Bastam alguns cliques na internet para constatar que a mídia registra, com a frieza de quem apresenta relatórios objetivos, ataques de cães violentos em diversos pontos do país. Em setembro de 2005, em Ponta Grossa (PR), menino de 2 anos foi morto por um pitbull. Também no Paraná, em maio de 2005, mulher de 58 anos, residente na região metropolitana de Curitiba, foi morta por seu próprio cão, da raça rottweiler. No mesmo estado, na cidade de Londrina, em 6 de janeiro deste ano, bebê de 17 dias morreu após ser atacado pelo cão da família, que por algum motivo era chamado de Rambo.
Em Campo Grande (MS), em novembro de 2005, menina de 7 anos foi atacada por um pitbull. Mordidas na cabeça e nas costas. Ainda está sob cuidados médicos. Também em novembro, na mesma cidade, um garoto de 8 anos foi cruelmente atacado por duas cachorras da raça pitbull. A criança passou por diversas cirurgias plásticas, com intervenções no rosto, braços e pernas.
Em 12 de janeiro agora, menino de 5 anos foi atacado pelo pitbull de um vizinho, em Praia Grande, litoral paulista. As mordidas provocaram ferimentos nas costas, braços, pescoço e cabeça. Quase quinze dias depois, em 26 de janeiro, um menino de 3 anos foi atacado por um pitbull, em São José dos Campos (SP). Ferimentos graves nas mãos e na cabeça. Mais recentemente, no dia 3 de fevereiro, um menino de 6 anos foi atacado por um pitbull, em Belo Horizonte. Ferimentos no couro cabeludo e no rosto.
Como a caravana
A mídia não ladra… nem morde o problema. Limita-se a relatar periodicamente estas ‘pequenas’ desgraças. Não tem opinião. Não sofre. Não se revolta. E, portanto, torna-se conivente por passividade e omissão.
Também são coniventes, porque irresponsáveis, as autoridades públicas que lêem e ouvem essas notícias e permanecem estáticas, indiferentes. Sim, plagiando Machado de Assis, é fácil suportar a mordida que o outro leva…
Dizia-me um cinófilo que esses animais possuem força suficiente para arrastar um automóvel. Assassinos em potencial, permanecem ao lado de suas futuras vítimas, energia represada. Um belo dia, por dá cá aquela palha, como diziam os antigos, o bicho vira fera e agride o dono ou a criança mais próxima.
Os cães continuam mordendo e matando. A mídia, como a caravana, passa…
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Doutor em Educação pela USP e escritor (www.perisse.com.br)