Domingo de manhã. Abrimos uma exceção aqui em casa e ligamos a TV. O motivo? Uma partida de futebol. Tratava-se de Santos versus Barcelona, pela final do Mundial Interclubes da Fifa (seria Federação Internacional de Falcatruas e Absurdos?). Não vi o jogo todo. Na verdade, vi apenas alguns lances do primeiro tempo, mesmo porque o sinal da TV falhou praticamente durante todo o segundo tempo.
O pouco que vi, no entanto, foi suficiente para me lembrar da Copa de 1974 – do jogo Holanda 2, Uruguai 0, por exemplo. Também pensei no que acontece quando um gato captura e mata um rato: se está com fome, ele logo devora o corpo da vítima. Pode acontecer, no entanto, de o gato matar o rato, mas não devorá-lo; ele às vezes apenas brinca com o corpo. Chega a um ponto em que a falta de reação parece entediá-lo e ele termina se desinteressando. O gato vai então cuidar de sua vida e o cadáver do rato fica ali, estendido no chão… Pois foi nisso que pensei após ter visto alguns lances do primeiro tempo de Santos versus Barcelona – um rato morto diante de um gato.
O Tostão cantou essa pedra há tempos: o Barcelona é diferente. E não é diferente apenas dentro de campo, é diferente também do lado de fora. Basta dizer que, em mais de 110 anos de história, o uniforme do time jamais havia sido manchado por uma logomarca de banco, companhia petrolífera, laboratório farmacêutico, montadora de automóvel ou qualquer outro patrocinador. (Essa tradição só foi quebrada em 2011.) O time espanhol pertence a um clube que tem identidade própria, sendo mantido basicamente pelo dinheiro que vem de sócios e torcedores (muitos brasileiros, inclusive), além da receita gerada pela transmissão das partidas.
Jogar bonito e ser campeão
Arrisco dizer o seguinte: esse time do Barcelona, que acaba de sagrar-se “campeão mundial” em cima da versão 2011 do time do Santos, venceria facilmente a disputa contra o badalado time do Santos que foi bicampeã mundial, em 1962 e 1963. (Venceria facilmente aquele time, o que não significa dizer que Pelé e companhia, nos dias de hoje, não pudessem compor um time ainda melhor.) Como também venceria a disputa contra todos os demais times brasileiros que ostentam o mesmo título: o Internacional, de 2006, o São Paulo, de 1992, 1993 e 2005, o Grêmio, de 1983, e o Flamengo, de 1981.
É comum que o campeão de um torneio jogue feio – como foi o caso do time da CBF (seria Casa da Bandalheira no Futebol?), em 1994 e em 2002. Todavia, para os que apreciam o espetáculo, é muito melhor quando um time joga bonito, sendo ou não o campeão. Foi o caso da Holanda, em 1974 e, até certo ponto, do Brasil, em 1982. O Barcelona de hoje mostrou como é possível combinar as duas coisas.
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[Felipe A. P. L. Costa é biólogo e autor de Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas (2003)]