Em países onde o acesso à internet é mais amplo do que no Brasil, os jornais impressos têm a preferência do público sobre outros meios de acesso à informação. É o que aponta levantamento feito pela consultoria PricewaterhouseCoopers, em conjunto com a Associação Mundial de Jornais. O resumo desse estudo, publicado nos jornais desta segunda-feira (18/5), indica que cerca de 60% dos que têm entre 16 e 29 anos (o público-alvo para o futuro do negócio) optariam por ler o noticiário no papel, e não na tela, caso tivessem de escolher.
Esse e outros números devem ter repercutido positivamente entre empresários do setor. Devem, pois mesmo que os resultados aparentem ser animadores, não é certo que donos de jornais de papel estejam saltitantes de alegria apenas por causa disso.
Sim, a consultoria avaliou as opiniões de 4.900 pessoas (leitores, editores, anunciantes e profissionais de comunicação) nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Holanda e Suíça – sete nações economicamente desenvolvidas e cujo público consumidor de informação, de alto nível educacional, tem muitas opções a escolher ao procurar por notícias.
O valor que se dá ao veículo
Há, entretanto, três questões que precisam ser mais bem analisadas ao se lidar com o tema.
A primeira: o público prefere jornais, diz a pesquisa. Mas, os jornais dão preferência a seu público, ao noticiar? Com tiragens em queda e vendas de exemplares em ritmo também decrescente, dependem cada vez mais da publicidade (o que inclui, perigosamente para o leitor, a propaganda governamental) do que dos resultados nas bancas ou com assinaturas. Tem se tornado visível o quanto os jornais, de modo geral, se pautam de forma a mostrar de modo mais privilegiado a visão dos anunciantes, não raro em fatos nos quais evidentemente seriam contrariados os interesses de quem paga para aparecer. Trata-se de uma postura gradativamente destruidora da reputação da mídia impressa. E até quando o anunciante continuará a pagar para ser visto em meios cada vez menos confiáveis e que, portanto, tendem a ser menos lidos?
Em segundo lugar (é o que também diz a pesquisa; adiei a apresentação deste item para dar mais ênfase a ele), o papel supera outras mídias em preferência ao não se levarem em conta os preços das publicações impressas. No pouco que pude procurar, não consegui saber se a pergunta foi construída de forma diferente: ‘Você prefere ler notícias em jornais, mesmo tendo de pagar por eles, do que acessar conteúdo gratuitamente pela internet?’ – aliás, não inteiramente de graça, pois se paga pelo acesso à web, discado ou em banda larga, em casa ou numa lan house.
E o terceiro ponto, suscitado pelo diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, ao comentar os resultados do estudo ao jornal O Estado de S. Paulo: ‘Não há fórmula sugerida no trabalho encomendado pela WAN [sigla em inglês para Associação Mundial de Jornais], mas há uma luz ao indicar o valor que se dá ao meio jornal e, depois, como já percebem algumas empresas, prevê-se que o modelo de negócio rentável vai combinar jornais impressos, que não desaparecerão, com versões online.’
Menos agências e mais material próprio
Como essa realidade se aplicaria ao Brasil, país no qual a ampla minoria tem condições tanto de pagar por um jornal quanto de usar a internet, mas onde a aquisição de computadores e de meios de acesso à rede tem crescido de forma aparentemente mais rápida do que aumentou, com o tempo, o consumo de jornais?
Acredito, como repórter de um veículo de comunicação regional, que não haja resposta definitiva à última pergunta. No entanto, parece um caminho para a sobrevivência dos jornais impressos locais que invistam menos em agências de notícias (que trazem o mundo às pessoas) e mais em material próprio e regionalizado (que contém o mundo das pessoas).
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Repórter de A Tribuna, Santos, SP