Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Sobre a Comissão da Verdade

Aproveitando este momento de visibilidade da Comissão da Verdade, poderiam ser feitos um ou mais programas sobre o que os diretamente interessados gostariam que fosse apurado. Eu, por exemplo, gostaria que fosse apurado quem assassinou e como foi assassinado meu marido, Lincoln Bicalho Roque, no DOI-Codi. Outra coisa que gostaria de saber seria quem me prendeu e me torturou no Cenimar. Como a imprensa poderia ajudar a Comissão da Verdade reverberando estas demandas? (Tânia Roque, cirurgiã-dentista, Rio de Janeiro, RJ)

 

Elogio, Erasmus e Roterdã

Primeiro, o elogio. Foi excepcional o programa de ontem (13/03) com a Miriam Leitão. Ágil, ponderado, interativo com o espectador em casa, através das ótimas e pertinentes questões colocadas em legendas durante a conversa com a repórter. Mas, a adversativa: será que foi feita à repórter a pergunta essencial exigida pela própria dinâmica do Observatório de imprensa que é: como explicar o acolhimento dessa matéria tão elogiável pela empresa jornalística que apoiou o golpe e serviu docilmente à loucura destrutiva da ditadura militar? Esta é inevitavelmente uma parte da memória (e da verdade) que a reportagem da Miriam e sua equipe de agora em diante impõe a todos, como a memória impõe a Roterdã, terra natal do excepcional intelectual renascentista que abordou a loucura pacífica, e não destrutiva, nunca mais esquecer o que foi e o que é depois da sua absurda destruição na 2ª Guerra. Transcrevo, de http://adluna.sites.uol.com.br/500/502.htm: “Em 1940, Roterdã planejava festejar o sexto centenário de existência oficial, sendo reconhecidos seus foros de cidade em 1340. Daquela época em diante, ela progredira ininterruptamente e, graças à sua ótima localização, tornou-se importante centro comercial, onde muitos imigrantes alemães e britânicos se estabeleceram. Antuérpia, sua grande rival, superou-a, mas somente até 1847, quando se deu a inauguração do Nieuwe Waterweg, o canal que liga Roterdã ao Mar do Norte. Daí em diante prosperou cada vez mais e seu povo confirmou a reputação de trabalhador, pondo à prova toda sua imaginação, energia e previsão. Mas a crescente prosperidade também atraiu mais gente do que a cidade podia abrigar com o mínimo de conforto, sobretudo no centro. Nesse ambiente de atmosfera e vitalidade maravilhosas, as famílias pobres, no entanto, estavam espremidas em casas pequenas demais, sem instalações sanitárias adequadas e foi ali que, em maio de 1940, deu-se o bombardeio. Por um terrível engano cometido pela Luftwaffe, 80.000 pessoas em Roterdã, aproximadamente 13% da população, ficaram desabrigadas. Mais de 2.500 lojas foram arrasadas. Cem destas, pequenas, vendiam água quente (Waterstokeijer). Tratava-se de uma característica dos bairros pobres em que as pessoas tinham de comprar água quente para lavar roupa e servir a outras necessidades rotineiras, pois não contavam com suprimento próprio do líquido. Cerca de 500 cafés foram destruídos, incluindo os da Schiedamse Dijk, e quase 70 escolas, juntamente com 21 igrejas, 12 cinemas, 20 grandes prédios de bancos, quatro hospitais e dois teatros. Tesouros artísticos insubstituíveis, especialmente os de propriedade particular, foram consumidos pelo fogo. O mundo inteiro perdeu sua grande biblioteca, a Leeskabinet, de Roterdã, uma das maiores da Holanda. A Igreja de S. Lourenço, construída no século 15, também foi destruída, restando apenas a parte externa, embora a estrutura fosse restaurada depois da guerra, por preço altíssimo e financiado com fundos privados. A Igreja de Sta. Rosália, o incomparável rococó de Roterdã, restaurada apenas alguns anos antes da Segunda Guerra, foi reduzida a escombros juntamente com a sinagoga construída em 1725 no Boompjes, outrora um cais orlado de belas árvores” (Marcio Gomes, médico, Rio de Janeiro, RJ)

