Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Retaliação pura e simples

“Estamos deixando nossos parceiros na mão.” (Confissão do general-comandante da Força Aérea dos Estados Unidos)

Está na cara, para quem tem olhos pra enxergar e ouvidos para escutar, que o cancelamento pelo governo americano da compra de aviões Super Tucano da Embraer não passa de uma retaliação. As justificativas apresentadas para desfazer o contrato são pura fajutice. Conversa mole para boi dormir, como se diz na saborosa linguagem roceira. O próprio comandante da Força Aérea dos Estados Unidos, general Norton Schwartz, por mais que se esforçasse, não conseguiu ocultar o constrangimento, consciente da inexistência de argumentos técnicos que pudessem embasar a decisão tomada por Washington. “Uma das coisas com as quais estou mais triste, sem mencionar a vergonha que esse fato traz para nós, como Força Aérea, é que estamos deixando nossos parceiros na mão aqui”, disse Schwartz. Os parceiros deixados na mão a que se refere é a Embraer, que por conta do contrato montou fábrica na Flórida para o melhor atendimento dos clientes.

E por que mesmo a contundente represália? Elementar, dr. Watson. O governo dos Estados Unidos está mandando para bom entendedor recado curto e grosso, quanto à disposição brasileira em promover o reaparelhamento da frota da FAB. Sem essa, é o que manda dizer, de optar por jatos franceses Rafale, ou por caças suecos. Os aviões “recomendados” são os F-18, da Boeing, disponha-se ou não essa empresa norte-americana a trazer, com os aviões, tecnologia de ponta para sua fabricação em território brasileiro. Simples, assim.

Resta saber agora como o governo brasileiro irá se comportar diante dessa provocativa encenação de cunho político-comercial.

Gleisi Hoffmann, ministra-chefe da Casa Civil da Presidência, determinou ao ministério das Relações Exteriores que questionasse o governo do Irã sobre a prisão e condenação à morte do pastor evangélico Youssef Madarkhani. A condenação do religioso foi “motivada” pela circunstância de haver se convertido do islamismo ao cristianismo.

A grande mídia brasileira praticamente ignorou esse posicionamento brasileiro, firme e vigoroso, coerente com a política de direitos humanos, de óbvia repercussão internacional, de crítica contundente a mais esse atentado à liberdade praticado pelas autoridades persas. Muito estranhável esse procedimento dos órgãos de comunicação, sobretudo quando se tem presente que, em ocasiões recentes, muitos deles abriram as baterias para reprovar de forma acerba o governo brasileiro por “mostrar-se tolerante” com violações aos direitos fundamentais no país dos fanáticos aiatolás.

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[Cesar Vanucci é jornalista, Belo Horizonte, MG]