O que você conhece sobre a situação política de Moçambique? E as reivindicações trabalhistas dos portugueses nesse momento de crise internacional, você sabe quais são? Essas questões, a princípio distintas, dizem respeito à realidade de países que compartilham algo muito intimamente com o Brasil: o idioma. Foi para aprofundar a capacidade de interpretação das dinâmicas sociais dos países lusófonos e incentivar as colaborações na geração de conhecimento nos campos científico e acadêmico que foi criado o Observatório dos Países de Língua Oficial Portuguesa(Oplop).
O portal da internet reúne notícias e informações sobre os países que têm o português como idioma oficial – Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Timor Leste, todos integrantes da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
O observatório organiza e sistematiza o conhecimento sobre política, economia, cultura e realidade social dessas nações obtido a partir da cobertura das mídias nacionais e da imprensa internacional, além de livros e depoimentos.
O cientista político Renato Lessa, diretor do Instituto Ciência Hoje e coordenador do projeto, explica que o observatório pretende apresentar a realidade desses países aos gestores e formuladores de políticas públicas e de políticas externas, às suas comunidades acadêmicas – pesquisadores, intelectuais, universitários – e ao setor empresarial. “São países muito próximos do nosso, mas que conhecemos pouco”, destaca Lessa. “Há muito o que aprender com o intercâmbio de conhecimentos entre as nações lusófonas e muitas delas já são parceiros científicos e econômicos importantes do Brasil.”
Português como língua científica
Lessa explica que, mais do que informar, a preocupação do projeto é desenvolver a capacidade de interpretar as realidades, as questões e os desafios econômicos, políticos e sociais das nações que compartilham nossa língua, além de incentivar a geração de conhecimento sobre as dinâmicas de suas sociedades.
Para isso, o portal conta com um corpo de colunistas que inclui o jornalista Alberto Dines, o sociólogo Luiz Werneck Vianna e o próprio Renato Lessa. Também publica relatórios mensais que analisam grandes temas em evidência nos países lusófonos e disponibiliza referências bibliográficas de textos interessantes para a compreensão da realidade das nações que falam nosso idioma. “Como um espaço de acolhimento e estímulo da capacidade interpretativa, queremos integrar esforços na constituição de redes de pesquisa que gerem conhecimento sobre as sociedades no âmbito da CPLP e sobre sua interação internacional, com especial atenção à produção intelectual e científica desses países”, explica Lessa.
Um dos eixos dessas redes está na perspectiva de afirmação do português como língua científica internacional, tema recorrente na agenda dos Congressos Luso-Afro-Brasileiros em Ciências Sociais. “Nosso idioma é um dos mais falados do mundo, Brasil e Portugal têm uma produção científica expressiva e os países africanos lusófonos vêm formando comunidades científicas nacionais, o que reforça essa proposta”, avalia Lessa.
Processo de implementação
Para ele, uma das questões centrais dessa discussão seria a utilização do idioma nos periódicos científicos internacionais. “As revistas brasileiras, por exemplo, têm publicado cada vez mais em inglês, buscando sua internacionalização. A ideia, claro, não é abandonar a língua inglesa, mas também buscar extrapolar as fronteiras brasileiras através do português.”
Com menos de um ano de existência, o Oplop tem suas raízes nas Conferências Afro-Brasileiras em Ciências Sociais, que acontecem desde a década de 1980 e aproximaram as comunidades cientificas dos diversos países. Em 2004 e 2005, no contexto de aproximação entre Brasil e África em nossa política externa, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação criou os programas “Pró-África” e “Ciência Sociais CPLP”, que estimulam parcerias e colaborações científicas com países africanos e lusófonos, respectivamente. “O Observatório foi criado nesse contexto de aproximação entre as nações, para apresentar suas realidades e se constituir em mais um elemento de estímulo à geração conjunta de conhecimento”, afirma Lessa, que coordena atualmente as duas iniciativas.
O projeto é vinculado à Universidade Federal Fluminense e está em processo de implementação de bases em Portugal e em Moçambique, além de ter correspondentes em Angola e Guiné Bissau. O Instituto Ciência Hoje dá apoio logístico à iniciativa.
***
[Marcelo Garcia, do Ciência Hoje On-Line]