 

Entrevista Miriam Leitão

Por que será que os militares falam a toda hora? No será porque no Brasil não houve punição, como ocorreu na Argentina? (Herivelto Cordeiro Silva, servidor público, Teresina, PI)

 

Rubens Paiva

A imprensa oligárquica e golpista, de quem a dona Leitão é fiel serviçal, tem “medo” premeditado de falar dos crimes da ditadura porque apoiou integralmente o golpe fascista de 1964. Os militares continuam exatamente iguais e os torturadores, a serviço dos Estados Unidos, anistiaram a si mesmos (Elmir Flach, bancário, Brasília, DF)

 

Comissão da Verdade

Fiquei bastante comovida com o debate de hoje e tive a grata surpresa de mais uma vez ver a Miriam retrocedendo até a época dos povos escravizados neste país. Com tamanha lucidez, ela tratou o tema com reconhecida competência e sensibilidade. Cadê a democracia racial? Cadê “qualquer democracia”? Ficamos com gosto de “quero mais” (Maria Olina Souza, pesquisadora da História e Cultura Africana, Rio de Janeiro, RJ)

 

Queda de Ricardo Teixeira

Fiquei estarrecido com a matéria no Jornal Nacional sobre a queda de Ricardo Teixeira! Independente de R.T. ser aliado ou não da Globo, sua obrigação fundamental como emissora jornalística é – sempre – ser imparcial. Por pouco não se pediu a canonização do São Ricardo. Esqueceu-se até que se R.T. “foi alvo de denúncias…” – a mais contundente e que levou à criação da CPI foi do próprio Jornal Nacional. O JN mentiu então ou mente hoje? É de causar asco tamanha desfaçatez. Também, esperar o quê de quem já teve coragem de “editar” até debate presidencial? (Antonio Carlos Santos, empresário, Santos, SP)

 

Programa do Jô desrespeita o Rio de Janeiro

Jô Soares e Lilian W. Fibe foram profundamente desrespeitosos com o Rio de Janeiro no Programa do Jô de ontem (14/03), exibido pela TV Globo. Até parece que São Paulo é um primor de segurança. Debochado e desinformado, o apresentador optou por fazer gracinhas que desqualificam o trabalho que vem sendo conduzido com seriedade pelo secretário José Mariano Beltrame e que já surte efeitos palpáveis para os cidadãos, especialmente para os moradores das favelas, onde houve a intervenção das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). O resgate da segurança é apenas um primeiro passo que terá que ser seguido por políticas públicas que assegurem o resgate da cidadania aos moradores das favelas, antes ocupadas pelo tráfico. E serviços como escolas, hospitais e agências bancárias (entre tantos outros) fazem parte desse pacote. Isso não significa, como ironizou Jô, que “o bandido agora não precisa mais se deslocar para assaltar o banco”. Não sou defensora do governo Cabral. Muito pelo contrário. Mas é preciso reconhecer que a realidade hoje é outra. Depois de desfiar preconceitos em cadeia mundial, o Programa do Jô precisa se retratar. Quem sabe isso pode ocorrer com um convite para entrevista endereçado ao secretário de Segurança do Rio? Que tal, também, falar das mazelas oriundas da crescente violência em São Paulo? Eu mesma, carioca de nascimento e de coração, só fui assaltada uma vez, exatamente na capital paulista. Jô Soares e Lilian W. Fibe (que disse ter medo de vir ao Rio de Janeiro) podem, também, desembarcar na Cidade Maravilhosa e experimentar um passeio a pé pela cidade. Ou melhor, devem eleger uma ou mais comunidades com UPPs para fazerem observações in loco sobre a situação atual nessas localidades e sobre o grau de satisfação dos moradores. Sejam bem-vindos (Isabel Pacheco, jornalista, Rio de Janeiro, RJ)

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