Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

E o Oscar vai para… os Estados Unidos

No dia 27 de fevereiro ocorreu no Kodak Theatre, na cidade de Los Angeles, a 83ª edição de entrega do Oscar e, ao contrário da premiação, Globo de Ouro, que foi exibida apenas nos canais da TV fechada, o Oscar foi transmitido pela Rede Globo. Fato que contribuiu ainda mais para a perpetuação do mito de que esse é um evento mundial e democrático. Mundial, definitivamente, podemos considerá-lo, afinal, ano a ano, todos aguardam a ‘grande noite’. Porém, democrático ele não é, e nem um pouco. O Oscar é uma festa americana feita para os americanos.

A imprensa pode até dizer que não, mas o objetivo desta cerimônia é premiar e consagrar o que de melhor os Estados Unidos produziram nos últimos doze meses. Obviamente, temos a categoria ‘Melhor Filme Estrangeiro’, e nas outras entram também longas que não são americanos. Entretanto, a relação é a seguinte: a cada dez filmes, oito são estadunidenses.

Sendo assim, os outros países são julgados de forma errônea. O Brasil, por exemplo, concorreu a uma vaga com o filme Lula, o filho do Brasil, que foi bem produzido, ninguém nega, mas sozinho não retrata a qualidade e essência das nossas produções. O filme Nosso Lar, dirigido por Wagner de Assis, foi um que, particularmente, me surpreendeu. A maquiagem e os efeitos especais não deixaram a desejar em momento algum – pelo contrário, ficaram à altura dos filmes hollywoodianos. Porém, fomos representados apenas por um único documentário, Lixo Extraordinário. Sem contar a quantidade de excelentes longas italianos, franceses, marroquinos etc. que nem chegaram perto da lista dos pré-indicados para o Oscar. É como se as categorias fossem preenchidas pelos filmes americanos e as vagas remanescentes completadas pelos outros países.

Longas restritos

Não creio que a conduta dessa premiação esteja errada, mas sim, a postura da imprensa, que encara esta cerimônia como uma Copa do Mundo, na qual todos os países estão presentes e ocupam o mesmo espaço – logo, têm as mesmas chances e o melhor, vence. Após as estatuetas serem distribuídas, os meios de comunicação lançam aos quatro ventos o ‘placar’. Entretanto, em momento algum eles ressaltam que aquele resultado foi obtido pela ótica estadunidense. Pelo contrário, divulgam esses filmes como os melhores do mundo.

Consequentemente, os brasileiros, e os moradores de outros territórios, saem correndo para assistirem os longas vencedores do Oscar e os filmes locais são deixados de lado. E, lamentavelmente, brilhantes produções brasileiras, russas, coreanas, entre outras, nunca serão exibidas no cinema, e pouquíssimas pessoas irão adquirir estes DVDs. Assim, a população segue assistindo filmes blockbuster e os magníficos longas ficam restritos aos grupos intitulados de eruditos e intelectuais.

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Estudante de Jornalismo, São Paulo, SP