Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Por que duvidam da evolução

No dia 22 de janeiro, a Folha de S. Paulo publicou um artigo do físico Marcelo Gleiser intitulado “Por que duvidam da evolução?”. Gleiser começa apresentando dados de uma pesquisa do Gallup segundo a qual apenas 39% dos americanos “acreditam na teoria da evolução”. Em seguida, ele afirma: “Quanto mais crente, maior a desconfiança em relação à teoria de Darwin.” Mas o contrário também é verdadeiro: quanto mais ateu, maior a aceitação do darwinismo como fato, possivelmente porque o darwinismo (se corretamente compreendido) se trata de uma teoria naturalista ateia – mesmo que alguns religiosos tentem se convencer do contrário, ou seja, de que seria possível hibridizarevolucionismo com a Bíblia. Criacionistas bem informados não têm receio de ler a vasta literatura evolucionista e ateia disponível no mercado; curiosamente, são poucos os evolucionistas com quem tenho conversado que admitem ter lido um ou dois bons livros criacionistas. A verdade não precisa temer o confronto e o pesquisador sincero deve estar disposto a seguir as evidências, levem aonde levarem.

Gleiser continua argumentando: “Por outro lado, a evidência em favor da evolução também é indiscutível. Ela está no registro fóssil, datado usando a emissão de partículas de núcleos atômicos radioativos. Verdade? O registro fóssil mostra que as inúmeras formas transicionais que deveriam existir simplesmente não existem; mostra também que a vida simplesmente “explode” com toda a sua complexidade no chamado período Cambriano; e mostra que a superposição de camadas se deu de maneira rápida e catastrófica, já que os extratos geológicos são plano-paralelos sem evidência na área de contato entre eles de erosão ou exposição às intempéries.

Informação necessária

“Rochas de erupções vulcânicas (ígneas) enterradas perto de um fóssil contêm material radioativo”, prossegue o físico. “O mais comum é o urânio-235, que decai em chumbo-207.” Mas por que Gleiser não se pergunta: Por que datar um fóssil a partir de uma rocha vulcânica enterrada com ele? Quem disse que a tal rocha tem a mesma idade do fóssil? E quem disse que o processo de decaimento do urânio-235 até o chumbo-207 se deu de maneira constante no tempo, intocado, de tal forma que possamos assumir que a taxa de decaimento nunca variou? Quem disse que podemos confiar nas estimativas com respeito às quantidades dos elementos pai e filho na amostra de rocha? E a atividade vulcânica, não teria promovido alterações nos relógios radioativos? “Por que duvidam da evolução?”, pergunta o título do artigo; por esse e outros muitos motivos.

Mas os clichês evolucionistas não terminam aí e Gleiser desta vez enverada pela biologia: “A evidência em favor da evolução aparece também na resistência que bactérias podem desenvolver contra antibióticos.” Mais uma vez esse argumento das bactérias… “Por que duvidar da evolução?”, pergunta Gleiser; porque seus defensores vivem trombeteando exemplos de microevolução – aceitos pelos criacionistas – como se fossem exemplo de macroevolução; porque os evolucionistas acreditam que uma baleia evoluir de uma ameba é a mesma coisa que uma bactéria adquirir resistência a antibióticos, muito embora continue sendo bactéria.

“Quanto mais se usam antibióticos, maior a chance de que mutações gerem bactérias resistentes [e é só isso, Gleiser]. Esse tipo de adaptação por pressão seletiva pode ser investigado no laboratório, sujeitando populações de bactérias a certas drogas e monitorando modificações no seu código genético.” Perfeito, e o mesmo tipo de investigação vem sendo feita há cem anos com as drosophila. Resultado? Clique aqui para conferir. Resumo da ópera: mutações promovem modificação ou perda de informação. Não se conhece um processo natural que traga à existência, do nada, informação complexa e específica necessária para a existência de vida, mesmo a mais “simples”.

Por que endeusar uma hipótese?

Então Gleiser volta à pergunta do artigo: “Pergunto-me por que a evolução causa tanto problema para tanta gente. Será que é tão ofensivo assim termos tido um ancestral em comum com outros primatas, como os chimpanzés?” Note como é típico este argumento evolucionista: as pedras parecem ter milhões de anos; as bactérias adquirem resistência a antibióticos; portanto, somos descendentes de um ancestral comum dos macacos e humanos (ancestral esse totalmente hipotético); isso é que é argumento non sequitur, mas o físico parece não perceber.

“Por que a evolução causa tanto problema para tanta gente”? Bem, na verdade, causa problema para aqueles que têm coragem de duvidar dela; para aqueles que, embora sejam chamados de “crentes”, resistem a crer numa teoria cuja fundamentação teórica é a filosofia naturalista, essa, sim, impossível de ser submetida ao método científico; causa problema para aqueles que pensam que a sociedade é democrática e que temos liberdade de expressão e, por isso, decidem manifestar sua discordância do establishment científico/educacional/político.

Então vem a comparação descabida: “Essa desconfiança do conhecimento científico é muito estranha, dada a nossa dependência dele no século 21. (De onde vêm os antibióticos e iPhones?)” Com todo respeito, mas isso é jogo sujo! Como Gleiser pode misturar tecnologias desenvolvidas por seres inteligentes e as hipóteses macroevolutivas naturalistas da biologia evolucionista? O que iPhones têm a ver com o suposto ancestral comum e com fósseis interpretados sob a lente darwinista?! Criacionistas não desconfiam do conhecimento científico – como Gleiser tenta induzir. Desconfiam, sim, de hipóteses metafísicas que tentam se passar por ciência experimental. Isaac Newton, Galileu Galilei e outros grandes cientistas do passado ajudaram a criar o método científico e não precisaram da evolução para fazer boa ciência. Agora quem pergunta sou eu: Por que endeusar essa hipótese e ficar tão chocado com aqueles que querem submetê-la à crítica? Não é exatamente assim que a ciência avança?

 “O problema parece estar ligado ao Deus-dos-Vãos, a noção de que quanto mais aprendemos sobre o mundo, menos Deus é necessário [clique aquipara ler uma parábola relacionada com essa ideia]. Os que interpretam a Bíblia literalmente [lá vem o físico dizer como se deve interpretar a Bíblia…] veem nisso uma perda de rumo. Se Deus não criou Adão e Eva e se não nos tornamos mortais após a ‘queda do Paraíso’, como lidar com a morte?Uma teologia que insiste em contrapor a fé ao conhecimento científico só leva a um maior obscurantismo. Mesmo que não acredite em Deus [deu para perceber], imagino que existam outras formas de encontrar Deus ou outros caminhos em busca de uma espiritualidade maior na vida.”

Termino parafraseando o que Gleiser disse no parágrafo anterior: uma teoria que insiste em contrapor a filosofia naturalista (que posa de método e confunde tecnologia com ciência) ao conhecimento científico só leva a um maior obscurantismo. E querem saber, Gleiser e Folha? Cada vez que leio um texto como esse, duvido ainda mais da evolução.

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[Michelson Borges, jornalista e mestre em teologia]