Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Terminologia da prática

A comunicação (corporativa ou não) insistentemente está atrelada a conceitos que se tornaram palavra de ordem: engajamento, alinhamento, ações coordenadas e integradas. Entretanto, como os conceitos podem ser verificados nas ações postas no dia a dia?

Dentre a papelaria e as ideologias que não cabem nos bits, os comunicadores com síndrome de Pink e Cérebro despejam todos os dias as estratégias para pontuar o que é, ou não, interessante no cotidiano; e pintar o antigo de vanguarda, disparar interpretações alternativas para conceitos e fatos. O público sucumbe sempre, mesmo quando alega não o fazer. Trata-se de um automatismo sutil. O resultado está nos padrões de mobilização popular e de consumo.

Cada vez mais nas mãos do que é eletrônico, vivemos com o pânico de ouvir a recorrente frase “o sistema caiu”. Engraçado, mas diante da queda do sistema da TAM (na sexta-feira, 2/3) não vi nenhuma matéria dos grandes jornais (Estado de S.Paulo,Estado de Minas, Folha de S.Paulo) com um foco mais abrangente (que vá além do jargão “quero ver como vai ser na Copa”). Essa frase (“o sistema caiu”) significa atraso, impotência, perdas e danos. No entanto, diante do colapso das ferramentas criadas para tornar o dia a dia mais ágil, constatamos a necessidade de nos reinventar; encontrar soluções para educar e manter o fluxo social.

Quem criará as soluções? Quem as divulgará? As cifras controlam as decisões sobre o que é ou não bom para a sociedade. A revolução industrial já não cabe nos livros de história e extrapola o que se pode controlar. Indústria da seca, indústria da miséria, indústria das emendas parlamentares, indústria dos votos comprados, indústria do consumo, das rodovias sem reforma, da violência, do sexo, das drogas, do futebol et coetera.

Interrogações e reticências

Do outro lado do balcão, os jornais têm ganhado atualmente muitos leitores em função de um kit básico da mídia: boas narrativas, distribuição otimizada, interatividade e preço de capa, além da grande oferta de tragédias (humanas e ambientais). A disponibilização em mídia eletrônica tem contribuído para manter leitores em uma nova plataforma de acesso a conteúdo, e também para fidelizar alguns olhos que passam pelas bancas em busca de identidade. Sustentar-se é preciso, agora e amanhã, mas do que nunca; novamente as cifras.

Assessores ou lobistas? Afora a discussão defendida há anos pela Aberje e a luta pela regulamentação das profissões, é preciso refletir além de terminologias. Responsabilidade social é algo incrustado na filosofia de desenvolvimento. O modelo truculento e imediatista de progresso precisa ser substituído por ações colaborativas e posicionamento transparente ao agregar valor ao negócio (veículos de comunicação e empresas) sem ferir ainda mais a sociedade. Como se portam os assessores e lobistas diante de temas de utilidade pública? E os repórteres?

É necessário conhecer para crescer; Não basta criar estratégias de escritório, por trás das mesas e em frente a aparelhos ruidosos de ar condicionado. Os comunicadores precisam personalizar o reconhecimento. Falar da massa considerando o grau de individualidade existente nela. Mobilizar pela sensibilização? Após conhecer como o público cria significado e utiliza a linguagem, interagir deixará de ser uma ferramenta de controle velada e passará a representar um processo de comunicação menos corrosivo.

As interrogações são as sementes de uma boa pauta e as reticências a garantia da continuidade. Façamos!

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[Rudson Vieira é jornalista, Coronel Fabriciano, MG]