É da pretensão do jornalista ou ensaísta escrever porque entende do assunto. Mais sincero seria escrever porque pretende entender do assunto. Uma maneira prazerosa de, simplesmente, organizar todas as ideias, atrás de coesão e coerência. Jornalistas e ensaístas possuem essa pretensão de ensinar, elucidar, esclarecer e, quase nunca, preferem aprender. Criam-se especialistas em cadeiras de redação ou escritórios. Especialistas de ouvir falar sobre determinado assunto e, então, a sociedade passa a assumir que este profissional é um ás em tal aspecto.
Cada vez mais, mais especialista. O que é um grande paradoxo nesse mundo que se vangloria de cada vez mais globalizar-se. Assim, escolhe-se dentre as opções nas redações algum qualquer que gosta ou se diz entendido da “pasta” (como economia, polícia, futebol ou política). Alguém incapaz de fazer qualquer ilação ou relação entre as pastas. Essas pessoas passam até a se transformarem em verdadeiros ícones do assunto, ganhando dinheiro ou prestígio em palestras ou debates sobre aquilo que se disse ser entendido. Aos ensaístas, uma vantagem. A maior parte deles se debruça bastante tempo em livros e outros documentos relacionados ao assunto sobre o qual pretendem falar.
O problema
Aos jornalistas, nada mais que 30 ou 40 minutos em leituras superficiais de releases, pesquisas ou sítios da internet encontrados via Google. Isso, todos os dias. E, então, exímios especialistas em meio ambiente, polícia, futebol, economia, música, teatro e quaisquer outras coisas formadas em uma sala barulhenta, com ar condicionado e um computador. Em um sistema que dá um prazo – normal – de duas ou três horas ou – em especial – de uma semana ou um mês para dissertar sobre os fatos mais relevantes. Coisas que um especialista, de fato, faz durante uma vida inteira e ainda disserta para aprender mais sobre.
A culpa até pode ser do sistema imposto ao jornalismo. E, então, pouco se pode fazer. O problema maior é que os jornalistas acreditam nisso. Acreditam que são especialistas, fazem campanha, realizam palestras sobre os temas e, no fim, pouco sabem até mesmo sobre jornalismo. Ou principalmente sobre jornalismo. A profissão e os jornais seriam melhores se jornalistas fossem tão somente especialistas em jornalismo e não pensassem ou fizessem economia ou política em seus malfadados textos, reportagens e questionamentos.
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[Vandré Abreu é jornalista, Goiânia, GO]