A mídia vem divulgando de forma acentuada o uso de tablets nas salas de aula e afirma que o Ministério da Educação vai distribuir estas maravilhas tecnológicas para professores do ensino médio. Em seu artigo na Folha On Line, Gilberto Dimenstein fica com um pé atrás em relação a esta tecnologia e sua contribuição real para o ensino em nosso país. No sentido real da educação, isso tem repercussão apenas midiática quando sabemos que, como diz o grande educador Rubem Alves, não se faz comida de qualidade apenas com boas panelas, pois o cozinheiro é mais importante.
É incrível como a educação é sempre desvirtuada em seu real sentido. Por que será que o Ministério da Educação não conversa a sério com os governadores e prefeitos no sentido de que haja o cumprimento da Lei do Piso? Por que não há investimentos maiores na formação dos professores em nossas Universidades, onde a formação de guetos ideológicos e de grupelhos acabam expulsando quem muitas vezes quer realmente trabalhar? Todos sabem que as seleções de professores nas Universidades geralmente estão sob suspeita, pois impera o subjetivismo e os interesses dos grupos de poder em nossas instituições de ensino superior.
Por outro lado, ainda é grande o analfabetismo digital que assola grande parte dos professores. Há muitos que sequer entendem, nem querem entender, a informática, o que acaba fazendo com que a tecnologia não seja utilizada a contento no processo ensino-aprendizagem. Claro que é importante uma medida de acesso às tecnologias, mas é vital que se promova a melhoria da autoestima dos professores, que estão, sim, magoados com a forma com que parlamentares, governos e judiciário trata os educadores em suas reivindicações justas e reais. Não vemos por parte dos poderes constituídos a construção do respeito aos educadores e não sentimos na sociedade uma mobilização real acerca do caráter da educação.
As armadilhas do capital
Nosso povo vem sendo tragado pela alienação de grande parte da mídia, que hoje prefere mostrar sangue, miséria e destruições ao invés de grandes feitos na educação. Os professores não querem apenas doação de instrumentos, mas querem saber o que fazer com esses instrumentos e querem garantir a geração de prazer na profissão com planos reais de Cargos e Carreiras, com o cumprimento fiel da Lei do Piso e com incentivo ao seu trabalho, onde seria importante e real se premiar por criatividade, e não por trabalhos repetitivos, enfadonhos e que não contribuem em nada para a melhoria de nossos jovens.
Recentemente, ao divulgar uma ação de um projeto que desenvolvo em minha escola que visa a garantir a reflexão crítica sobre os problemas ambientais(Projeto Ecogalera),ao invés de incentivo sofri repreensão da cúpula da educação do município de Fortaleza. Tal ação acaba promovendo certo desânimo nos professores, que veem que seus esforços não são reconhecidos e que muitas ações pedagógicas de fato não podem ser concretizadas pela falta de visão dos governantes. Vale ressaltar que tal projeto vem sendo desenvolvido com recursos próprios e com pequenas ajudas de algumas parcerias. A essência da educação está, sim, na vocação, mas apenas a vocação não consegue equacionar certos problemas que são reais. Em Fortaleza ainda se indicam diretores de escola através de escolha por vereadores e a terceirização corre solta em função de interesses meramente políticos, o que acaba inviabilizando a escola. Há ações que tiram os professores de sala de aula, quando seria melhor e mais eficiente premiar pela ação ativa do docente.
O certo é que nossa mídia destaca ações pontuais e paliativas, mas não mergulha a fundo na essência do processo educativo como um todo. Infelizmente, a mobilização pela educação pública, gratuita e de qualidade ainda não alcançou nem mesmo os próprios professores, que ainda têm que custear sua própria ação pedagógica. O uso de equipamentos nas escolas ainda é dificultado pelas gestões que não têm compromisso real com o processo educativo como um todo. Quem ocupa cargos de gestão pouco lê, não se antena com as mudanças da educação, tem apenas o interesse salarial e muitas vezes sequer vão às escolas diariamente. O quadro da educação só muda se mudarem as cabeças ou as pessoas que infelizmente estão embriagadas pelo consumismo, pelo egoísmo e pelas armadilhas do capital, que é voraz e destrói muitas vidas e interesses em nome do lucro. Assim não dá…
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[Francisco Djacyr Silva de Souza é professor, Fortaleza, CE]