Em sua coluna desta semana [26/11/11], o ombudsman do Washington Post, Patrick B. Pexton, elogiou o trabalho dos repórteres Carol Leonnig e Joe Stephens – que, por um ano, ficaram no rastro da Solyndra, fabricante de painéis solares e primeira empresa a receber, em 2009, um empréstimo de US$ 535 milhões de um programa do governo de Barack Obama que estimula a tecnologia verde. A Solyndra foi à falência no dia 31/8 e deixou 1.100 trabalhadores sem emprego. Obama fez um visita altamente divulgada à companhia, em maio de 2010, para falar do sucesso do programa – semanas depois, auditores expressaram dúvidas sobre a viabilidade financeira da empresa.
A questão que se tornou escândalo envolve o dinheiro do contribuinte americano: como ele é usado – ou mal usado – pelo governo. O caso mostra como a Casa Branca usa empresas para seus próprios propósitos e como empresas tentam usar a Casa Branca para alcançar seus objetivos. Também mostra como pessoas ricas que ajudam a financiar a campanha presidencial têm acesso especial ao governo.
O Comitê de Comércio e Energia do Congresso, liderado por republicanos depois das eleições de 2010, tem investigado o caso Solyndra desde fevereiro. O painel solicitou emails internos da Casa Branca sobre o tema – material que os repórteres ajudaram a decifrar para os leitores. Em um dos emails, a empresa alertava a Casa Branca sobre a investigação do Post. Carol e Stephens também obtiveram documentos por meio de fontes confidenciais e ouviram consultores para ajudar a analisar qual era a situação da Solyndra na época da visita de Obama. A conclusão foi que nem sempre o governo é responsável e transparente como parece, e deveria, ser.
Laços políticos
A cobertura do Post começou porque Carol, Stephens e a editora de política e governo do Post, Marilyn W. Thompson, analisaram as visitas do presidente às empresas em todo o país em 2009 e começo de 2010. Eles haviam notado que Obama estava visitando empresas de tecnologia limpa e muitas delas tinham laços políticos com ele. Dois fundos de investimentos ligados a George Kaiser, grande contribuinte para a campanha de Obama de 2008, por exemplo, controlavam 39% da Solyndra. E Kaiser é um visitante frequente da Casa Branca. Ainda assim, assessores do governo e o próprio Kaiser garantem que ele nunca fez lobby ou falou sobre a Solyndra com oficiais do governo, e até agora não apareceu nenhum email que desmentisse esta afirmação.
Por outro lado, assessores diretamente ligados ao presidente foram alertados sobre os problemas da empresa antes da visita de Obama, e mesmo assim ela aconteceu. Agora, o FBI e dois comitês do Congresso investigam o caso.
Carol e Stephens também não desistiram de investigar, mesmo diante dos obstáculos. “Falamos muito sobre o dinheiro dos contribuintes. Focamos nisso: nosso dinheiro foi gasto à toa?”, resume a repórter. Stephens completa o argumento da colega, lembrando que apuração jornalística não é algo mágico: “Siga o dinheiro, siga a influência, reporte o que aconteceu”.
Em maio, o chefe do departamento de comunicação corporativa da Solyndra, David Miller, escreveu um email à advogada Valerie Jarrett, principal assessora de Obama, afirmando: “Eu pensei que isso tinha chegado ao fim, mas um repórter do Washington Post, Joe Stephens, tem nos cutucado por vários meses sobre a investigação do Departamento de Energia e outras questões. Ele parece estar focado em se um de nossos investidores usou sua influência para conseguir a visita presidencial e, além disso, teria influenciado o Departamento de Energia de alguma maneira. Isso não é verdade e nós dissemos a ele repetidamente que não é o caso”.
Mas Stephens e Carol, diz o ombudsman, “não aceitaram não como resposta” e continuaram a buscar informações. E é por este tipo de jornalismo, afirma ele, “duro independente de quem esteja no poder”, que o Post deveria ser conhecido. “Ele merece respeito e grande audiência, e mantém o governo responsável”.