Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A tecnologia a serviço da liberdade de informação

A Síria está fora dos limites para jornalistas, especialmente os de TV. Mas os protestos diários em Hamoryah, subúrbio de Damasco, podem ser vistos ao vivo via web, por meio de vídeos postados por celulares de moradores.

Quando o regime líbio proibiu a presença de repórteres estrangeiros no início dos protestos contra o regime, no início do ano passado, um empresário chamado Mohammed Nabbous, que já havia instalado um kit comercial de satélite, colocou no ar vídeos por meio do site Livestream. Por um tempo, estas foram as únicas imagens da Líbia – Nabbous foi morto em março quando cobria um tiroteio. Outro site de streaming de vídeo, o Bambuser, hospedou mais de 100 mil vídeos do Oriente Médio e do norte da África em 2011.

A tecnologia transforma qualquer pessoa com um celular moderno em um cinegrafista e uma emissora internacional, impactando o processo de apuração de notícias. Durante os protestos contra as fraudes eleitorais no Irã, em 2009, o grupo de direitos humanos Access Now recebeu vídeos que mostravam milhares de pessoas nas ruas, enquanto a rede de TV americana CNN, cautelosa por conta das fontes não oficiais, usou vídeos aprovados pelo governo que davam a impressão de que os protestos eram bem menores. Agora, a página de jornalismo-cidadão da CNN, chamada de iReport, mostra fotos de leitores.

Para um vídeo ter impacto, deve capturar uma imagem memorável, envolvendo o heroísmo dos manifestantes, injustiça de autoridades ou ambos. Gravar estas imagens é algo difícil e raro e a presença de câmeras pode deixar os malfeitores mais cuidadosos. Além disso, os vídeos devem ter autenticidade comprovada. Além da contribuição do jornalismo cidadão, tecnologias mais exóticas também estão se inserindo no jornalismo, como os aviões teleguiados, mais baratos e práticos do que helicópteros e que fazem imagens aéreas.

Os resultados de uma imagem

Estas imagens conseguidas fora dos meios tradicionais das empresas de comunicação não servem apenas para alimentar os noticiários. As filmagens do funeral do tunisiano Mohammed Bouazizi, que ateou fogo no próprio corpo depois de ser impedido de vender frutas na rua, provocaram o descontentamento generalizado que acabou por tirar o presidente do poder. No Egito, vídeos de protestos mostraram aos cidadãos que eles não estavam sozinhos na resistência contra o regime. Por outro lado, imagens de agressões policiais na Síria não impediram autoridades de matar cerca de cinco mil pessoas desde que as manifestações começaram.

A organização israelense de direitos humanos B’tselem distribuiu, por anos, câmeras a palestinos nos territórios ocupados. As filmagens feitas por eles levaram o Exército israelense a investigar acusações de abusos por seus soldados. Mas vídeos de ataques a fazendeiros palestinos só encorajaram a mudar o horário das invasões das fazendas para a noite.

O Ocupe Wall Street é provavelmente um dos protestos mais documentados do mundo. Quando um policial jogou spray de pimenta em uma fila de estudantes em uma universidade na Califórnia, há dois meses, foi filmado de quatro ângulos ao mesmo tempo. Um usuário no YouTube sincronizou todos os vídeos para mostrar que a reação não foi provocada. Ainda assim, o policial foi punido apenas por suspensão remunerada.

Para proteger os cidadãos e a autenticidade das informações, o Guardian Project e o Witness, dois grupos sem fins lucrativos, estão desenvolvendo um software chamado Obscuracam, que permite que usuários de celulares façam o upload de vídeos sem metadata (que incluem informações do usuário, como coordenadas de GPS) e com rostos pixelados, para que suas identidades não sejam reveladas. Informações da Economist [14/1/12].