A acentuada ampliação da oferta de produtos midiáticos que misturam estratégias do jornalismo e do entretenimento está cada vez mais evidente nos últimos anos. Está cada vez mais difícil o público, de um modo geral, diferenciar o jornalismo do entretenimento. Isso porque, cada vez mais, o uso das ferramentas de persuasão e do sensacional, são aplicadas. Isso se dá pela certeza de esta ser uma forma a mais de atrair a audiência. Tais mudanças transformam o jornalismo num show. A tentativa da mídia de tentar renovar o jornalismo mesclando-o ao entretenimento abrange histórias policiais, conteúdo esportivo, turismo, fofocas do meio artístico. A exploração do velho sensacionalismo e a inserção forte de merchandisings são ferramentas usadas para unir jornalismo e entretenimento.
O choque entre o jornalismo e o entretenimento se dá pela fusão de duas éticas totalmente distintas. Se for comparado um programa totalmente voltado ao entretenimento e um telejornal sério, pode-se notar duas posturas totalmente opostas. Quando estas duas realidades se fundem, podem acontecer algumas distorções. Como misturar a fantasia e a ficção do entretenimento com o jornalismo que, em tese, tem compromisso com a verdade na base do trabalho?
A ausência de pautas sobre economia, política ou cultura, está perdendo espaço para o chamado “jornalismo diversificado” ou jornalismo com entretenimento. Os índices de revistas tidas como jornalísticas mostram um conteúdo voltado ao entretenimento. Textos informativos acabam sendo preenchido por colunas sociais, horóscopo e passatempos, além de crônicas, charges e quadrinhos.
Fusão lucrativa, mas perigosa
O rádio e a televisão, como são os principais veículos de massa, entraram na era do jornalismo com entretenimento. Apesar de parecer novidade, pode-se dizer que este fenômeno no jornalismo teve início na década de 1990 com o telejornal diário Aqui Agora (SBT), apesar do dominical Fantástico (Rede Globo), lançado na década de 1970, ser do gênero. A TV Bandeirantes começou no ramo com o diário Brasil Urgente, atualmente apresentado por José Luís Datena, que opta pelo sensacionalismo para atrair o público. Mas há na grade de programação da emissora os semanais Polícia 24h, A Liga e Custe o Que Custar, este último o mais emblemático de todos nesta nova fusão entre jornalismo e entretenimento.
No rádio, podem-se citar os diários Pânico no Rádio (Jovem Pan), Sala de Redação (Rádio Gaúcha), Pretinho Básico (Rádio Atlântida) e Cafezinho (Pop Rock). Todos eles contêm jornalistas no elenco e dizem ter como objetivo levar o ouvinte à informação de forma descontraída.
A mistura do jornalismo com entretenimento trouxe algumas vantagens, pois talvez pessoas que não tinham o costume de acompanhar notícias tenham passado a tê-lo de outra forma. O problema está em como estas mesmas pessoas recebem as notícias. Como um programa que se considera jornalístico, tendo ele humor ou não, passará uma informação com credibilidade tendo uma imensa quantidade de merchandising? Se pararmos para analisar é exatamente isso que ocorre com programas como Pretinho Básico, Sala de Redação e, principalmente, CQC.
Se for analisado o ideal do jornalismo, pode-se concluir que ele é incompatível com o objetivo da indústria cultural, que só se preocupa com o lucro e vive à procura do espetáculo. A busca pela verdade cai para segundo plano e a ilusão transfere a informação, o que deixa claro que jornalismo e entretenimento não devem andar juntos, pois parece claro que a fusão dos mesmos acaba sendo lucrativa para as grandes empresas de mídia, mas perigosa para os receptores.
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[Valério Cruz Brittos e Dijair Brilhantes são, respectivamente, professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e graduando em Comunicação Social – Jornalismo pela mesma instituição]