Marcelo Adnet é referência de humor para as novas gerações do jornalismo mentira, ou jornalismo verdade com muito escracho. Mas não nega que muito de sua formação se deve a ilustres veteranos do humor nacional chamados Casseta & Planeta. Além do “jornalismo verdade”, cuja faculdade frequentou, o “jornalismo mentira” foi decisivo para sua profissão. Muito por isso, viver o jovem jornalista Agamenon Mendes da Silva e dividir a cena com os Cassetas é fato especial.
Estamos acostumados à ideia de O Casseta, como se todos fossem um grupo só. Como foi entrar para este clube e trabalhar só com dois deles?
Marcelo Adnet – Incrível. Jamais imaginei. Eles foram obviamente referência para minha formação. E a gente já se conhecia pessoalmente do teatro e da vida no Rio. E foi quando eu desfiz esta ideia de “Casseta, o grupo”, com a qual cresci. O Helio de La Peña é o cara com quem converso sobre o Botafogo, sobre correr, natação… Com o Marcelo Madureira, falo de política; com o Hubert, falo besteira mesmo; com o Claudio Manuel, falo sobre TV, humor na televisão etc. Um dia recebi uma ligação e eles disseram que tinha a ideia de fazer um filme sobre o Agamenon e que queriam que eu fizesse o papel dele jovem. Claro que amei.
E esta história de levar o Agamenon para o cinema também é inusitada.
M. A.– Sim. A coluna é um marco do humor brasileiro. E sem contar que escrever humor para jornal é diferente de para a TV e para o cinema. Foi um desafio e tanto. Sem contar que o humor do Agamenon escracha tudo e todos com muita coragem.
E falta humor politicamente incorreto à crônica jornalística?
M. A.– Sim. Agamenon é a própria pauta. Simboliza muito o caráter brasileiro. E por isso é que traduz tão bem este caráter em suas crônicas. E o tipo de jornalismo opinativo escrachado e engraçado que ele faz, do jornalistão, que conta histórias e até vira pauta, tornou-se se algo meio passado. E foi esta caretice que me afastou do jornalismo. Sou jornalista formado pela PUC-Rio. Para mim, um cara super criativo, era muito difícil ficar no lead, quem, que, quando… Imagine a minha frustração na faculdade, um cara como eu sem poder improvisar uma virgula, dar opinião…
E o cinema? Entrou para ficar?
M. A.– Cada vez mais. Estou filmando Os Penetras, de Andrucha Waddington, vai ser muito bacana. Pela primeira vez participo da confecção de um roteiro, em parceria com Eduardo Sterblitch, o César Polvilho e Freddy Mercury Prateado do Pânico na TV. O Andrucha é um cineasta apaixonado, que realmente se envolve muito e, assim, deixa todo mundo envolvido. Cinema tem a ver com isso. Cinema, paixão, família. Isso me faz pensar em um dia fazer um filme meu.
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Agamenon e seu “talento”, desse tamanhinho, ó
Luiz Carlos Merten
Já virou regra do mercado – todo começo de ano tem havido a estreia de um blockbuster brasileiro que chega para arrebentar. As Aventuras de Agamenon é a bola da vez e a curiosidade é saber se o filme será a confirmação da regra ou a exceção que vai contestá-la. Afinal, O Palhaço, de Selton Mello, já mostrou que existe uma terceira via para o cinema brasileiro, que não precisa ficar entre o filme miúra, de autor, e a comédia descerebrada, como esta. É perda de tempo assinalar que Agamenon é grosseiro, vulgar. Se o filme fracassar, não será por isso. As aventuras do repórter, além de episódicas, são tratadas de forma realmente isolada. É como se houvesse uma pausa entre uma e outra. O ritmo cai por terra. Algumas coisas são ‘quase’ divertidas. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dá seu depoimento sobre a contribuição de Agamenon à consolidação da democracia no País. Sério, FH revela-se melhor ator do que Caetano Veloso, que parece constrangido em sua fala. E ambos não são páreo para Ruy Castro, quando mede o tamanho do talento de Garrincha, nem Nelson Motta. Este tem dado tantos depoimentos que se pergunta, perplexo, para que filme está falando agora. Tão divertida quanto essa é a cena do pingue-pongue com Bin Laden. É pouco para um blockbuster, e ainda são piadas sofisticadas demais.