Cometi um erro escandaloso no último artigo publicado neste Observatório da Imprensa sob o título “Não se faz mais jornalismo como antigamente”. Falava dos assuntos de grande importância registrados no interior paulista e que não merecem cobertura da grande mídia nacional. Entre eles, destaquei o caso da febre maculosa, doença de alta letalidade com vasta incidência na região de Campinas, transmitida pelo carrapato estrela, hóspede ou parasito da capivara. Meu erro foi este: chamei o carrapato estrela de “hospedeiro” da capivara. Um descuido, é claro, entre tantos outros que ocorrem desde que comecei a escrever para a mídia digital.
Atento, o leitor Ricardo Pereira mandou-me o torpedo (sim, teve o efeito de um verdadeiro torpedo) em comentário postado no pé do artigo: “Coitado do carrapato estrela, ser hospedeiro de uma enorme capivara”. É a face cruel das novas mídias: você é corrigido em público e sem piedade. Erro e correção se eternizam na web, vagam pelo mundo, ficam para a posteridade. O mal que os homens fazem vive depois deles; o bem é enterrado junto com seus ossos.
Sinto falta da lauda e da máquina de escrever. Lia e relia meus escritos. Tinha bem mais segurança naquilo que escrevia. Por não ser Juan Rulfo, devo ter cometido muitos erros, talvez nenhum tão crasso quanto este, de colocar um minúsculo carrapato a hospedar uma capivara. Mas sou consciente de que os cometi. Estão confinados nos arquivos dos grandes jornais e só eventualmente poderão ser identificados por um pesquisador solitário.
“Mentiras que parecem verdade”
Tento me adaptar a escrever no computador, mas é difícil. A máquina nos impõe a pressa e nos obnubila os olhos. Oferece-nos um vasto campo de pesquisa pelos dicionários e glossários eletrônicos, mas não conseguimos nos desgarrar da premência. É insuportável o exercício de reler e revisar algum escrito na máquina. Ricardo Pereira que me desculpe, mas para mim, na minha idade, ao escrever para as mídias digitais, os erros são quase imponderáveis. São idiossincrasias de quem tem a vista cansada.
Cabe, entretanto, às novas gerações de jornalistas e escritores, preocuparem-se mais com os erros nas mídias digitais. Os erros formais, da gramática, como diria o próprio Ricardo Pereira, são geralmente perdoáveis. Imperdoáveis são os erros de conteúdo. Neste caótico mundo da rede mundial, milhões de pessoas não têm preparo para separar o joio do trigo. Acabam por assimilar como verdade uma profusão de mentiras.
A comunicação corporativa, este oceano por onde hoje navego, é a grande vítima do que Umberto Eco chamaria de “mentiras que parecem verdade”. Os conceitos estão invertidos. A solução se afasta dramaticamente do ponto. A manipulação de conteúdos, proporcionada pelos especialistas de araque, é um fenômeno de alta relevância hoje nas redes sociais. Lentamente, a web transfere a própria desordem para o âmbito das organizações.
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[Dirceu Martins Pio é ex-diretor da Agência Estado e da Gazeta Mercantil e atual consultor em comunicação corporativa]