedeu junto ao Superior Tribunal de Justiça em favor de Claudiano, tratando sua prisão como ‘ilegal’ e ‘injusta’, por não atender as exigências constitucionais da imunidade parlamentar.

O presidente da AL, Romário Dias (PFL), disponibilizou a estrutura da Casa para dar suporte jurídico ao parlamentar. Na quinta-feira, Romário chegou a enviar um ofício ao Tribunal Regional Federal, para contestar a ‘arbitrária’ ordem de prisão autorizada pelo desembargador Francisco Barros Dias. O pefelista usou o argumento de que, pela Constituição Federal, o peemedebista não poderia ter sido preso, por usufruir da imunidade parlamentar.

O líder do governo, Pedro Eurico (PSDB), teve o mesmo destaque na defesa de Claudiano e os fatos da semana mostraram que o Fórum pela Ética na Política terá dificuldades de levar o caso à Comissão de Ética da Assembléia. A entidade questiona o comportamento da AL e cobra que a instituição dê satisfações à sociedade por usar recursos públicos em um caso particular que não é de interesse público.

De forma paralela, o único a procurar a imprensa para se pronunciar a favor da Polícia Federal foi o deputado federal eleito Pedro Eugênio (PT). A reportagem não procurou nenhum deputadopara repercutir o assunto por considerar que a iniciativa deveria partir deles. O petista pregou de forma quase isolada, mas começou a ganhar apoio de entidades ligadas à sociedade civil. Para ele, já é um começo.

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Jornalista (Recife, PE)