Faça o que eu digo, não o que eu faço. A frase se encaixa com perfeição ao presidente da Editora Abril, Roberto Civita. Em interessante entrevista publicada nesta sexta-feira no caderno de fim de semana do jornal Valor Econômico, ela exalta a mídia online. Diz textualmente: “O futuro é digital, não tem, não faz sentido que não seja. É mais simples, é mais barato. Envolve não cortar árvore, gastar diesel, não ter problema com a reciclagem”. Civita, que publica revistas como Veja, Exame e Claudia, prossegue: “O que importa não é a plataforma, é o que temos a dizer, para ensinar, para entreter. Não é o papel e a tinta.”
Belo discurso, mas a prática na Editora Abril é completamente oposta. Basta acessar os sites de assinantes de todas as revistas da empresa para constatar que as assinaturas digitais – que não envolvem custos com papel, tinta e distribuição – são mais caras do que as assinaturas impressas. No caso de Veja, uma assinatura digital, por um ano, sai por seis parcelas de R$ 71,15. A assinatura digital custa seis de R$ 81,50. E até o combo impresso mais digital é mais barato do que a assinatura apenas online. O mesmo ocorre em todas as revistas da Abril.
Empurrando papel
Recentemente, tentei assinar apenas as versões digitais de duas revistas da Abril: Veja e Exame. No telemarketing, a atendente me informou que a assinatura online é mais cara porque a tecnologia é muito sofisticada. Mentira. Veja e Exame usam a mesma tecnologia Woodwing, que é também aplicada no aplicativo do Brasil 247. Um app que não custou mais do que R$ 80 mil no passado e que já foi completamente amortizado. Ou seja: a tecnologia online não representa meio porcento de um dia de impressão nas gráficas da Abril. Além disso, não há o custo de distribuição nem o risco de que motoboys sejam atropelados nas ruas das grandes cidades.
Portanto, sempre que alguém estiver disposto a assinar qualquer revista da Abril, não caiam na conversa fiada de que a tecnologia online é mais cara. Como diz Roberto Civita, o mundo digital “é mais simples, é mais barato”.
Mas se é assim, por que os editores continuam empurrando papel para seus leitores? Porque inflando a tiragem, conseguem inflar a publicidade. Uma página de anúncio em Veja custa R$ 140 mil. No tablet, a revista circula praticamente sem anúncios, porque o mundo online é também transparente.
Demonstrada a falácia de Civita, não se enganem: sempre que um editor do passado exaltar o futuro online, ele estará mentindo. Na prática, fará de tudo para preservar sua vaca leiteira, que é o papel.
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[Leonardo Attuch é jornalista]