Dois integrantes do Casseta & Planeta, Marcelo Madureira e Hubert, idealizaram um longa e chamaram Marcelo Adnet, humorista da MTV, para contracenar com eles. O resultado é uma comédia escrachada, pontuada por piadas de cunho sexual e chistes com fatos políticos.
O deboche de As Aventuras de Agamenon, o Repórter usa uma fórmula que os comediantes conhecem bem. O filme tira partido de fatos históricos para satirizar o jornalismo documental. É apresentado com entrevistas que simulam uma reconstituição biográfica.
A ficção refaz a trajetória de Agamenon, um personagem que foi criado há 23 anos por Madureira e Hubert para assinar uma coluna do jornal carioca “O Globo”.
“É uma coisa nossa, trabalhar em cima de fatos históricos, brincar com a realidade”, diz Madureira. “A gente mistura cenas gravadas, cenários que reconstituem ambientes históricos e gravações de arquivo”, diz Hubert.
Assim, o espectador vai ver o protagonista em uma orgia com Eva Braun cercada por nazistas; para se salvar do naufrágio do Titanic, o repórter se agarra ao pênis de Leonardo DiCaprio; e, numa conversa com Bin Laden, pergunta quem seria a cantora lésbica preferida do terrorista.
“A gente optou por não cair no alegórico, não queria ser ‘trash’ demais”, diz o diretor Victor Lopes.
Para reforçar essa tentativa, o filme traz depoimentos (todos fictícios) de Caetano Veloso, Fernando Henrique Cardoso, Jô Soares, Paulo Coelho e outros nomes que já foram citados, ou “sacaneados”, como lembra Hubert, pela coluna de Agamenon.
O colunista da Folha Ruy Castro (que já escreveu biografias de Garrincha e Nelson Rodrigues) interpreta o biógrafo não autorizado de Agamenon. Fernanda Montenegro faz a narração. Pedro Bial aparece como repórter. E Luana Piovani encarna um par romântico do protagonista.
Hubert conta que Paulo César Pereio também faria uma participação especial, mas faltou à gravação. “Isso pode acontecer quando se contrata alguém sem caráter”, explicou-se Pereio, por telefone, quando cobrado pela ausência, como conta Hubert.
As filmagens foram realizadas em oito semanas, no Rio, no início de 2011.
Com orçamento de R$ 6 milhões, sendo R$ 4,5 mi de leis de incentivo fiscal, o filme vai ocupar 250 salas do país.
***
Comédia decepcionante repisa velhas obsessões sexuais dos humoristas na TV
Inácio Araujo
Existe uma distância desconfortável entre a turma do Casseta & Planeta e o cinema.
Eles são capazes de criar um ambiente saudavelmente anárquico, que preserva de algum modo o espírito das antigas chanchadas, e de representar um descompromisso bem carioca com as coisas.
No entanto, As Aventuras de Agamenon, o Repórter se organiza mais ou menos como um conjunto de gags de um programa de TV do Casseta. Com uma diferença constrangedora: em vez de pular de um assunto a outro, temos aqui algo como um programa monotemático sobre o personagem.
E ele, Agamenon, sofre de intransponíveis limitações. A começar que as gags, em boa parte, se baseiam em antigas obsessões sexuais dos comediantes (bem antigas: a mulher que dá pra todo mundo, o sujeito de pau grande etc.). E se baseia, em outra parte, num jogo (também desgastado) entre o clichê (verbal, o mais das vezes) que se anuncia e a tirada que o contradiz.
Um problema complementar: o melhor de Agamenon vem dos efeitos especiais, em particular os celebrizados por Forrest Gump, o Contador de Histórias (1994).
Mas esses remetem ao tempo de atuação de Agamenon na imprensa, que grosso modo coincide com o tempo de existência do cinema.
De qualquer maneira, a maior parte de seus espectadores talvez não tenha familiaridade com Churchill para acompanhar as gags, não muito animadoras, sobre o britânico, ou o suicídio de Getulio Vargas etc.
Se a isso acrescentarmos o caráter descosido da narrativa (com história linear que não conduz a nada), teremos mais uma comédia decepcionante, embora talvez a mais aplicada, vinda desse grupo de comediantes que ainda não se recuperou da orfandade da morte de Bussunda.